segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Quem nos acode?!

Bem vistas as coisas, médicos, outros académicos, polícias, analistas políticos ou governantes eleitos, todos procedem da mesma forma nas suas funções principais. Examinam com cuidado o objecto de estudo, identificam os sintomas, fazem um diagnóstico e estabelecem uma terapêutica. Mais precisamente, os candidatos a governantes apresentam, ou deviam apresentar, num programa político, o seu diagnóstico, resultante de estudo aprofundado, naturalmente seguido da terapêutica que propõem.
Como bem sabem todos os que se interessam pela política local e têm capacidade para raciocínios de grande amplitude, em Tomar quase nada disso foi feito. Apareceram realmente uns programas, quase todos feitos à pressa e mal fundamentados. Com a notável excepção da CDU, cujo candidato nem sequer foi eleito e do BE, idem idem. Assim vai a política tomarense.
Apesar de tal estado de coisas, ou se calhar por causa dele, as mazelas nabantinas são agora bem conhecidas, nomeadamente graças aos novos meios de informação, que permitem ultrapassar a tradicional autocensura. Eis uma lista sucinta dos sintomas: Hemorragia demográfica, falta de postos de trabalho, falta de investimento, falta de sanitários públicos em quantidade e qualidade, falta de saneamento adequado no ângulo sudoeste do centro histórico, falta de estacionamento na área urbana mais central, falta de estacionamento junto ao Convento de Cristo, falta de uma ligação rápida e não poluente entre o centro histórico e o conjunto Castelo dos Templários - Convento de Cristo, falta de adequada sinalização, tanto turística como rodoviária, falta de um plano municipal de turismo devidamente estruturado, excesso de despesas permanentes do Município, fraca qualidade de vida, custos excessivos, taxas municipais exageradas, excesso de burocracia.
Face a este rol de desgraças, resultado de anos de deixa andar, todas interligadas, como não podia deixar de ser, que propõe a actual maioria autárquica? Sobretudo, senão mesmo exclusivamente, que se aproveitem os fundos europeus, na área da reabilitação urbana. Tratando-se no caso tomarense basicamente disso mesmo, de reabilitação de uma cidade que já foi um exemplo, verificou-se que, apesar de muita conversa, não existiam quaisquer planos feitos. Nem bons nem maus.

Foto Rádio Hertz

Ao cabo de mais de quatro anos de mandato, lá acabaram por surgir alguns projectos. Os principais são o realojamento dos ciganos do Flecheiro, o arranjo da Várzea Grande, o arranjo da Avenida Nun'Álvares, o arranjo da Rua Torres Pinheiro, o arranjo da Praceta Raul Lopes e o arranjo da estrada do Prado.
Exceptuando o realojamento dos ciganos, que se impunha e está em curso, o resto é muito controverso. Trata-se sobretudo de obras de fachada, para basicamente ornamentar, enfeitar, decorar, maquilhar, porém sem grande utilidade prática. Dois exemplos: 
1 - No caso dos arranjos da Nun'Álvares e da Torres Pinheiro, o mais importante em termos práticos era a construção da rotunda, no cruzamento com a Combatentes da Grande Guerra. Pois fica para melhor oportunidade. Não se sabe porquê, uma vez que o executivo não explica.
2 - Havendo já evidente falta de estacionamento, sobretudo no centro histórico, e dando-se o caso da prevista requalificação da Várzea Grande ir suprimir mais algumas centenas de lugares, está-se mesmo a ver que se impunha um grande parque de estacionamento subterrâneo naquele largo, já integrado no tal plano municipal de turismo, que por enquanto não há, mas é inevitável e inadiável. Pois também não senhor, com uma muito curiosa justificação, em plena reunião do executivo. Segundo Anabela Freitas, "Há cinco milhões de fundos comunitários, verba que até poderia não chegar para o parque de estacionamento, pelo que o Município preferiu aplicar esse valor noutros projectos na cidade."  Por outras palavras ao alcance de todos, o paciente padece de cancro em estado avançado, pelo que se impunha uma intervenção cirúrgica. Mas como a verba disponível "até poderia não chegar" para essa intervenção, preferiu-se aplicá-la num arranjo das unhas, num corte de cabelo, num vestido e nuns sapatos de marca, mais umas coisas de fachada, que é para se verem. Quanto à operação, está-se a elaborar outra solução equivalente.
Com uma análise tão cuidada e rigorosa que até permite expressões do tipo "poderia não chegar", o que significa que tal hipótese nem sequer foi alguma vez estudada em detalhe, qualquer cidadão minimamente consciente só pode ficar preocupado. Mas que se há-de fazer? A oposição não protesta. Limita-se a falar de "oportunidade perdida", quando seria mais adequado dizer "asneira monumental". A Assembleia Municipal é uma evidente inutilidade. Os tomarenses são um dócil rebanho do Senhor. E o concelho vai de mal a pior. A doença é bem conhecida, com  sintomas que só podem agravar-se. Até que seja demasiado tarde.
Perante isto, quem nos acode?! Em último caso, até eu que sou baptizado católico, porém não praticante há muitos anos, não consigo evitar uma exclamação bem sentida: Valha-nos Deus!!! 

2 comentários:

  1. "Evidente falta de estacionamento".
    Na minha recente visita a Tomar marquei hospedagem nos Cavaleiros de Cristo, depois de cerrado regateio com o filho do Sr. Henrique das Estrelinhas. "Ok., está bem. Mas sem pequeno almoço!"-rematou. "Esse preço que você pagava na Res. União [agora em obras] foi antes do 25 de Abril...", ironizou. Mentira! Para descarregar a pequena bagagem (ainda com sequelas de um acidente grave que tive numa perna) aproximei a carro do hotel. A rua estava lotada. Parei à entrada da rua em cima do passeio. Entretanto, junto ao Beira Rio parou um carro da polícia. Quiseram multar-me. Choraminguei baba e ranho e contei a história da perna, não posso ainda carregar pesos, é já ali, tiro já o carro. Os dois agentes viraram costas, desta vez passa, tire o carro daqui. Sim senhor! Obrigadinho! Eu sei muito bem onde deixei o carro três dias, ali perto, à canzana, mas não digo. Não havia um lugar livre na V. Pequena e arredores. Não me obriguem a deixar o carro na V. Grande, tenho artérias afetadas pelo tabagismo. Sou um drogado.

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    1. Vem mesmo a talhe de foice. Como apesar de estares pior da perna, como a cidade, enche-te de coragem e vai a http://tomarnarede.blogspot.com.br/2018/02/turistas-multados-quando-descarregavam.html ver do que te livraste. Com esta câmara vamos longe!

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