domingo, 9 de outubro de 2016

À moda antiga

Está na moda, pelas bandas de Tomar, um certo revivalismo. Motos antigas, carros antigos, mercados de antanho e até Seisseira medieval. Não me surpreende que assim aconteça, porquanto  os próprios hábitos políticos nabantinos são também à moda antiga. Vejamos.
Antigamente, nos tempos da monarquia, tínhamos um soberano com poderes absolutos, chamado rei. Esses seus poderes absolutos, que herdava, eram de origem divina. Donde a inscrição nas moedas da época "fulano, rei de Portugal pela graça de Deus". Por conseguinte, não tinha quaisquer satisfações a dar aos seus súbditos que, sabedores disso, um saber de experiência feito, se limitavam a murmurar Amen, quando lhes solicitavam opinião.
Mais tarde, após o regicídio e uma primeira república caótica, voltámos a ter uma espécie de rei. Também tinha poderes absolutos, porém de origem militar e garantidos por uma sinistra polícia política que reprimia ferozmente qualquer tentativa de resistência. Durou quase meio século a ditadura liderada por Salazar, vindo a terminar como começara: com um golpe militar. Quem com ferros mata, com ferros morre.
Tanto nos tempos da monarquia como durante a ditadura salazarista, o governante concelhio, sucessivamente designado alcaide, administrador do concelho e depois presidente da câmara, nunca foi eleito. Nomeado pelo governo, era ao governo que tinha de prestar contas. O povo só contava então para pagar impostos. Foi a época em que o concelho era governado pela opinião dominante da clientela do Café Paraíso. A então elite local. Outros tempos.


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Sei quem é. Respeito-a enquanto cidadã. Critico-a como política. A sua vida privada não me interessa. Salvo quando tenha implicações evidentes na qualidade do desempenho do cargo que ocupa. 
A mudança?! A cor do cabelo já é outra.  Resta aguardar a mudança de política. Sentado e cheio de paciência.

A eleição livre e directa dos autarcas, que o pós 25 de Abril tornou prática comum, veio alterar totalmente os hábitos antigos. Eleito pelo povo, cada autarca não é mais afinal do que simples representante dos eleitores. Não só dos que nele votaram, mas também de todos os outros. O que significa que lhes deve, a todos, explicações completas e detalhadas sobre a sua actuação, sempre que solicitadas. Isto porque os seus poderes não são de origem divina. Foram-lhe outorgados provisoriamente pelos eleitores, apenas enquanto durar o mandato fixado por lei.
Carecem assim de qualquer base legal as actuações sigilosas, bem como as recusas de informar atempadamente e com verdade qualquer cidadão, infelizmente tão frequentes na câmara de Tomar. Testemunham tão só que quem as pratica e, pior ainda, as incentiva, além de ignorante das coisas da história, só pode ter, citando Manuel Alegre, em plena Assembleia da República, "alma de lacaio e feitio de ditador". Além de indiciarem que quem tanto se preocupa com a confidencialidade das sessões do executivo, terá decerto muito para esconder aos eleitores.
Para o bem e para o mal, sobretudo nas cidades pequenas e médias, tudo acaba por se saber. Basta aguardar e ter memória. Como reza o provérbio: "Dá tempo ao tempo. O tempo dar-te-à todas as respostas." Pode é já ser tarde demais...

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