quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Santa Iria, sinónimo tomarense de infelicidade

Apesar de mártir, santa e padroeira de Tomar, não se pode dizer que Santa Iria seja sinónimo de êxito. Pelo contrário. A Feira de Santa Iria já conheceu melhores dias e agora até vai ser forçada a abandonar o seu terreiro de séculos. Se nem no tradicional campo de feira -o rossio da vila- conseguiu impôr-se, imagina-se como vai ser na nova localização, seja ela qual for.
O pego de Santa Iria, ali à ilharga do Nabão, tem tido tão pouca sorte que, aquando do mais recente restauro da fachada, só para inglês ver, nem sequer teve direito a uma limpeza, seguida de pintura. Porquê tanto abandono? Ninguém sabe, e a câmara também não explica.

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Do ex-convento de Santa Iria resta agora uma capela e um monte de ruínas. Há mais de uma década, o executivo municipal, então liderado por António Paiva, deliberou que ali será edificado um "hotel de charme" de pelo menos quatro estrelas. Só não disse quando nem como. Posto à venda em conjunto com o ex-colégio feminino, pela módica soma de 2,5 milhões de euros, não apareceram interessados.
Numa segunda tentativa, com o preço reduzido para milhão e meio de euros, vieram representantes de pelo menos duas empresas hoteleiras interessadas, que colheram elementos informativos, mas não mais deram notícias, tal terá sido o susto. Mais recentemente, numa fase já algo desesperada, membros do executivo camarário falaram na eventualidade de uma concessão por qualquer preço, desde que a entidade interessada demonstre capacidade para construir o anunciado hotel de charme. Pois nem assim apareceu o ansiado investidor temerário. Falta de sorte? Ou nítida falta de habilidade e de empenhamento da autarquia?

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Aparece agora com mais acuidade a questão da Estalagem de Santa Iria. Ao cabo de quase cinco anos de mandato, a actual presidente ousou atacar e venceu.A câmara prepara-se nesta altura para receber de novo aquele património do município, abusivamente ocupado durante pelo menos 11 anos, uma vez que a empresa concessionária deixou de pagar as rendas a que se comprometera.
Pelo que transpareceu na reunião do executivo do passado dia 19, é o vice-presidente Hugo Cristóvão que está com a bola nos pés. Mau sinal. Não porque Cristóvão seja incompetente, longe disso. Simplesmente porque, se a presidente Anabela Freitas se virou para outros objectivos, terá sido por intuir que do problema da estalagem nada de bom poderá resultar.
Resta aguardar, sendo porém evidente desde já que se perfilam duas hipóteses principais: 
A - A câmara apresenta um caderno de encargos bem elaborado, com pelo menos o esqueleto de um projecto de requalificação vinculativo, e condições financeiras atractivas, conseguindo assim convencer um investidor;
B - A câmara repete os erros do ex-convento de Santa Iria, mas mesmo assim tem a sorte de lhe aparecer um investidor ousado, como por exemplo o dono da unidade hoteleira da margem oposta.
Caso nenhum destes cenários se venha a verificar, que é o mais provável, vamos ter mais um asilo de ratos na estalagem, como já acontece há anos com o Palácio Alvim (ex-sede da PSP), o ex-Convento de Santa Iria, o Complexo  museológico da Levada ou o ex-Museu municipal João de Castilho, sala João Martins de Azevedo.
Mas estamos no bom caminho. Parece ser quanto basta, porquanto a população não protesta. E quem cala, consente. Se calhar ignorando que, conforme reza o adagiário tradicional, "quem não se sente, não é filho de boa gente."

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