quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Quando o PS era um partido de valores

Parafraseando o conhecido anúncio, eu ainda sou do tempo em que o Partido socialista defendia valores. Do tempo da manifestação da Fonte Luminosa, contra a unicidade sindical. Do tempo da Europa connosco e do Socialismo em liberdade. Onde isso já vai! Soares já não é, que antes, no exílio em Paris, passou maus bocados, às mãos de alguns mais tarde seus aliados. Mas sempre com coragem, com frontalidade. Assumindo as suas responsabilidades.
Lembro-me bem dele, na sala E113, da Universidade de Paris VIII, respondendo à malta do Palma Inácio, que o acusava de estar a soldo dos americanos e se preparava para o sovar. Alertado pelo barulho, pois era na altura monitor na biblioteca do Departamento de estudos ibéricos e latino-americanos, que ficava no mesmo corredor, acabei por sugerir que as duas partes fossem buscar a documentação que apoiava as suas posições respectivas, voltando a encontrar-se na mesma sala uma semana depois. Aceitaram e Soares livrou-se da prometida sova. Perguntou-me depois quem eu era e agradeceu-me a atitude. Apesar disso, nunca lhe apresentei a factura, mesmo depois do 25 de Abril. Não se enquadrava nem se enquadra no meu feitio. Nunca gostei de andar com medalhas penduradas, nem de debitar ocorrências de ex-combatente. Mas agora, excepcionalmente e com vontade de vomitar perante certas coisas, teve que ser, que já passou meio século.
Este intróito para melhor vincar a diferença abissal entre o PS e os dirigentes que conheci e os da actualidade. Como refere essa grande senhora do jornalismo que é Maria João Avillez "O certo é que... há um permanente afastar de qualquer responsabilidade, como quem enxota uma varejeira incómoda. Ou há uma fuga. Ou um mergulho num estado de negação."
Limitando-me a Tomar, porque este blogue é de e sobre a minha amada terra, confesso estar cada vez mais desalentado. Isto porque o município nabantino é dirigido por filiados no PS, o que nem sempre quer dizer socialistas, sendo cada vez mais frequentes os sinais preocupantes de uma síndrome fatal -a evidente alergia às responsabilidades.
Dado que escrevo sobretudo para manter a cabeça ocupada, já estou habituado e até conformado com a atitude dos senhores políticos locais. Nunca respondem a Tomar a dianteira 3 porque não é um media sério, nem  responsável, nem equilibrado dizem eles. Parece-me que a música é outra, bem diferente, mas aceitemos porque é o que temos (rima e é verdade).

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A árvore da qual caiu o ramo fatal

Aconteceu porém aquela desgraça na Rotunda. Um pacato cidadão, que estava sentado num dos muretes, foi atingido por um ramo de árvore, que lhe provocou ferimentos graves. Transportado para o hospital de Abrantes, foi intervencionado e ficou internado. Cerca de dois meses mais tarde, ainda internado no mesmo hospital, acabou por falecer.
Nestas condições, é evidente, salta à vista, que a causa do óbito foi a queda do ramo da árvore. No mínimo a causa remota. Porque, mesmo que tenha havido outra causa próxima, (só os médicos o poderão dizer), sem a queda do ramo não teria havido ferimentos graves, sem estes não teria havido intervenção cirúrgica seguida de internamento, e sem internamento não teria havido falecimento, nas circunstâncias em que ocorreu. Tudo muito claro portanto.
Menos para a senhora presidente da Câmara de Tomar. Questionada há pouco sobre a obrigação de indemnizar a família, para reparar minimamente o prejuízo causado, foi de uma secura chocante. Disse mais ou menos, (cito de cabeça), que a câmara só pagará caso se demonstre que a causa da morte foi mesmo a queda do ramo da árvore.
Inconformado, o ex-candidato Américo Costa conseguiu que a SIC abordasse o assunto, num dos seus programas de grande audiência. Mandaram mesmo uma equipa de reportagem a Tomar, com a missão de ouvir a senhora presidente. Em vão. Foi tempo perdido. Regressaram a Lisboa sem nada. Esperaram durante três horas, tendo entretanto sido informados que a senhora presidente estava numa reunião bastante demorada. E não havia mais ninguém autorizado a falar? Pois...
Pergunto eu, reles cidadão local, triste e envergonhado ante tal comportamento: Não respondem nem comentam o que aqui vou escrevendo, porque não se trata de um media sério, nem responsável, nem equilibrado. Agora a senhora presidente não respondeu à SIC porquê? Também não são sérios, nem responsáveis, nem equilibrados?
É próprio dos ditadores perderem o contacto com a realidade, mesmo quando são eleitos. Creio no entanto que, neste caso preciso, se trata antes da nova escola socialista -a alergia a qualquer responsabilidade por ocorrências negativas. 
Tentar salvaguardar a imagem para manter o lugar, é o que é. 

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