domingo, 3 de setembro de 2023

 

A extraordinária força apelativa de um topónimo. Aqui, a sete horas de avião de Lisboa, quando se fala de Tomar, praticamente ninguém sabe o que é ou onde fica. Só se for português. Mas nem é necessário explicar sequer onde fica Fátima, porque até no calçadão da beira-mar é evidente.

Evolução económica regional

Condensado histórico 

de duas covas homónimas


Poucos terão reparado, parece-me, mas elas sempre aí estiveram, bem à vista de todos. Falo do Pego de Santa Iria e da Cova da Iria, separadas por trinta quilómetros em linha. A primeira teve origem no martírio de Iria, assassinada e atirada ao Nabão, no século VII da nossa era, andavam por aí os visigodos. Como bem sabemos,  pego é sinónimo de cova no fundo do rio, por conseguinte Cova da Iria, só mais tarde considerada santa.
A partir da terceira década do século XVI, portanto nove séculos mais tarde, Pedro Moniz da Silva, irmão de Frei António de Lisboa, mandou edificar junto à referida Cova da Iria um convento bastante moderno, dado que até dispunha no seu interior de água corrente, algo desconhecido à época no riquíssimo Convento de Cristo.
Sem mais eventos notáveis ao longo dos tempos, o convento foi extinto em 1834 e as suas instalações reverteram para a coroa. Posteriormente vendido em hasta pública, ainda no século XIX, acabou por ser comprado pela autarquia, após 1974, já bastante arruinado, que o vendeu finalmente a uma empresa hoteleira por 706 mil euros, quando 15 anos antes havia sido avaliado em 3 milhões de euros. Venda ao desbarato, digo eu. Venda promocional, dirão os autarcas vendedores. É agora um hotel de 4 estrelas da cadeia hoteleira Vila Galé.
A outra Cova da Iria, separada por três dezenas de quilómetros, é  o principal polo turístico da região centro e de turismo religioso do país, tem um historial muito mais curto, que começa em 1917, quando três crianças afirmam ter visto a virgem Maria sobre uma azinheira, que não é aquela ainda existente ao lado da capela das aparições. Sempre liderada pela igreja católica, a administração do santuário tem sabido proceder de forma a conseguir elevado desenvolvimento económico. De tal forma que a Cova da Iria, sob a denominação de Santuário de Fátima, ou simplesmente Fátima, tende a tornar-se em termos económicos o aglomerado urbano mais importante do concelho de Ourém, ao qual pertence, ultrapassando a própria sede concelhia.
Enquanto isto, englobadas no topónimo Tomar,  tendo a Cova da Iria tomarense sido transformada em hotel, como já dito,  a autoridade regional anterior, a Ordem de Cristo, também foi extinta em 1834, e os seus bens nacionalizados. Totalmente na posse do Estado desde os anos 30 do século passado, e entretanto classificado como Património de Humanidade pela UNESCO em 1982, o Convento de Cristo, tal como o Município,  estão longe de conseguir alcançar o desenvolvimento económico de Fátima. Na ancestral compita entre gestão pública e gestão privada, esta tende a levar a melhor na comparação.. É de resto bastante significativo que o próprio governo socialista tenha decidido transferir a gestão dos principais monumentos do país, da DGPC para uma empresa pública, meio caminho andado para uma futura gestão privada. Sinal inequívoco de que o modelo actual de governança não é satisfatório. Mas as empresas públicas existentes, salvo raras excepções...

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