Mário Cobra
Somos certamente dos raros portugueses que
ainda não foram ao IKEA. Talvez o editor deste blogue, António Rebelo, também
ainda não tenha visitado este santuário do móvel e afins. Vai um ror de anos,
um nosso amigo orgulhava-se de se incluir no restrito grupo de portugueses que
ainda não tinham visto aquele filme amplamente familiar que dá pelo nome de
“Música no coração”. Dá pelo nome, porque ainda é vivo. Pelo menos enquanto
houver portugueses, música e corações.
Quando dizemos a alguém “Nunca fui ao IKEA”, o
interlocutor não acredita, retorquindo logo perplexo “Tu nunca foste ao IKEA?”,
olhando-nos de soslaio, como se sofrêssemos de lepra ou alergia à evolução, como
se fôssemos um motorista da Uber ou um tomarense a declarar nunca ter ido à
Corredoura ou jamais ter visto o rio Nabão.
Na nossa cavernícula opinião nunca será ganhador da câmara municipal um candidato que ainda não tenha ido ao IKEA. Imagine-se a pergunta de algum perspicaz represente da “comichão” social:
Na nossa cavernícula opinião nunca será ganhador da câmara municipal um candidato que ainda não tenha ido ao IKEA. Imagine-se a pergunta de algum perspicaz represente da “comichão” social:
-O que pensa da vinda do IKEA para Tomar?
- Para ser sincero, nunca lá fui.
Perante esta resposta do incauto candidato,
decerto a opinião pública recalcitra:
- Olha o melro, coitado, nunca foi ao IKEA! E
mesmo assim quer ser presidente da câmara! Há cada um!
Procurando minorar esta nossa insuficiência,
ousamos opinar que devia ser constituída a tertúlia dos que ainda não foram ao
IKEA, assim como existe a tertúlia dos terças, quartas, sextas, sábados, não
fumadores, os que usam uma orelha de cada lado, dos barbos, das alcagoitas, dos
chícharos, dos que não comem esturjão, dos que não bebem champanhe francês, dos
que querem a festa dos tabuleiros todos os anos, com o objectivo da cidade andar
limpa... Infelizmente, por agora não existe
a tertúlia dos que ainda não foram ao IKEA,mas julgamos que não tardará aí tal melhoramento social. É o progresso, que
diabo!
Para a próxima campanha eleitoral, aqui fica o
alvitre à junta de freguesia “junção de não sei quê, com não sei que mais” para
organizar uma visita de estudo ao IKEA, naturalmente em autocarros pagos pelo
erário público. Com almoço e lanche ajantarado, tudo bem regado e também à conta do orçamento
municipal, que a ordem é rica, os frades são cada vez menos e convém à cautela
ir comprando votos disfarçadamente. Do tipo “Na próxima eleição não se
esqueçam de quem ofereceu este agradável convívio cultural.”
Vamos a isso, antes seja tarde. Não vá o
dinheiro de Bruxelas encaminhar-se para outras paragens menos esbanjadoras.
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