terça-feira, 5 de setembro de 2023

A Várzea grande na década de 30 do século passado, durante o congresso nacional dos bombeiros. Ao fundo, a escola primária entretanto substituída, com a sala da primeira classe à direita e a da 4ª classe à esquerda.

Intervenção política

Labregos que se ignoram e prejudicam 

Uma estopada, Ainda mais difícil de tragar que a evidente falta de savoir faire e de savoir vivre da maioria autárquica que temos, e dos seus serventuários, é aquela malta comentadora que pulula especificamente no Facebook. Ora faça o favor de ler alguns comentários dessa não obstante simpática gente:


Bem sei. São muitos comentários. Quando este apontamento foi escrito já eram 67. Ou melhor: meia dúzia de escritos  escorreitos, e 60 cagadas (desculpem o vernáculo). Mas mesmo assim, parece-me que vale a pena um leitura atenta. Uma única vez, porque depois não se aguenta. Em boa parte, é mesmo gente que não se enxerga, tipo casca grossa, mal educados em casa, e mal escolarizados no facilitismo reinante, que como sabemos é contra o espirito competitivo  na escola. Por isso detestam os rankings, que consideram uma armadilha do imperialismo americano. Santa ignorância, dirão os católicos locais, dado que uma dessas tabelas classificativas até é de uma conhecida universidade chinesa -o ranking de Xangai. E não consta que os chineses morram de amores pelo dito imperialismo...
Se já conseguiu alento para ler todos os comentários antes referidos, terá constatado duas séries de argumentos. Há aqueles que interrogam o leitor, perguntando se julga que se fazem festas sem gastar dinheiro. O que equivale, parece-me, a considerar o outro ainda mais lorpa do que quem escreve.
A outra série é a dos pretensos conhecedores da matéria em discussão, que tentam estabelecer uma comparação entre os tabuleiros e as festas de Viana do Castelo ou de Braga, por exemplo. Como se fossem realidades próximas. Viana do Castelo tem este ano um orçamento municipal de 117 milhões de euros e Braga de 165 milhões de euros, enquanto Tomar se fica pelos 51,6 milhões de euros. Menos de metade de Viana e menos de um terço de Braga. O que não surpreende, pois Viana são 83 mil eleitores inscritos e Braga 166 mil, contra pouco mais de 32 mil em Tomar. Ressalta portanto que os citados comentadores estão, na melhor das hipóteses, a raciocinar com dados de há meio século, quando o desnível demográfico não era tão acentuado.
Qual a importância de tal desfasamento? É que se o gasto dos tabuleiros em 2023, de um milhão e 300 mil euros, fosse em Viana ou em Braga, daria respectivamente 15,6 euros por eleitor em Viana, e 7,8 euros/eleitor em Braga. Muito menos que os escandalosos 39 euros por eleitor em Tomar. Perceberam agora, mentes brilhantes apaixonadas pelos tabuleiros?
Procuro evitar tecer comentários menos abonatórios sobre a minha amada terra nabantina, ou sobre os meus estimados conterrâneos. Considero-me porém desde sempre civicamente obrigado a respeitar a verdade e o bom senso, sem contudo mascarar a realidade. É uma questão de respeito pelos concidadãos e por mim próprio. Fico por isso pensativo e triste, ao evocar os tempos da outra senhora, em cuja sociedade nasci e cresci, e da qual fugi, emigrando para França, após o serviço militar obrigatório e a guerra em Angola.
Um jornalista estrangeiro perguntou uma vez ao ditador Salazar, o que o impedia de organizar eleições livres em Portugal. . -Os portugueses ainda não estão preparados para isso, respondeu ele. Meio século mais tarde, é para mim evidente que nesse aspecto a situação piorou, pelo menos em Tomar. Sendo assim, quando e como vamos conseguir sair do lamaçal em que vegetamos, se muitos cidadãos nem percebem sequer quando se estão a prejudicar a si próprios, com o seu comportamento anómalo em termos culturais?
Não me refiro àqueles ignorantes que implicitamente se reconhecem como tal e procuram ir aprendendo para melhorar, entre os quais me incluo. Assusta-me, isso sim, essa chusma tomarista que por aí há, de uma carência cultural que até dói, mas que se consideram muito evoluídos. Tão capazes que até botam opinião por escrito, mesmo se o português usado nem sempre é o melhor. Pobre terra, cuja população parece estar condenada em grande parte a emigrar, ou a enterrar-se pouco a pouco no pântano da irrelevância, arrastando consigo uma urbe que já foi referência no país. Tem base quem afirma que "em Tomar os melhores já migraram para paragens mais acolhedoras".

Sem comentários:

Enviar um comentário