sábado, 3 de fevereiro de 2018

Quem não sabe é como quem não vê

Confesso que tive piedade, pudor, pena das vítimas, que somos todos afinal. Não sei bem. Apenas sei que me esquivei a escrever sobre um quadro classificativo que nos devia envergonhar a todos os tomarenses. Sobretudo àqueles que têm andado convencidos de que nos governam. Refiro-me a esta notícia, que não deixa qualquer margem para dúvidas. Estamos nos últimos lugares, tanto a nível regional, como nacional.
Partindo do conhecido princípio moral, segundo o qual nunca se deve continuar a bater em alguém que já está por terra, abstive-me de comentar. Afinal, desde há meses, desde há  anos, que nestas colunas se vem dizendo isso mesmo. Estamos de rastos, a cidade e o concelho vão morrendo pouco a pouco. Não por qualquer fatalidade. Apenas por manifesta incapacidade nossa. De todos nós. Minha, porque não consigo convencer-vos que é forçoso começar a mudar quanto antes. Vossa, porque, ou não vos dais à maçada de ler o que vou escrevendo, ou porque não acreditais no que afirmo, ou ainda porque achais que, não estando tudo bem, está ainda assim o melhor possível.

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O senado tomarense - Foto Rádio Hertz

Mas acicataram-me e acabei por não conseguir resistir. Perante uma situação contraditória, com boa parte dos tomarenses satisfeitos, por um lado, e um quadro classificativo insuspeito, mostrando que não valemos grande coisa, por outro, só me ocorre que se trata afinal de um fenómeno de daltonismo político. Tal como os daltónicos não conseguem distinguir as cores, ficando-se pelo preto e branco, também a maioria dos tomarenses opta pelo que está, apesar de não ser bom, em vez de algo que, na conservadora óptica deles, só poderia ser pior.
No fundo, lá bem no fundo, penso que o grande problema de Tomar não é sobretudo económico, nem político. É social. É a carência de recursos humanos empreendedores, de espírito aberto à mudança e voltados para o futuro. Noutros termos, com a actual população, maioritariamente convencida de que está cheia de razão e que por isso não tem que mudar, vamos continuar inevitavelmente a caminhar para o abismo da irrelevância. Porque não há piores cegos do que aqueles que não querem ver, nem piores surdos que aqueles que não querem ouvir.
Mariano José Pereira da Fonseca, (1783-1848) que se formou em Coimbra, nasceu português mas finou-se brasileiro, foi filósofo, escritor, ministro, senador e marquês de Maricá, disse-o como ninguém, perante o senado brasileiro: "Não admira que os néscios se julguem muito sabedores, eles que têm a vantagem de desconhecer que ignoram."
Parece-me, sem tirar nem pôr, o âmago do drama tomarense. Que, com grande pena, confesso não saber como resolver, caso cada um mantenha a sua posição de sempre.

2 comentários:

  1. Para dizer a verdade, a última vez que estive em Tomar deu-me a sensação de estar cada um no seu canto - uma cidade em coma.
    Esta canção muito bonita encaixa, talvez, na cidade.
    (SITTIN'ON) THE DOCK OF THE BAY
    Sentado No Cais do Porto
    Sentado ao sol da manhã
    Eu vou ficar sentado até que a tarde acabe
    Vendo os navios chegando
    Então eu vou vê-los partirem de novo
    Sentado no cais do porto
    Vendo a maré ir
    Sentado no cais do porto
    Deixando o tempo passar...

    Deixei minha casa na Georgia
    Em direção à Baía de São Francisco
    Não tinha nada pelo o que viver
    Parece que nada vai cruzar o meu caminho

    Então vou ficar sentado no cais do porto
    Vendo a maré ir
    Sentado no cais do porto
    Deixando o tempo passar...

    Parece que nada nunca vai mudar
    Tudo ainda está do mesmo jeito
    Eu não posso fazer o que dez pessoas querem que eu faça
    Então acho que eu vou continuar o mesmo.

    Sentado aqui descansando meus ossos
    Essa solidão não vai me deixar em paz..
    Por 2000 milhas eu vaguei..
    Apenas para fazer desse cais minha casa..

    Agora vou ficar aqui sentado no cais do porto
    Vendo a maré ir
    Sentado no cais do porto
    Deixando o tempo passar...

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