terça-feira, 7 de novembro de 2017

Estamos mal

Em complemento das informações colhidas para a elaboração do recente trabalho sobre o custo médio da habitação por metro quadro, numa amostra restrita de concelhos do país, elaborou-se este quadro:

                   ELEITORES INSCRITOS NOS CADERNOS ELEITORAIS

Trata-se da evolução demográfica entre 2013 e 2017, medida através dos eleitores inscritos, nos vários concelhos referidos na amostragem sobre preço médio da habitação por metro quadrado. Os números entre ( ) referem-se ao ranking no quadro da amostragem antes citada.
Neste caso, os quatro primeiros concelhos estão classificados por ordem decrescente do seu aumento demográfico. Os restante 15 concelhos aparecem por ordem crescente das suas perdas populacionais. Assim, por exemplo, Mértola é o concelho que percentualmente perdeu mais eleitores, enquanto Coimbra é o concelho que percentualmente perdeu menos eleitores.
Infelizmente, Tomar aparece logo antes de Mértola, o que é péssimo. Indiciador de que estamos mal. Muito mal. Para melhor entender esta nossa tragédia, Barrancos e Moura, dois pequenos concelhos raianos, perdidos nos confins do distrito de Beja, perderam respectivamente 4,94% e 5,13% eleitores, menos que os 6,68% de Tomar. Apesar disso, por agora nada a fazer, para além de alertar.
Não se trata de uma mera opinião. É um facto incontroverso, que resulta de dados objectivos, de fonte pública inquestionável. O que significa que, uma vez conhecidos os números do recenseamento eleitoral de 2021, a confirmar-se o acentuado definhamento demográfico de Tomar aqui denunciado, haverá que procurar solução urgente para o problema. Sob pena de nos irmos tornando cada vez mais uma aldeia grande. A aldeia dos funcionários e dos pensionistas.
Os ligeiros aumentos populacionais dos quatro primeiros concelhos do quadro classificativo supra confirmam o que por aí se vai dizendo. É do domínio público que autarcas e políticos em geral são especialistas na atribuição de culpas aos outros pelo que está mal. Neste caso, qualquer presidente de câmara, cuja população concelhia esteja a diminuir, argumentará imediatamente que tal se deve ao facto de haver um êxodo populacional do interior para a faixa costeira, bem como dos pequenos para os grandes concelhos.
O problema é que, se os quatro primeiros municípios confirmam tal raciocínio, porque estão todos na faixa costeira, os seguintes desmentem-no e de que maneira. Com efeito, se fosse como afirmam os senhores autarcas passa-culpas, como justificar então as perdas populacionais de Lisboa (-2,75% entre 2013 e 2017) e do Porto (-2,25% durante o mesmo período)? Afinal, ambas são cidades costeiras e os dois maiores concelhos do país em termos populacionais.

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Alguns senhores especialistas em ideias gerais, que abundam ali para as bandas da Praça da República, sobretudo nas horas normais de expediente, vão alegar que os eleitores inscritos diminuem em Lisboa e no Porto devido ao aumento das rendas de casa e do custo do imobiliário, que provocam o afastamento da população de menores rendimentos para os concelhos limítrofes. É verdade; têm razão. Mas outro tanto se poderá dizer de Coimbra ou da Figueira da Foz, de Pombal ou de Tomar, por exemplo, com preços superiores a concelhos vizinhos. Cai portanto por terra o velho argumento da interioridade, como justificação para a progressiva desertificação. Há que procurar outros motivos. Como por exemplo o custo de vida e as suas causas.
É certo que Abrantes encolheu 5,16%, Ferreira do Zêzere 6,60% e Tomar 6,68%. Bastante mais que Lisboa, Porto ou Coimbra. Mas que dizer então do Entroncamento (-0,96%), de Ourém (-2,55%), ou de Torres Novas (-2,97%), todos bem no interior e todavia a par de Lisboa ou do Porto, ou até melhor, em termos de percentagem de perda de eleitores? Porque razão ou razões, entre 2013 e 2017 Ourém e Torres Novas perderam menos de metade dos eleitores em relação a Tomar, se estão as três na mesma zona geográfica e eram todas lideradas pelo PS? É capaz de ter havido influência da respectiva gestão municipal...
Com a cada vez maior disponibilidade informativa, ser político hoje em dia não é nada fácil. E autarca então, é melhor nem falar. Sobretudo quando há uns aposentados com tempo, recursos técnicos e paciência...

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