A coisa aconteceu aqui. Um comentador anónimo, com evidente arcaboiço cabeçal, resolveu adoptar o velho estilo das cartas da Guidinha, do saudoso Luís Sttau Monteiro, no igualmente saudoso Diário de Lisboa. Com uma capacidade que não está ao alcance de qualquer um, esgalhou duas belas peças irónicas sobre a realidade local. Sem pontuação e em suposta linguagem infantil, não são de fácil leitura, pois decerto também não foi essa a intenção. Mas fazem rir e levam a pensar, o que em Tomar não é pouca coisa, apesar das aparências. Como bem dizia o outro, aqui em Tomar as iludências aparudem.
Pavilhão multi-usos da Linhaceira, junto do qual vai ser construída a escola cuja edificação o autor dos dois textos critica vivamente, por não haver alunos para ela. (Foto Tomar na rede)
E foi exactamente o que aconteceu. Um leitor menos apetrechado para a leitura não teve quaisquer dúvidas. Abrigado no sempre confortável mas condenável anonimato, excretou esta sentença: "Além de não saber escrever e não saber o que diz o comentário anterior em nada esclarece. Pobre terra triste gente!"
Começando pela conclusão, a criatura nem sequer sabe copiar. Aquela exclamação de fecho é de Tomar a dianteira 3 e são duas frases: Pobre terra! Triste gente! Por conseguinte, devia haver no mínimo uma vírgula a separar as duas. Assim, acabou por adoptar, sem disso se dar conta, o mesmo estilo das peças que critica, intencionalmente desprovidas de pontuação.
Além disso, topa-se que o entendido crítico pretendeu escrever "comentador", pois o "comentário" não tem autonomia para esclarecer. Finalmente, as duas sentenças iniciais, "não saber escrever" e "não saber o que diz", denotam um egocêntrico tão limitado em termos de massa cinzenta, que nem sequer foi capaz de concluir que a incapacidade é dele, ao não conseguir interpretar duas peças algo árduas e pouco habituais, todavia curtas e acessíveis para leitores treinados.
Considera-se esta ocorrência assaz importante, porque é um exemplo acabado da mentalidade dominante em Tomar. Tal como aqui o autor dos textos críticos é que passa por idiota chapado aos olhos do palonço comentador anónimo, quando afinal é exactamente o oposto, também na boa sociedade tomarense abundam aqueles para quem a culpa é sempre dos outros. Os políticos que nos pastoreiam, por exemplo, são todos excelentes. Nunca erram e têm sempre razão. Os outros é que são uns malvados ranhosos da pior espécie.
Razão tinha aquela peixeira idosa do mercado do Bolhão, no Porto, ao aconselhar a filha, durante uma daquelas peixeiradas à nortenha, em que abunda o vernáculo: "Chama-lhe puta minha filha! Chama-lhe puta, antes que ela te chame a ti!"
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