sábado, 8 de outubro de 2016

Os tristes que nunca foram ao IKEA

Mário Cobra

Somos certamente dos raros portugueses que ainda não foram ao IKEA. Talvez o editor deste blogue, António Rebelo, também ainda não tenha visitado este santuário do móvel e afins. Vai um ror de anos, um nosso amigo orgulhava-se de se incluir no restrito grupo de portugueses que ainda não tinham visto aquele filme amplamente familiar que dá pelo nome de “Música no coração”. Dá pelo nome, porque ainda é vivo. Pelo menos enquanto houver portugueses, música e corações.
Quando dizemos a alguém “Nunca fui ao IKEA”, o interlocutor não acredita, retorquindo logo perplexo “Tu nunca foste ao IKEA?”, olhando-nos de soslaio, como se sofrêssemos de lepra ou alergia à evolução, como se fôssemos um motorista da Uber ou um tomarense a declarar nunca ter ido à Corredoura ou jamais ter visto o rio Nabão. 
Na nossa cavernícula opinião nunca será ganhador da câmara municipal um candidato que ainda não tenha ido ao IKEA. Imagine-se a pergunta de algum perspicaz represente da “comichão” social:

Um jovem a beber café num Restaurante IKEA 


-O que pensa da vinda do IKEA para Tomar?
- Para ser sincero, nunca lá fui.  
Perante esta resposta do incauto candidato, decerto a opinião pública recalcitra:
- Olha o melro, coitado, nunca foi ao IKEA! E mesmo assim quer ser presidente da câmara! Há cada um!
Procurando minorar esta nossa insuficiência, ousamos opinar que devia ser constituída a tertúlia dos que ainda não foram ao IKEA, assim como existe a tertúlia dos terças, quartas, sextas, sábados, não fumadores, os que usam uma orelha de cada lado, dos barbos, das alcagoitas, dos chícharos, dos que não comem esturjão, dos que não bebem champanhe francês, dos que querem a festa dos tabuleiros todos os anos, com o objectivo da cidade andar limpa... Infelizmente, por agora  não existe a tertúlia dos que ainda não foram ao IKEA,mas julgamos que não tardará aí  tal melhoramento social. É o progresso, que diabo!
Para a próxima campanha eleitoral, aqui fica o alvitre à junta de freguesia “junção de não sei quê, com não sei que mais” para organizar uma visita de estudo ao IKEA, naturalmente em autocarros pagos pelo erário público. Com almoço e lanche ajantarado, tudo bem regado e também à conta do orçamento municipal, que a ordem é rica, os frades são cada vez menos e convém à cautela ir comprando votos disfarçadamente. Do tipo “Na próxima eleição não se esqueçam de quem ofereceu este agradável convívio cultural.”
Vamos a isso, antes seja tarde. Não vá o dinheiro de Bruxelas encaminhar-se para outras paragens menos esbanjadoras.

                  

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