segunda-feira, 18 de setembro de 2023

A tribuna de

Fernando Caldas Vieira


Tomar. A linha de partida

Introdução

É muito cedo para lançar a campanha para as autárquicas de 2025? Sim, é. Há problemas concretos, do país e da vida dos cidadãos, que nos deviam preocupar mais, a começar pela degradação do poder económico e o aumento do custo de vida.
Há também umas eleições antes, as europeias, que servirão para aferir muita coisa e que podem alterar o panorama atual dos partidos. Mas nada impede que se possa antecipar cenários, avaliar candidatos ou mesmo desejar resultados. Sonhar é fácil, já dizia Perdigão Queiroga.

Partidos

Atualmente os partidos são causas, são bandeiras, mais do que ideologias ou movimentos. Daí que existem temas que não os distinguem, como o “social”, e outros que deviam ser debatidos, porque diferenciadores, e se tentam atirar para debaixo do tapete. É o caso de algumas chagas sociais, como o tratamento de comunidades de origem estrangeira e outras. Veja-se no que se tornou o negócio dos “Ubers” em Lisboa, perante a passividade das autoridades.
O leque partidário que parecia cristalizado, ao contrário de outros países europeus, como a França e mesmo a Espanha, tem tido uma evolução (lenta), com o aparecimento de novas formações. É verdade que também houve a extinção de outras, apesar de não assumidas, como o CDS, os Verdes, ou o MRPP.
A implantação destes novos partidos inicia-se sempre da mesma maneira: Lisboa e mais um punhado de grandes círculos eleitorais. Em parte, é o resultado do método de Hondt, mas também da diversidade social que na província e no interior é mais limitada. Isto aconteceu com o PAN, IL, Livre, como anteriormente tinha acontecido com o próprio BE.
A exceção foi o Chega, que apesar do desespero das forças que o tentam marginalizar e colocar fora do sistema político, tem vindo a ganhar aquilo que podemos chamar de representatividade descentralizada. Até mesmo a nível autárquico, como em Tomar, tornou-se na 3ª força em votos, se bem que ainda não traduzida em mandatos. Este salto, a obtenção de mandatos autárquicos e porventura da liderança de autarquias, é o seu grande desafio em 2025. Todos os outros partidos pequenos ou recém-criados, incluindo o ambicioso BE, nunca conseguiram tal feito.

Tomar

Sem falar do fenómeno local dos independentes (em via de extinção com o limite de mandatos de Américo Pereira), Tomar tem sido um campo gerido em exclusivo pelo PS e pelo PSD. De tal modo que se torna ridículo falar de Executivo Camarário ou de Oposição, no interior da vereação. A parceria não foi só nas coroas da Festa, foi também nas contas da Tejo Ambiente.
Pior ainda: nos assuntos correntes mais importantes, não se sabe o que os podia distinguir. Por exemplo, o PSD teria conseguido evitar que o investimento da Misericórdia de Tomar fosse para a Atalaia, quando o seu próprio líder teve a necessidade de deslocalizar a sede da sua  empresa para fora do Concelho?


O que se alteraria em relação ao turismo, festividades, obras públicas? Ou, se quiserem temas mais escaldantes, o que fariam de diferente em relação à captação de empresas, criação e manutenção de parques empresariais, infraestruturas sociais e turísticas, espaços urbanos, ou mesmo em relação à educação e apoio à infância? O caso das creches devia ser uma angústia. O que se alterava na gestão de pessoal do município, que em média trabalha menos de 20 dias de 7 horas por mês? E os ajustes diretos?  E a dívida? E os impostos? Tomar é uma autarquia perdida na burocracia e com este binómio não acredito que possa mudar.
É aqui que entra o tema final: Quem pode mudar Tomar? E não vale dar a resposta, maioritária na população, ao estilo de Almeida Garrett –“Ninguém”.

A mudança

Inesperadamente, as alterações políticas podem vir dos dois partidos do poder. Hugo Cristóvão precisa desesperadamente de fazer   qualquer coisa, para que tudo fique na mesma. Vai ter de refazer pelouros, com a entrada da nova vereadora. Este tema demonstra alguma negligência com que um processo anunciado foi tratado. Rita Freitas já devia ter tido uma intervenção visível, porventura fazendo substituição temporária de outro vereador em altura de impedimento.
Se compararmos a atuação dos vereadores do PSD com os da anterior vereação, não conseguimos descortinar uma rotura, antes uma continuidade, muitas vezes mais carinhosa. É normal. Luís Francisco, em quem se depositavam tantas expetativas pelo seu percurso, não se tem distinguido e foi o autor da maior gafe política do mandato, ao elogiar a presidente cessante pelo seu “mérito pela dedicação à causa pública”. Mesmo com outras considerações pertinentes, este foi o título que ficou. Depois a crítica de falta de estratégia não significa nada. As marcas desta governação são, sem dúvida, a incompetência e a mentira. É por aí que tem de se atacar. É para alterar isso que vale a pena combater e mobilizar os tomarenses.
Quando falo em mobilizar as pessoas de Tomar, para pôr fim a este estado de governação, não acredito que haja pessoas que não participem por não se sentirem representadas nas organizações existentes. O mesmo já não posso assegurar em relação às respetivas lideranças. O problema é que incentivar o aparecimento de novas organizações é, objetivamente, dispersar votos e assim facilitar a vida do PS e de Hugo Cristóvão. Parece irónico, vindo de mim, que fui acusado da mesma coisa nas últimas eleições. Mas não, não se trata de tirar partido do voto útil, antes pelo contrário. O desafio político é o das forças concelhias agregarem pessoas (de preferência iniciantes nestas andanças) capacidades e competências. É chamar aqueles a que apelido de cobardes e dar-lhes a oportunidade de ganhar coragem, de trazer o melhor da sua sabedoria para a arena política – exercer a sua cidadania.
O PSD tornou-se o partido mais sectário da nossa sociedade e a abertura ao exterior é quase inexistente. A vontade de exercer o poder não deixa sobras.
O Chega tem essa responsabilidade, na qualidade de 3º partido. E em Tomar sabe-se disso. Há setores incomodados. De tal maneira que, apesar da sua representatividade, é o único dos grandes partidos que não tem ninguém a fazer comentário político numa das rádios de Tomar. Creio que essa situação poderá ser alterada, mas até lá, até parece ser censura. A Vera Ribeiro sabe o que tem de fazer. Cabe às pessoas aderir e engrossar a participação. 
Ao contrário do que foi dito em comentários no Blogue Tomar a dianteira -3, o desempenho político do Chega tem sido relevante nos órgãos onde foram eleitos. Na Assembleia de Freguesia da cidade não foram parte da maioria de que Augusto Barros necessitava. Na Assembleia Municipal, Américo Costa tem feito o que se esperava dele: Introduzir temas diferentes, elegendo as causas ambientais e evidenciando a forma atabalhoada com que Hugo Costa tem dirigido aquele órgão. Sem a retórica de qualquer advogado de Lisboa, mostrou as qualidades de sempre: conhecimento do Concelho e coragem. Acredito que ainda vai melhorar. Portanto o que eu digo é que, se houver mais cidadãos que queiram responder à chamada, têm boas alternativas para atuar.
O principal problema de Tomar é a falta de exigência, de massa crítica. Perante os maiores disparates, há sempre alguém que gosta. O recrutamento de novos atores deve ser uma preocupação, mas vimos como nas últimas eleições se perdeu dinâmica com 7 formações concorrentes. Até nos debates, se diluía a mensagem a ser passada. Anabela Freitas tirou bem partido disso, o que lhe permitia escolher criteriosamente as respostas a dar. A solução não era o debate a 2, de que o António Rebelo era adepto. Se isso tivesse tido lugar, eu, como candidato excluído, havia de barafustar até esgotar os meios.

Para terminar. 

E há espaço para os liberais? Liberais a sério, que se proponham reduzir o orçamento municipal para metade, que deixem de apoiar o que não dá resultados, ou que não tem mérito, reduzam significativamente o número de funcionários inertes e os organismos improdutivos, que criem espaço para a sociedade civil… Sim, para políticos desses, há lugar. Falta mesmo a sua representação, nem que seja como contrapoder. Se têm futuro eleitoral, na nossa sociedade tão acomodada, não acredito. Agora os liberais da despenalização da eutanásia ou das drogas, esses nem liberais são.

1 comentário:

  1. Caro Fernando,

    Começo esta resposta por saudar a tua coragem em dar a cara nas últimas eleições municipais pelo CDS.
    Mas como na altura disse , um grupo de forcados não pode ser só o cara, tem de ter os ajudas e até o rabejador para pegar o touro. E em Tomar não há grupo de forcados , só uns bandarilheiros e espadas se calhar nenhum.
    Discordo que ainda não é altura de lançar campanha para 2025 , porque não basta aparecer uma lista mal amanhada uns meses antes e concorrer.
    Tem de se formar o grupo, definir a estratégia e em especial escolher o cara, porque o povoléu só vê o cara.
    Atualmente os partidos são organizações de emprego/ máfias de corrupção que têm teias montadas muito abrangentes e muito gente
    a comer nessa malga. Como disse o primeiro ministro holandês ( e isto vindo de um país onde só interessa o dinheiro e até as prostitutas são legais e pagam imposto ) Portugal gasta o dinheiro das esmolas da Europa em p.. e vinho !!
    Os problemas do País são por demais evidentes, desde a falta de produtividade , um setor público mal gerido , sem mobilidade, com um número de funcionários completamente exagerado, leis imobilistas e a "pedirem " uma " ajuda" de algum funcionário, à imigração e em especial a emigração dos jovens e por fim e para pagar isto tudo uma carga fiscal ESMAGADORA !!
    PS e PSD dividem entre si benesses e cargos públicos sem problemas nem vergonha.
    O Chega apareceu como um voto de protesto ao politicamente correto , (vide o elogio que o vereador do PSD fez à presidente do PS cessante), e apesar de tudo fazerem para não aparecer foi a 3ª força política em Tomar e a nível nacional.
    Em Tomar com mais relevância pois os elementos constituintes das listas ou não eram conhecidos ou muito fracos politicamente.
    Pensar que alguém , mesmo um liberal consegue despedir funcionários públicos ou reduzir orçamentos camarários para metade , só mesmo acreditando no Pai Natal.
    Resumindo por agora , constituir a IL em Tomar, só vai dividir alguns votos do CDS confundir as pessoas e sim favorecer o PS.
    Os independentes vão felizmente desaparecer ( aliás os independentes a nível nacional foram constituídos por antigos membros de partidos políticos, com tendências a caciques que foram corridos das listas ) em Tomar certamente vão votar PS.
    A IL a ser constituida deveria fazer um pacto pré-eleitoral bem como o CDS , com o PSD para aparecerem numa só lista e com isto congregar votos da direita.
    Já o Chega certamente vai aumentar votação e será certamente indispensável para correr com o PS do tacho:

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