"Está na hora de escolher o mordomo da próxima Festa dos tabuleiros", avança o amigo José Gaio, tomarense dos quatro costados, conquanto tenha vindo ao mundo alhures. Digo isto porque, segundo um velho ditado local, "esta terra é madrasta para os seus filhos e madrinha para os de fora". Uma vez que o ex-director do Templário já sofreu quanto baste, conclui-se que não é dos de fora, o que forçosamente o torna tomarense legítimo, seja lá isso o que for, numa fase em que já ninguém nasce de facto à sombra do castelo templário.
Retornando à hora, ao mordomo e à Festa dos tabuleiros 2019, só posso aplaudir... para não ofenderem a minha falecida mãe. A câmara nada em dinheiro, a qualidade de vida é das melhores do país, os impostos locais não podem ser mais baixos, há habitação com fartura a preços moderados, a água é praticamente à borla, abundam os empregos e os postos de trabalho (o que não é bem a mesma coisa), tudo factores que justificam o bem conhecido aumento da população, conforme resulta dos cadernos eleitorais. Vamos no caminho certo, sem dúvida alguma. Ou, melhor dizendo para respeitar a realidade, estamos no caminho certo.
Faz portanto todo o sentido que, num concelho de 35 mil eleitores (por enquanto...), umas centenas de honrados e convictos cidadãos, que não foram antes votados e por isso não representam ninguém além deles próprios, se reúnam no salão nobre dos Paços do concelho, lá para Março ou Abril, para fingir que decidem duas coisas que já estão decididas: Que há festa dos tabuleiros em 2019 e que o mordomo é o João Victal. Não tem sido sempre assim?
Invocando sistematicamente a tradição, que é imperativo respeitar, vamos portanto ter, em Julho de 2019, mais uma edição da Festa grande de Tomar. Evento que vai custar aos cofres da autarquia, se tudo for devidamente contabilizado, nunca menos de meio milhão de euros. Uma ninharia, para uma câmara que só deve 21 milhões e paga pontualmente aos fornecedores... mais de um ano depois de apresentadas as facturas. Não é uma maravilha?
O próprio mordomo das três edições anteriores, apesar de funcionário municipal, vem mostrando alguma relutância para repetir a dose. Porque será? Terá percebido entretanto que o modelo existente já foi bom? Que a cadela não pode com tanto cão? Que se um dia há uma infelicidade no dia do cortejo (Oxalá que não!), iremos lamentar dezenas de mortos por esmagamento, devido a carência evidente de condições de segurança, nomeadamente por não haver qualquer controlo de entradas?
Havia é claro a hipótese de um novo modelo organizativo para os Tabuleiros, começando por separar tarefas que são distintas: ao mordomo os tabuleiros e os cortejos, a outros o modelo organizativo envolvente, com entradas pagas, segurança e festa todos os anos. Mas isso ia obrigar a pensar e a inovar. Coisas que cansam a cabeça e dão muito trabalho. Por conseguinte, continuemos no rumo certo. Como aqueles veículos de tracção animal que, no tempo das estradas de terra batida, iam sempre pelos mesmos sulcos, porque não havia outro remédio.
É certo que entretanto desapareceu esse tipo de carro, tendo surgido também estradas asfaltadas e auto-estradas, naturalmente sem os tais sulcos, o que permite que cada um circule por onde lhe der mais jeito, desde que respeite o código da estrada. Mas na cabeça de muitos tomarenses ainda nada mudou. Por isso estamos cada vez melhor, graças a Deus. E no caminho certo, nunca é demais repetir.
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