sexta-feira, 3 de novembro de 2017

A evolução do turismo



Há pelo menos um ponto em que estou de acordo com a senhora presidente: a principal vocação de Tomar é o turismo. Daí ter pensado que pode ter algum interesse a tradução seguinte:

"O pior é o vomitado nos vasos das flores: Em Amsterdão estamos fartos dos turistas"

"Após numerosos esforços para atrair turistas, a "capital cultural" da Holanda está a ser ultrapassada pela invasão turística. A câmara de Amsterdão prepara-se para adoptar medidas drásticas."

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Numa rua de Amsterdam


"Há dez anos, Amsterdão apostou tudo no turismo: tornar-se acolhedora devia ser um meio para a cidade holandesa recuperar da crise financeira de 2008. Com os seus canais, as bicicletas, as casas pitorescas, os grandes museus e as drogas leves em venda livre, a cidade tinha tudo para se tornar num destino turístico de primeira.
Resultado: entre 2005 e 2016, o total de turistas passou de 11 para 18 milhões anuais. E prevê-se que possa chegar a 23 milhões por ano em 2030. Demasiado, na opinião dos 850 mil residentes permanentes, tanto mais que o centro histórico da cidade (do século XVII), com as ruas estreitas e os canais, não foi concebido para absorver uma tal avalanche de visitantes.
O jornal Guardian interrogou alguns habitantes, testemunhas impotentes da transformação da sua cidade. Els Iping, 64 anos, surpreendeu recentemente alguns turistas bem bebidos a arrancar plantas no seu jardim. Segundo ela, a inundação constante de turistas deixa todos os dias um dilúvio de detritos. "O pior é o vomitado nos vasos das flores. Porque não basta lavar, tem de se tirar à colher."
Após esta entrada repugnante e mal cheirosa na matéria, a senhora disse ao Guardian a que ponto o seu bairro mudou em dez anos: os gritos dos turistas ébrios de quinta a domingo e os comércios de proximidade que fecharam para dar lugar a lojas para turistas.
Os senhorios também se mostram menos dispostos a arrendar aos locais. "Para os médicos, é cada vez mais difícil encontrar para arrendar locais onde instalar os consultórios", lastima-se a senhora Iping. "Mas considero-me alguém com sorte, porque pelo menos conheço os meus vizinhos." Há cada vez mais habitantes que vivem rodeados de apartamentos disponíveis no Airbnb, cujos ocupantes mudam quase todos os dias, enquanto a vida de bairro vai desaparecendo.
"Os visitantes vêem Amsterdão como um parque temático gigante", acrescenta ainda Els Iping. Apesar disso, mobilizando-se, os habitantes conseguiram acabar com as bierfets, uma espécie de bicicletas colectivas para até doze pessoas, que eram também bares ambulantes, que provocavam um conjunto de problemas: barulho, cervejas entornadas, além da questão higiénica inevitável, quando os turistas abusam da cerveja.

 Des touristes visitent le centre-ville d’Amsterdam, le 22 avril 2017.
Turistas visitando Amsterdão

Recentemente, a câmara municipal adoptou medidas para melhor enquadrar os alugueres Airbnb e decidiu suspender o licenciamento de novos hotéis. A taxa hoteleira foi aumentada e as novas lojas para turistas deixaram de ser bem-vindas no centro da cidade.
"Durante anos, incitámos os investidores a construir hotéis e a nossa equipa de marketing deu a volta ao mundo, apresentando Amsterdão como destino turístico de excelência. Mas temos agora a noção de que devemos retomar o controle das coisas", explicou o vereador com o pelouro da economia local, Sebastiaan Meijer. Que acrescentou: "A nossa estratégia marketing consistiu em dizer às pessoas para virem a Amsterdão. Doravante vamos dizer-lhes venham a Amsterdão, mas sejam respeitadores."
Porque Amsterdão tem a fama de ser a cidade onde tudo é possível: comprar droga mas também frequentar o "Bairro vermelho", aquelas ruas onde as prostitutas estão nas montras. "Amsterdão tem essa fama e é por isso que muitos turistas entram em órbita. Fazem aqui coisas que não fariam mesmo em sonho nas terras deles", explica um habitante de 59 anos, Bert Nap.


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Bairro vermelho em Amsterdão

A cidade holandesa dos canais não é a única confrontada com as consequências indesejadas do turismo de massa. O descontentamento dos habitantes aumenta desde há alguns anos em Itália, em Espanha e agora até já na Croácia. 
Em Veneza, o município achou um "estado de guerra" em Julho e Agosto, o que  levou a desencadear uma campanha de cartazes incitando os turistas a serem mais respeitadores, na sequência de uma manifestação que reuniu dois mil habitantes.
Em Roma, aumentaram as multas para os turistas que se instalem nos fontanários públicos para almoçar, enquanto em Barcelona apareceu a inscrição "O turismo mata os nossos bairros", num daqueles autocarros descapotáveis para turistas, tendo a câmara prometido mais regulamentação para os alugueres Airbnb.
Todos estes factores  favorecem o surgimento de um problema complexo que parece doravante difícil de ultrapassar: o desenvolvimento do aluguer privado Airbnb, e os vôos de baixo custo, que levam à prática do "fim de semana prolongado". Sucede que, enquanto o número de turistas aumenta constantemente, os destinos turísticos mudam pouco. São portanto antes de mais as cidades europeias de arte e de história que continuam a ser privilegiadas. E terão de assumir essa pressão cada vez mais maior."

Redacção do Le Monde online, 02/11/2017
Tradução e adaptação de António Rebelo, anfrarebelo@gmail.com

Saberá Tomar estar à altura do que aí vem, quer queiramos quer não? Há fortes razões para duvidar. Não sabiam, ninguém avisou, era imprevisível, havia outras prioridades, faltaram recursos...

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