"Vale mais prevenir que remediar", diz a tradição popular. Que logo acrescenta "Homem prevenido, vale por dois". Pois vamos lá então à prevenção.
Quem ouve António Costa fica com a ideia que está tudo bem e que vamos pelo bom caminho, não havendo razões para nos preocuparmos. O que facilita a tarefa reivindicativa dos seus parceiros na geringonça. A tal ponto que a experiente (julga ela) Catarina Martins até afirmou não entender o veto presidencial ao diploma de quebra do sigilo bancário acima dos 50 mil euros.
A própria informação nacional nada difunde que possa pôr em causa o evidente optimismo e a irradiante simpatia de António Costa. Assistiu-se até ao exacto oposto. A proliferação de informações e opiniões várias, todas condenando o excessivo pessimismo de Pedro Passos Coelho.
Pois pasmem leitores. Além fronteiras, o clima é outro e as opiniões sobre o nosso país não são mesmo nada optimistas. Eis aqui a primeira página do Le monde datado de ontem (ver fotocópia): "Crise do Deutsche Bank: A Europa treme pelo seu sistema financeiro"
"Além do caso alemão, o sector bancário europeu tem dificuldades provocadas pelas baixas taxas de juro. E comporta bolsas de fragilidade na Itália e em Portugal."
Mais adiante, na página 3 do Le Monde economia e empresa, as notícias são ainda menos animadoras: "Muito foi feito nestes últimos meses, tanto pelo BCE como pelas autoridades nacionais de tutela, para aumentar as reservas bancárias e portanto a capacidade de resistência a eventuais futuros choques económicos. Mas mesmo assim subsistem duas bolsas de fragilidade na zona euro: a Itália e Portugal.
O problema destes dois países não resulta da situação difícil de um ou de vários bancos. É geral. É uma consequência do contexto nacional de crise económica e dos créditos incobráveis, tanto de particulares como de pequenas e médias empresas.
Embora menos mediatizados que o Deutsche Bank, os casos italiano e português são considerados pelos economistas como mais graves e de mais difícil resolução. Potencialmente mais explosivos que o banco alemão, caso não venham a ser solucionados rapidamente."
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"Em Portugal, apesar da ajuda recebida no âmbito do Plano de salvação da União europeia e do FMI de 2012, o sector bancário mostra muitas dificuldades para ultrapassar a crise e a explosão das imparidades. Os bancos portugueses receiam aumentos bruscos e acentuados dos seus custos de financiamento, caso a notação do país venha a ser degradada pelas agências especializadas, devido à elevada dívida, aquando do novo exame, em Outubro."
Por conseguinte, lamento ter de o dizer, ao contrário do que parece, sendo que em política o que parece é, Passos Coelho tem razão. Após leitura atenta do prestigiado jornal francês, penso que o excessivo optimismo de António Costa ou é hipócrita, ou resulta de bem disfarçada ignorância.
anfrarebelo@gmail.com
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