segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Um tomarense íntegro

 António Freitas

Carlos Carvalheiro não quer medalhas…
Quem não se sente não é filho de boa gente....

 Numa terra em que tudo se põe em bicos de pés e mete cunhas por uma tão almejada medalha, e muitos dariam tudo, mesmo sendo uns incompetentes, para a receber, é preciso ter carácter e ser um grande SENHOR,  a fazer lembrar José Saramago, para recusar a homenagem decidida pelo actual executivo.
O tomarense Carlos Carvalheiro acredita na bondade da decisão camarária, mas lembra a usual falta de apoio à companhia, ou seja o fundador e director artístico do Teatro Fatias de Cá, escreveu à presidente da Câmara de Tomar, Anabela Freitas, a informá-la que não irá receber, no dia do concelho, 1 de Março, a medalha de Valor e Altruísmo, que o executivo camarário lhe atribuiu pelo trabalho desenvolvido desde a criação do grupo em 1979. Depois de sublinhar que o Fatias de Cá "conviveu, desde sempre e quase sempre, com uma atitude a raiar o ostracismo, por parte do Município de Tomar", Carlos Carvalheiro pede compreensão para a sua decisão. "Embora a minha relação com quase todos os autarcas tenha sido pautada pela mútua simpatia, e embora reconheça como bondosa a actual decisão de me ser concedida uma medalha, não ficaria de bem com a consciência se aceitasse camuflar a memória.", escreve. E conclui: "Peço, por isso e por ora, ao Município de Tomar que não leve a mal por pedir escusa desta Medalha de Valor e Altruísmo que teve a gentileza de me conceder". 
Ficando a medalha sem dono, sabe-se que, por portas travessas, já houve muitos pretendentes à mesma. Não seria hora de João Victal receber a mesma pelo que tem dado à Festa dos Tabuleiros?
Com esta atitude coerente e corajosa de Carlos Carvalheiro, Bruno Graça, o outro contemplado pela sua acção em prol da Gualdim Pais, fica numa posição embaraçosa. Tanto mais que foi muleta de Anabela Freitas no mandato anterior. Se aceita... Se recusa...
Texto editado por Tomar a dianteira 3

O comentário de António Rebelo
Peço licença, Carlos, para me meter onde ninguém me chamou. Quando li a decisão de atribuir medalhas e vi o teu nome, disse para comigo: -O Bruno não sei, mas o Carlos não vai aceitar de certeza. E não é que acertei em cheio?!
Por isso aqui fica a minha sincera homenagem:
Homem de um só parecer
De um só rosto, de uma só fé
De antes quebrar que torcer
Muita coisa pode ser
Homem da corte não é!

Francisco Sá de Miranda - 1544

2 comentários:

  1. Uma "atitude coerente e corajosa"? Não concordo.
    Porque é que o Bruno fica "numa posição embaraçosa"? Essa agora! Espero que não caia nessa: recusar a distinção.

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    1. Não concordas e estás no teu direito. Cada um vê as coisas à sua maneira. Tens contudo de reconhecer que, se não estava nem está contente com a forma como a autarquia tem agido para com o Fatias de cá, aceitar a medalha seria um acto de pura cobardia. E o Carlos nunca foi cobarde. Por isso assumiu galhardamente a sua discordância.
      Do meu ponto de vista, o Bruno está agora numa posição complicada porque só tem duas hipóteses e vai ser criticado seja qual for a sua posição. Se aceitar, vão dizer que é o pagamento da ajuda dada a Anabela Freitas no mandato passado. Se recusar, dirão que está a cuspir no prato onde comeu durante quatro anos. Mesmo que na verdade nada tenha comido, como se sabe. Nas terras pequenas é sempre assim, sobretudo quando estão a definhar.Procuram-se bodes expiatórios.

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