A recente publicação do ranking 2017 das escolas portuguesas permite constatar que, em pelo menos um caso, não são só os políticos locais que embelezam a sombria realidade. Também alguns docentes se têm mostrado demasiado generosos na atribuição de notas. Por isso a crónica anterior termina com uma referência ao adágio segundo o qual não se podem fazer chouriços sem carne, mas há quem vá tentando.
Em estilo mais directo, de acordo com os dados oficiais publicados, há escolas cujos professores são mais benevolentes, ou menos exigentes, do que noutras. Ora faça favor de ler atentamente este quadro, no qual Tomar aparece finalmente à cabeça, mas infelizmente não por boa razão:
Intervalo entre a média dos resultados dos exames e a média das avaliações internas
Concelho e ranking Escola Média dos exames Média interna Intervalo Intervalo médio
1º - TOMAR
253º - E.S. Jácome Ratton 10,70 13,39 2,69
289º E.S. S. M. Olival 10,51 14,36 3,85 (2,69+3,85) 3,27
2º - ABRANTES
186º - E.S. M. Fernandes 10,99 13,68 2,69
335º - E.S. S. Abreu 10,33 13,36 3,03 2,86
3º - SANTARÉM
130º - E.S. G. Machado 11,51 13,99 2,48
158º - E.S. Sá da Bandeira 11,15 13,95 2,80 2,64
4º - TORRES NOVAS
92º - E.S. A. Gonçalves 11,59 13,97 2,38
112º - E.S. Maria Lamas 11,09 13,48 2,39 2, 39
5º - OURÉM
29º - Colégio S. Miguel 12,83 14,49 1,66
86º - Centro Estudos Fátima 11,64 13,74 2,10
161º - E.S. Ourém 11,13 14,06 2,93 2,23
6º - LEIRIA
39º - Col. Pereira da Costa 12,43 13,58 1,15
42º - E.S. da Maceira 12,38 14,18 1,80
96º - E.S. Domingos Sequeira 11,57 13,90 2,33
141º - E. S. R. Lobo 11,28 13,56 2,28
280º - E.S: Lopes Vieira 10,58 13,38 2,80 2,07
Temos assim que, quanto ao intervalo entre a média dos exames e a das classificações internas, Tomar ocupa em 2017 o primeiro lugar destacado entre os seis concelhos considerados, graças aos 3,85 da Escola Secundária Santa Maria do Olival. Poderá dizer-se que é um detalhe sem grande importância. Talvez seja. Mas numa escala de zero a cem, corresponde a um fosso de 19,25 pontos percentuais. Convirá por isso considerar igualmente que esse intervalo entre as notas dos exames e as internas diminui na razão inversa da situação sócio-económica do concelho. Tomar e Abrantes, onde a crise é evidente, aparecem à cabeça, enquanto Leiria e Ourém, que crescem a olhos vistos, ocupam os últimos lugares.
A generosidade, ou menor exigência dos professores, tende a aumentar em função do nível geral das turmas que lhes couberem. É humano. Inflacionar classificações evita problemas com alunos e famílias, contribuindo para encorajar os discentes e melhorar a auto-estima dos docentes. Infelizmente, tal prática, conhecida como inflação de notas, acarreta também vários inconvenientes. Designadamente o de inculcar nos alunos a ideia de que são bons, o que por vezes não é o caso, levando-os posteriormente a criticar professores mais exigentes e a atribuir à má sorte os sucessivos maus resultados conseguidos. Acontece aquilo que um conhecido provérbio resume lapidarmente: "O mau dançarino diz sempre que o sobrado é torto".
Os mais interessados nestas coisas poderão ler aqui que a questão das notas demasiado generosas, tendo em vista também e sobretudo o acesso o ensino superior, são escrutinadas com atenção pelo Ministério da Educação. Falta no entanto apurar se, tal como os políticos em relação aos eleitores, os docentes enfeitam a realidade só para iludir os alunos e os encarregados de educação, ou se afinal se andam também a iludir a si próprios, procurando com tais práticas maquilhar uma realidade cada vez mais desagradável, que se recusam a enfrentar.
(Peço desculpa pelo mau aspecto do quadro. Nunca aprendi a fazer tabelas, porque nunca tive aulas de informática. E agora também já é um bocadinho tarde, porque entretanto aparecerá certamente uma forma de fazer quadros, sem necessidade de programas complexos.)
4º - TORRES NOVAS
92º - E.S. A. Gonçalves 11,59 13,97 2,38
112º - E.S. Maria Lamas 11,09 13,48 2,39 2, 39
5º - OURÉM
29º - Colégio S. Miguel 12,83 14,49 1,66
86º - Centro Estudos Fátima 11,64 13,74 2,10
161º - E.S. Ourém 11,13 14,06 2,93 2,23
6º - LEIRIA
39º - Col. Pereira da Costa 12,43 13,58 1,15
42º - E.S. da Maceira 12,38 14,18 1,80
96º - E.S. Domingos Sequeira 11,57 13,90 2,33
141º - E. S. R. Lobo 11,28 13,56 2,28
280º - E.S: Lopes Vieira 10,58 13,38 2,80 2,07
Temos assim que, quanto ao intervalo entre a média dos exames e a das classificações internas, Tomar ocupa em 2017 o primeiro lugar destacado entre os seis concelhos considerados, graças aos 3,85 da Escola Secundária Santa Maria do Olival. Poderá dizer-se que é um detalhe sem grande importância. Talvez seja. Mas numa escala de zero a cem, corresponde a um fosso de 19,25 pontos percentuais. Convirá por isso considerar igualmente que esse intervalo entre as notas dos exames e as internas diminui na razão inversa da situação sócio-económica do concelho. Tomar e Abrantes, onde a crise é evidente, aparecem à cabeça, enquanto Leiria e Ourém, que crescem a olhos vistos, ocupam os últimos lugares.
A generosidade, ou menor exigência dos professores, tende a aumentar em função do nível geral das turmas que lhes couberem. É humano. Inflacionar classificações evita problemas com alunos e famílias, contribuindo para encorajar os discentes e melhorar a auto-estima dos docentes. Infelizmente, tal prática, conhecida como inflação de notas, acarreta também vários inconvenientes. Designadamente o de inculcar nos alunos a ideia de que são bons, o que por vezes não é o caso, levando-os posteriormente a criticar professores mais exigentes e a atribuir à má sorte os sucessivos maus resultados conseguidos. Acontece aquilo que um conhecido provérbio resume lapidarmente: "O mau dançarino diz sempre que o sobrado é torto".
Os mais interessados nestas coisas poderão ler aqui que a questão das notas demasiado generosas, tendo em vista também e sobretudo o acesso o ensino superior, são escrutinadas com atenção pelo Ministério da Educação. Falta no entanto apurar se, tal como os políticos em relação aos eleitores, os docentes enfeitam a realidade só para iludir os alunos e os encarregados de educação, ou se afinal se andam também a iludir a si próprios, procurando com tais práticas maquilhar uma realidade cada vez mais desagradável, que se recusam a enfrentar.
(Peço desculpa pelo mau aspecto do quadro. Nunca aprendi a fazer tabelas, porque nunca tive aulas de informática. E agora também já é um bocadinho tarde, porque entretanto aparecerá certamente uma forma de fazer quadros, sem necessidade de programas complexos.)
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