quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Mais uma bronca nabantina

Mais uma bronca nabantina. Desta vez envolvendo dois turistas italianos. 13 comentários no nosso colega Tomar na rede. 25 comentários no Facebook, quase todos bem ao estilo da urbe. De que se tratou afinal? De algo pouco mais que anódino. Dois incautos turistas italianos pararam o carro em plena via, na Alexandre Herculano, para descarregarem a bagagem na Residencial Cavaleiros de Cristo. Quando regressaram tinham sido contemplados com uma multa. 60 euros. Algo que não se entende, numa terra que se julga civilizada, cujos responsáveis apregoam que trabalham para desenvolver o turismo, porém apenas a parte visível do iceberg. Que mesmo assim virou bronca porque, contrariando o habitual, que é comer e calar, uma cidadã resolveu assumir o seu dever de cidadania no Facebook, e fê-lo com muita qualidade. Explicou que tal aconteceu porque aquela unidade hoteleira não dispõe de estacionamento reservado para cargas e descargas, recusado pela autarquia.
Foi quanto bastou para causar bronca contra a Exma autarquia, que foi eleita para nos governar, mas afinal não denota ter planos cabais para tanto. Tomar na rede abordou o assunto ampliando-o e já antes, nestas colunas, um tomarense a viver em Sintra se queixara de um incidente homólogo, que só não deu multa porque falou tomarês com os polícias, coisa que os italianos não podiam obviamente fazer.
Há no Tomar na rede e no Facebook comentários bem contrastados. A maioria contra a PSP e contra a Câmara, mas também alguns defensores da polícia, contra os malandros dos turistas italianos, bem como os habituais lambe-botas, que consideram estar tudo muito bem com a Sra. Dª Anabela Freitas no comando..
Salvo melhor e mais fundamentada opinião, Tomar a dianteira considera o que se passou extremamente grave, não só pelo facto em si, mas por aquilo que revela. Na verdade, ocorrências assim são frequentes, havendo até bem mais graves. Sobretudo no Verão, sucedem-se as broncas lá em cima, junto ao Castelo - Convento, com problemas de estacionamento, falta de casas de banho e até alguns roubos. O que não surpreende porquanto, já com dinheiros europeus, a anterior câmara PSD destruiu a Cerrada dos Cães, para mandar fazer 3 parques de estacionamento. Dois para ligeiros, com pouco mais de 50 lugares no conjunto, e um para autocarros, com sete lugares (!!!). 
Para um monumento que recebe 300 mil visitantes/ano, a maior parte dos quais em Julho/Agosto/Setembro, não restam dúvidas de que fizeram obra asseada. Como é costume por estas bandas. No caso, com umas instalações sanitárias sem acesso para deficientes. Quanto aos outros cidadãos, só passando pelo interior da cafetaria, pois o respectivo concessionário (que de parvo não tem nada) resolveu manter fechado o acesso pelo exterior, naturalmente aproveitando uma lacuna do caderno de encargos da concessão.

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O estacionamento da Cerrada dos cães, antes da obras financiadas pela União Europeia. Onde se vêem os carros, do lado esquerdo, está agora a cafetaria. Ou seja: se já era acanhado, mais acanhado ficou.

Abrigados no confortável silêncio tradicionl dos dóceis eleitores tomarenses, alguns continuam manobrando no sentido de se perpetuarem nos lugares que ocupam. Uns comprando votos a prazo, outros agindo dissimuladamente para desencorajar qualquer tentativa de se autonomizar em relação à autarquia, o que poderia vir a ser-lhes extremamente prejudicial. Afinal, antes da crise de 2008 já tinham conseguido, respeitando sempre a legalidade, enxotar  os construtores civis do concelho. Bastou-lhes ir apresentando exigências e mais exigências, nem todas muito ortodoxas.
Uma década mais tarde, já com as empresas de construção civil de fora a virem trabalhar em Tomar apenas episodicamente, e jurando após a primeira experiência que nunca mais cá as apanham, porque não repetir o esquema com os hoteleiros e os turistas?
Apertar a legislação sobre ocupação da via pública, interditar o estacionamento gratuito quando possível, castigar os visitantes, discriminar os tomarenses, eis o que a nossa câmara está a fazer. Em parte por vontade de alguns técnicos superiores, cujas intenções não são muito cristalinas; em parte por manifesta desorganização, como é evidente na área do estacionamento.
A PSP não pode ser culpada, uma vez que os seus agentes se limitam a cumprir as tarefas que lhes são confiadas pela cadeia de comando. E quem dá ordens ao comando, frequentemente mal formuladas e pouco ponderadas, é a autarquia. Com o resultado que está à vista.
Avolumam-se assim os indícios de que os tomarenses, ou tomam consciência da alhada em que estamos metidos, e agem em consequência, ou o melhor será irem procurando outras áreas verdes, que a erva tomarense é cada mais escassa, salvo nalgumas vias da cidade antiga. 
Não queiram ter de clamar mais tarde, como Bocage há três séculos: Erros meus, má fortuna, amor ardente...


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