segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Ruínas da Fábrica de fiação de Tomar.

População e política local

Saem de Tomar ou fogem da maioria PS?

O título não é de Tomar a dianteira 3. Foi induzido por uma crónica de  André Abrantes Amaral, cuja leitura recomendo: Saem de Portugal ou fogem do PS? – Observador . E se puderem ler igualmente a crónica de Helena Matos, não perdem nada: O travão, nova alavanca do socialismo – Observador . 
A informação local, já antes de 2013 denotava dificuldades para abordar temas políticos de forma autónoma, por falta de recursos humanos à altura. Com a vitória do PS, a desgraça consumou-se. Salvo a excepção relativa de Tomar na rede, nenhum outro suporte nabantino trata da política local. Limitam-se a servir de correia de transmissão das posições da maioria autárquica. Deus os ajude, que Tomar a dianteira 3 não pode, sob pena de escamotear a verdade.
Em tais condições, não surpreende que, perante crónicas que consideram agrestes de Tomar a dianteira 3, sobre a fuga da população tomarense, apareça logo a posição de Anabela Freitas e respectivos seguidores: -É devido à migração para a faixa costeira. E no caso da senhora foi mesmo. A meio do mandato, conseguiu outro emprego político por cinco anos, numa lista liderada pelo PSD, mas em Aveiro, justamente na faixa costeira. Deseja-se boa sorte, lembrando que o turismo é uma área onde se escorrega muito. Oxalá não venha a ser o caso.
Mas será mesmo assim? Há migração generalizada para a faixa costeira? Há dúvidas sérias,  por exemplo quando se compara Tomar com Ourém, separadas por apenas 20 quilómetros e ambas no interior. Enquanto Tomar tem vindo a definhar, Ourém vai crescendo, de tal forma que já ultrapassou Tomar em termos populacionais, quando em Abril de 1974 eram bem menos. E a tendência mantém-se. Entre 2013 e 2021, Ourém perdeu 2.461 eleitores inscritos, mas Tomar foi até aos 3.418.
A posição de André Amaral mostra-se portanto pertinente, desde que ligeiramente complementada no caso tomarense. Em 1974, Ourém era um concelho de muito forte emigração, sobretudo para França, tendo como principal actividade económica o turismo religioso em Fátima. Na mesma data, em Tomar, havia pouca emigração, mas uma importante presença militar (RI 15, Hospital militar e Quartel General) e uma notável indústria pesada (Fiação, Matrena, Porto Cavaleiros e Prado).
Falidas as várias fábricas e afastados os militares, Tomar parece não ter conseguido arranjar empregos de substituição além da função pública, obrigando os tomarenses a emigrar cada vez em maior número, enquanto em Ourém o movimento é inverso. Há menos emigração e um forte incremento económico privado, ligado a Fátima, à construção civil, à metalurgia e à indústria dos móveis. Só não vê quem não quer ver.
Reflexo de tal situação, nas autárquicas de 2021, em Tomar, 19,1% votaram nos "partidos de protesto" (BE, Chega e PCP), quando em Ourém se ficaram pelos 9,1%, sem candidatos do BE. A abstenção foi de 50,6%  na freguesia urbana de Tomar, mas de apenas 43,5% na cidade de Ourém. Desde que lidas com atenção, as percentagens eleitorais, nos países democráticos do tipo ocidental, como o nosso, são como o algodão do conhecido anúncio da TV. Não enganam.
Para o caso de haver alguma crispação devido a junção do Chega ao BE e PCP, esclarece-se que, no concelho de Tomar, o partido de André Ventura obteve o melhor resultado (9,49 %) na freguesia de Paialvo, durante anos governada pela CDU.



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