Além da qualidade, ou da falta dela, nos projectos agora em discussão pública, que felizmente está a ser bastante participada, há um outro aspecto que convirá ter em conta, porque me parece ter a primazia sobre os restantes. Falo de prioridades.
É sabido que, desde a nossa adesão à Europa, com os consequentes fundos europeus, a grande prioridade de todos os governantes, de Lisboa ao mais recôndito concelho, tem sido sacar verbas de Bruxelas. Pouco importa para que projectos. O que interessa é que o dinheiro venha, para se poder apresentar obra feita. Os resultados estão à vista: auto estradas sem utilizadores, edifícios públicos sub-utilizados, autarquias com instalações luxuosas para os eleitos, num país com graves lacunas na área do saneamento básico e das redes de distribuição de água. Para não falar na carência de meios aéreos de combate aos incêndios, que até Marrocos já tem.
Tomar não tem fugido à regra. Temos campos de ténis sem jogadores, pavilhões desportivos às moscas durante boa parte do tempo, pista de atletismo com seis faixas onde ninguém corre, uma fonte com jogos de água para refrescar, mesmo ao lado do rio que também refresca, uma barraquinha sem préstimo no Mouchão, o complexo da Levada praticamente fechado, pistas cicláveis sem ciclistas, porque sem continuidade, nem utilidade actual... Tudo isto num concelho em que pouco mais de 50% da população beneficia de saneamento básico, havendo mesmo a situação escandalosa de um sector urbano, à ilharga da autarquia, ainda ser servido pelos esgotos de colector único de três lajetas, tipo idade média, e abastecido de água através de condutas de amianto, que é um material cancerígeno, desde há muito proibido na União Europeia.
Apesar de tudo isto, numa infeliz demonstração de claro desnorte em termos de prioridades, a actual maioria submete à discussão pública projectos para requalificar a Várzea grande, reabilitar a Praceta Raúl Lopes e estabelecer pistas cicláveis na Estrada da Serra e nas Avenidas Nun'Álvares e Torres Pinheiro. Caso para dizer, em linguagem popular, que se não estão a reinar com o pessoal, imitam muito bem.
Pensem lá um bocadinho, respeitáveis senhores autarcas. Alguém reclamou o arranjo da Várzea Grande, onde muito pouca gente reside? Quais as vantagens práticas desse pretenso melhoramento, por exemplo em termos de estacionamento? Alguém pediu a reabilitação da Praceta Raúl Lopes? Quais os benefícios para a população, sobretudo para os automobilistas, que daí vão resultar? Não seria melhor, para já, limitar-se a cuidar do que resta da relva e das plantas? Duas pistas cicláveis na Av. Nun'Álvares? Um pista ciclável na Rua Torres Pinheiro? Uma pista ciclável na Estrada da Serra? Para que ciclistas? Onde estão as indispensáveis ligações, ou sequer condições para as implementar?
Tenham agora a bondade de pensar nos eleitores ainda sem rede de esgotos, ou com uma velha rede ultrapassada de colector único, nos consumidores de água dos SMAS, fornecida via condutas de amianto, na população sem condições de segurança à porta de casa, por não terem passeios, ou nos vários pisos asfálticos a precisar de assistência, mesmo em plena área urbana (Rua da Graça, por exemplo).
Se optarem por adiar as obras previstas, não se perde nada, ganha-se tempo e evitam-se despesas supérfluas. E ninguém vai reclamar. Se, em alternativa, decidirem resolver alguns dos problemas básicos do concelho, acima enunciados e que são prioritários, até conseguem poupar dinheiro, porque A - Reduzem consideravelmente as perdas de água comprada à EPAL; B - Deixam de pagar, à entidade que gere a ETAR, o tratamento de muitos metros cúbicos de água da chuva e de perdas de rede, contabilizadas como esgotos domésticos, porque provenientes de sectores ainda de colector único, ligados ao emissário dos esgotos domésticos, forçosamente.
Numa frase cruel: Não fica nada bem ir comprar roupa de marca quando se anda com calçado em mau estado, com as solas rotas. Mas há gente capaz de tudo, quando obnubilada pelos dinheiros de Bruxelas. Para desgraça nossa, que temos de ir pagando tais desatinos.
E depois ainda nos alcunham de maldosos...
Cem por cento de acordo. Duzentos por cento de acordo. Mil por cento de acordo.
ResponderEliminarA chamada requalificação da Praceta do Dr. Raúl Lopes é mais um dossier polémico e que demonstra a falta de conhecimento da realidade no terreno por parte do projectista e dos técnicos municipais. Não existe um estudo de trânsito e estacionamento e não também não existe um estudo do impacto das medidas propostas.
ResponderEliminarSalta à evidência de um cidadão de Tomar que a alteração proposta, com a eliminação da via em frente ao Colégio (por detrás da estátua de Raul Lopes) e da via entre a Rua Lopo Dias de Sousa e a rotunda da Alameda) é uma rematada asneira e, se vier a ser aplicada (o que se espera que não aconteça), vai causar graves problemas ao trânsito e estacionamento nessa zona sem que se vislumbrem quaisquer benefícios.
No caso da Praceta salta à vista que a solução mais correcta é manter a actual circulação de trânsito, com algumas melhorias pontuais junto aos Cafés Académico e Restauração e rotunda existente, com uma boa intervenção nos jardins da Praceta e do Colégio, dotando-os de melhores condições e embelezando-os.
A consideração das opiniões fundamentadas daqueles que participarem na discussão pública é mister e, de certo, vai enriquecer o projecto.
E no projecto da Várzea Grande há que considerar a eventual construção de uma rotunda na Aral, que será melhor do que aquilo que está.
Também neste projecto se devem considerar as sugestões válidas apresentadas na discussão pública e em ambos os projectos não deve haver precipitações ponderando os benefícios futuros e expurgando as soluções caras e inúteis.
Mas, como muito bem conclui o Dr. António Rebelo "se optarem por adiar as obras previstas, não se perde nada, ganha-se tempo e evitam-se despesas supérfluas. E ninguém vai reclamar. Se, em alternativa, decidirem resolver alguns dos problemas básicos do concelho, acima enunciados e que são prioritários, até conseguem poupar dinheiro, porque A - Reduzem consideravelmente as perdas de água comprada à EPAL; B - Deixam de pagar, à entidade que gere a ETAR, o tratamento de muitos metros cúbicos de água da chuva e de perdas de rede, contabilizadas como esgotos domésticos, porque provenientes de sectores ainda de colector único, ligados ao emissário dos esgotos domésticos, forçosamente.".
Então vamos fazer força para que tal aconteça!!!