sábado, 25 de novembro de 2023

Gestão turística do património cultural

O Convento de Cristo tão perto e tão longe

Pessoal do Convento de Cristo transferido da DGPC para uma empresa pública | Tomar na Rede

Segundo o Tomar na rede, os 30 funcionários do Convento de Cristo acabam de ser transferidos da DGPC-Direcção-Geral do Património Cultural, para a empresa pública Museus e monumentos de Portugal, EPE. De um sector do Estado, para outro sector do Estado. Porquê e para quê? 
Segundo a justificação oficial, para implementar "práticas de gestão inovadoras que agilizem o cumprimento da missão destes museus, monumentos e palácios, conferindo-lhes maior autonomia funcional, possibilitando a renovação das equipas, a eficiente gestão dos recursos e do património, bem como a valorização do seu elevado potencial cultural, educativo, científico e turístico."
Aquela expressão "agilizem o cumprimento da missão", leva a pensar em militares operacionais, que talvez seja a origem do autor do troço frásico. Mais prosaicamente, usando vocabulário menos bélico, quando há 40 anos o autor destas linhas foi abordado para dirigir o Convento de Cristo, pelo então governador civil eng. José Frazão, a mando do governo socialista, alegou que o monumento nabantino tinha necessidade naquela altura  de dois responsáveis em simultâneo. Um arquitecto, para o património edificado, e um profissional de turismo para a adequada exploração do conjunto monumental.
Não sendo possível naquela circunstância alterar a situação vigente, optou-se pela nomeação de um arquitecto, que veio a favorecer bastante o Convento de Cristo, hoje em dia sem grandes problemas de conservação e restauro, excepto no que concerne ao "Convento velho -Paços do Infante" e ao Aqueduto dos Pegões. 
Quatro décadas passaram entretanto, e estamos por assim dizer na mesma. Evoca-se a necessidade de "práticas de gestão inovadoras", mas opta-se pela simples mudança de tutela do pessoal existente. Fase transitória indispensável? É o que falta saber. Vem no entanto à memória a agora corriqueira frase de Lampedusa "é preciso ir mudando qualquer coisinha, para que tudo possa continuar na mesma".
Neste caso do Convento de Cristo, pode até vir a ser bem mais grave, se tivermos em conta o princípio de Lavoisier, segundo o qual "as mesmas causas, nas mesmas circunstâncias exteriores, produzem sempre os mesmos efeitos". Por conseguinte, o mesmo pessoal, no mesmo monumento, com a mesma formação profissional, o mesmo horário semanal e os mesmos vencimentos, só podem continuar a fazer o mesmo que faziam até agora. Adeus práticas de gestão inovadoras? Logo se verá. E não será muito grave. Turista em geral não reclama, porque está de férias e não quer chatices. Além da barreira da língua, quando é o caso A Câmara de Tomar nada diz nestas matérias, porque está cá em baixo e o Convento está a um nível bastante superior, em termos geográficos.
A antiga Casa da Ordem, podendo parecer que não, é o mais complexo monumento português. Edificado sem plano de conjunto ao longo de cinco séculos, engloba construções de cinco épocas diferentes, em quatro pisos distintos, com deficiente articulação. Daqui resultam  problemas de acesso, problemas de entrada, problemas de segurança, problemas de controle, problemas sanitários, problemas de continuidade das visitas, problemas de horário e dias de funcionamento problemas de formação e problemas de direitos dos funcionários. Para não mencionar problemas de estacionamento e de segurança no exterior, da responsabilidade da autarquia.
Num outro país, em Espanha ou França, por exemplo, as duas maiores potências europeias na área turística, perante um tal rol de carências e outras dificuldades, é costume optar-se pelo recurso a pessoas ou entidades credenciadas, no sentido de produzirem relatórios circunstanciados tipo observação > diagnóstico > proposta terapêutica. Em Portugal, infelizmente, (em Tomar nem vale a pena falar), não há essa cultura de recorrer a consultores externos. "A gente cá se desenrasca", "Somos tão bons como os melhores", é quase sempre a ladainha da casa. Não admitem que há problemas internos. Com os resultados que estão à vista, de quem os queira e saiba ver.
Resta portanto aguardar, enquanto se vai observando a implementação da reforma agora iniciada pelo governo na área do património, para depois comparar com os resultados obtidos pela Parques de Sintra Monte da lua, EPE, que há anos vem gerindo os monumentos de Sintra e o Palácio de Queluz, com avaliação três estrelas num conjunto de cinco, pelos órgãos da especialidade e ultimamente alguns conflitos laborais.



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