terça-feira, 12 de setembro de 2023

Análise política

Um delfim inesperado?

Explicação prévia: Delfim era o cognome do primogénito e/ou herdeiro do trono de França. Por extensão, diz-se do sucessor de qualquer eleito que não continua, por decisão própria ou por estar impedido.

Ainda em muitos casos fisicamente em 2023, mas intelectualmente algures antes de 1974, há eleitores tomarenses que por isso mesmo não entendem o mundo em que vivem, nem conseguem anotar os factos extraordinários, ou fenómenos, que vão ocorrendo apesar de tudo, num concelho estagnado. 
Um deles acaba de acontecer, pela primeira vez desde que estamos em democracia: O vereador do PS Helder Henriques criticou com virulência na imprensa local o seu homólogo do PSD Luís Francisco, por uma intervenção deste durante uma reunião normal do executivo camarário. Nunca tal tinha antes acontecido, até por ser insólito e pouco educado em termos políticos, vir para a praça pública criticar uma intervenção feita num órgão político e na presença de quem critica, que por conseguinte só não agiu na altura própria por decisão pessoal. Coloca-se portanto a pergunta: Porquê? O que terá levado um cidadão geralmente cordato, bem formado e sossegado, a intervir por escrito, e com alguma violência verbal, contra o seu homólogo social-democrata?
O próprio título da peça, (que pode ser lida na página 11 do Cidade de Tomar desta semana), é elucidativo: "Anabela Freitas não merecia isto" Trata-se portanto de defender a sua dama, neste caso a líder camarária desde 2013, quando Helder Henriques ainda nem estava na política local. Aparece então outra dúvida, que pode ser exposta assim: A defesa da líder, impedida de continuar, não é geralmente uma incumbência do seu delfim natural? Porquê a prosa de Helder Henriques, e não de Hugo Cristóvão, como seria lógico?
Querem ver que acenaram ao vereador socialista com a hipótese de vir a ser o sucessor designado?! Ou terá sido o próprio a alimentar essa ideia? Não adiantará vir com tretas, com o intuito de desvalorizar tais dúvidas. Em política o que parece é, mesmo em Tomar. E estamos a falar de política, onde praticamente nada de significativo acontece por mero acaso.
Será de resto absolutamente natural, caso Hugo Cristóvão decida, (ou o levem a decidir), não assumir a sucessão de Anabela Freitas. É do domínio público que durante este últimos dez anos mais não foi de facto que um simples "pau mandado" da senhora, que deixa alguma obra útil, mas também cometeu demasiadas asneiras, nunca pecando por modéstia.
Para os eleitos, é sempre mais cómodo dizer que vai tudo bem e que até melhoraram os resultados, com destaque para os socialistas, que continuam a insistir, contra toda a evidência, na excelência dos seus mandatos. Infelizmente para uns e outros, a análise dos resultados oficiais não deixa margem para dúvidas.
Após o primeiro mandato do PS em Tomar, em 2017, todos os concorrentes melhoraram os resultados eleitorais em relação a 2013, apesar de entretanto terem desaparecido dos respectivos cadernos 2.496 eleitores inscritos. A excepção foi  a CDU, que perdeu 279 votos. Tal situação anómala, de melhores resultados com menos eleitores inscritos, deveu-se à dissolução dos Independentes por Tomar, cujos 3.094 votos de 2013, se espalharam naturalmente pelas outras formações.
O grande problema, a grande incógnita para 2025, com Helder Henriques ou Hugo Cristóvão a encabeçar a lista socialista,  vai ser conseguir melhorar em relação a 2021, quando todas as formações concorrentes perderam votos, num total de menos 2.368 sufrágios, apesar de haver só menos 924 eleitores inscritos em relação a 2017, quando todos ganharam excepto um. Situação que mostra bem o que pensam afinal os eleitores sobre a governação local. Preferem votar com os pés, uma forma cómoda e discreta de pontapear incapazes.
Apenas o Chega, que se apresentou pela primeira vez,  salvou a honra do convento, ao conseguir 1.108 votos, passando assim a ser, por curta margem, a 3ª força mais votada no concelho. O que tende a mostrar que o eleitorado tomarense que ainda vota, (apenas pouco mais de metade dos inscritos), embora não seja dos mais evoluídos do país, nem coisa parecida, também já começa a estar farto de palhaçadas, de música (tocada, e da outra, da expressar "dar música"), de obras sobretudo para a fotografia.



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