sábado, 11 de novembro de 2017

Por favor parem para pensar

Adalberto Antunes
(Arquitecto a exercer em França)

Nem queria acreditar. Ao que me foi dito, a Câmara da minha terra pretende acabar de vez com o que resta do coevo Rossio da vila. Transformar a Várzea grande, tal como é desde há séculos, numa espécie de ágora pretensiosa. Por favor parem para pensar!
O tradicional parque de estacionamento e campo da feira anual só poderia vir a ser a praça central que autarcas novos ricos pretendem fazer dela, caso houvesse densidade residencial. Que não há, e jamais virá a haver. A malograda aventura da REFER, que tentou implementar uma grande urbanização nos terrenos outrora da CP, foi um fiasco de tal ordem que escaldou os investidores para os próximos cinquenta anos, no mínimo.
Nestas condições, quais são os fundamentos técnicos que amparam a pretendida requalificação? Que se saiba, apenas o parecer de alguns quadros camarários provincianos e a vontade gananciosa dos eleitos, preocupados em mostrar obra e para isso sacar fundos europeus. É pouco e pouco recomendável.

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Inversamente, os inconvenientes da pretendida reabilitação são muitos e evidentes:
A - Redução acentuada do estacionamento;
B - Transferência obrigatória da feira anual;
C - Aumento considerável das necessidades de manutenção;
D - Projecto "coxo" que, por força do parecer da DGPC, tem de incluir um estacionamento para autocarros frente à Estação rodoviária.
Não sendo de modo nenhum uma prioridade, ou sequer uma iniciativa coerente, inserida num programa para a urbe, o mais aconselhável é manter a marinar. Até se encontrar uma outra solução. Mais barata. Mais utilitária. Mais respeitadora do passado. Mais consensual.
No meu modo de ver, a remodelação ideal seria esta:
1 - Transferir o monumento ao soldado desconhecido para o relvado à entrada do Regimento de Infantaria 15, visto ser um monumento militar, que já pouco significa para os actuais cidadãos.
2 - Integrar a ilha triangular onde agora está a estátua na placa central, suprimindo a actual via de circulação que as separa;
3 - Construir duas rotundas, uma a poente, junto às instalações municipais, outra a nascente, no cruzamento Nuno Álvares Pereira/Torres Pinheiro/Combatentes da Grande guerra/Ponte do Flecheiro;
4 - Substituir todas as árvores, salvo as que rodeiam o Palácio da justiça;
5 - Pavimentar adequadamente, tendo sempre em conta as necessidades específicas da Feira de Santa Iria;
6 - Instalar bancos, e iluminação pública;
7 - Manter o estacionamento, eventualmente pago;
8 - Ampliar, melhorar e sinalizar devidamente as instalações sanitárias agora fechadas.
9 - Reformar, melhorando-o, o espaço verde a nascente e a norte do ex-Convento de S. Francisco, incluindo o terreno da ex-messe militar;
10 - Estabelecer uma separação física entre a Av. Tamagnini de Abreu e o estacionamento junto ao Palácio da justica.

Nas grandes linhas é isto. Muito mais barato, consensual, utilitário e respeitador da urbe, do que aquilo que honrados cidadãos, todavia sem grande passado nem grande futuro, pretendem levar para a frente. Ainda estão a tempo de emendar o erro. Basta parar para pensar e ter a coragem de ouvir e acatar a opinião pública e publicada. Foi também para isso que foram eleitos.

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