Copiou-se este cartaz do Tomar na rede, porque ele permite duas coisas. Por um lado dizer finalmente bem de algo, contrariando assim quem afirma que Tomar a dianteira só sabe dizer mal. Por outro lado, mostrar que, por vezes, basta um pequeno sinal para mostrar uma grande mudança.
Começando então por dizer bem, cabe referir antes de mais que Tomar a dianteira nada conhece do prometido espectáculo de revista, dado isto estar a ser escrito a sete horas de avião de Lisboa. O que não impede de aconselhar a ida ao referido teatro de revista. Porquê? Por causa do tal sinal. Que eu saiba, é a primeira vez que uma colectividade local decide cobrar bilhetes de entrada, apesar de contar com o patrocínio da autarquia. Escreve-se apesar de, pois anteriormente houve quem tivesse tentado cobrar entradas sem sucesso, devido à oposição da senhora presidente. Foi designadamente o caso do Fatias de cá, durante o Festival de teatro.
Desta vez, ainda bem que a câmara não proibiu. Mostra assim uma nova faceta, muito importante para a evolução económica da cidade e do concelho. Com efeito, parecendo ser uma coisa de nada, cobrar bilhetes de entrada faz toda a diferença, tanto em termos comportamentais como económicos.
Na área comportamental, pagando uma entrada, cada cidadão fica a saber que nunca há nada grátis. Ou pagam apenas os utilizadores, no caso os espectadores, ou pagam todos os contribuintes, ou pagam ambos, como vai acontecer, visto haver em simultâneo bilhetes pagos à entrada e patrocínio da autarquia.
Por outro lado, no aspecto económico, há sempre duas hipóteses à partida, para avançar com qualquer iniciativa. Ou se cobram entradas e há por isso criação de riqueza, de valor acrescentado, de bens transacionáveis. Ou se depende exclusivamente de dinheiros dos contribuintes, (directamente do Estado ou via administração regional e local), o que impede logo à partida que haja qualquer valor acrescentado, ou criação de riqueza. Qualquer estudante de economia política aprende isto logo no início.
O bem conhecido economista e consultor Augusto Mateus, presidente do Conselho geral do Politécnico de Tomar, é assaz claro: "O importante é apostar numa estratégia de povoamento do território e de criação de riqueza, não tornando a sociedade dependente do Estado. Porque não há desenvolvimento económico e social sustentável se a maioria dos rendimentos depender da despesa pública." (Expresso, 10/11/2017, página 21)
O conceituado economista não o disse, mas convém acrescentar: A crise tomarense, com a preocupante hemorragia demográfica, resulta exactamente da falta de criação de riqueza, de valor acrescentado, num concelho em que a maioria dos rendimentos depende da despesa pública.
Concluindo, ajudem o grupo de teatro "Nabantin'ao palco", comprando bilhetes e enchendo o cine-teatro. Eles merecem, porque ousaram inovar, cobrando entradas e portanto criando valor acrescentado.. Doravante em Tomar, nada voltará a ser como antes na área da cultura. Renasce alguma esperança no futuro de Tomar, graças a gente assim.
Adenda
No Congresso da sopa também é usual cobrar entradas. Todavia, uma vez que o produto da bilheteira é entregue ao CIRE, trata-se simplesmente de uma acção de caridade mal assumida. O valor acrescentado entra imediatamente na esfera dos recursos públicos, através da autarquia, que financia o Congresso da sopa com o dinheiro dos contribuintes.
Há uma propensão generalizada nas pessoas para se preocuparem mais com os aproveitadores de benefícios, pertencentes às massas populares, do que com os biliões perdidos para os ricos, por exemplo, através dos paraísos fiscais. Tendem a ser mais exigentes com os grupos de baixo rendimento que exploram o sistema do que são com os de alto rendimento que fazem o mesmo.
ResponderEliminarNão sei se me faço entender. Pode não se encaixar bem no teatro pago ou à borla, mas tem muito a ver. Depende do ângulo de observação das atitudes sociais - nestas e noutras movimentações.