É como canta, desde os anos 60 do século passado, o novo Nobel da literatura. Os tempos estão mesmo a mudar. Até na política em Portugal. Ou na usualmente emperrada política nabantina. Quem ousaria prognosticar, há uns tempos atrás, que o outrora rígido PCP ainda haveria de se posicionar de forma a poder capitalizar, acumulando pontos, colaborando com a governação em Lisboa e integrando a ex-relativa maioria PS em Tomar? Ninguém, sem quaisquer dúvidas. E no entanto...
E no entanto é aquilo que vão fazendo em Lisboa, com a geringonça, bem como em Tomar, com o trabalho honesto e devotado do vereador Bruno Graça. Que naturalmente vai aproveitando os ensejos para ampliar e difundir os créditos da CDU e os seus. Tarefa muito facilitada por uma experiência política de décadas, (que isto quem sabe raramente esquece), mas igualmente graças a uma conjuntura autárquica jamais vista em Tomar. Com efeito, cada um por seu lado, independentes, laranjas e rosas mais parecem baratas tontas à procura de um norte político, do que políticos responsáveis, eleitos pelos seus conterrâneos, a quem devem contas, que não prestam, no duplo sentido do termo.
Detalhando, de forma ordenada e por ordem decrescente. Anabela Freitas parece entreter-se a acumular erros. Após a interminável trapalhada do chefe de gabinete, surgiu o caso Serrano. Consumada a ruptura entre este e o PS, em vez de procurar estabelecer pontes via diálogo sereno e ponderado, não senhor. Afirmou, em entrevista à Hertz tratar-se de um não assunto. De algo a que não atribui importância. Assim publicamente enxovalhado, o ex-vice presidente que o PS Tomar foi buscar a Abrantes, procura logicamente retaliar, votando com a oposição. Como no lamentável caso das reuniões semanais, numa câmara que pouco tem para discutir, conforme é público e notório.
Entusiasmados com a maioria assim de repente conseguida de bandeja, os laranjas, que já antes haviam exigido eleições intercalares, terão conversado a esse respeito com Serrano e Pedro Marques, tendo este apresentado, em nome dos IpT, uma proposta visando retirar à presidente as competências que lhe foram delegadas por toda a vereação em 2013. Maneira pouco diplomática de atar o executivo de pés e mãos, impedindo a relativa maioria PS, mesmo coligada com a CDU, de governar, assim tornando inevitáveis eleições intercalares a curto prazo.
Ou porque, à última hora, se deu conta de que nenhum dos grupos representados no executivo, excepto a CDU, está preparado para eleições. Ou porque terá concluído tarde demais que afinal se tratava apenas de terminar o actual mandato, o que quer dizer menos de um ano. Fosse porque fosse, Pedro Marques acabou por retirar a proposta, sem qualquer explicação, meia hora antes da reunião camarária, onde ia ser debatida e aprovada. Manobra abortada portanto. Eleições só as normais.
Entretanto, os laranjas andam de Herodes para Pilatos. dizendo coisas e fazendo o seu contrário. Mostram-se incapazes de apresentar atempadamente um cabeça de lista, e até de marcar uma data, oficial e conhecida de todos, para a sua escolha. Como se tal não bastasse, um seu destacado militante, candidato a candidato, louva a actual forma de oposição, que tão bons resultados tem conseguido, como a opinião pública bem sabe: "Entendo que tanto o PSD... ...como os Independentes têm exercido os seus mandatos de forma construtiva, em detrimento daquela postura a que por vezes assistimos de "bota abaixo". Sem dúvida esta é a opção correcta..." (Luís Boavida, na recente entrevista ao Templário). Por conseguinte, nada de provocar eleições antecipadas, como se pode constatar, ao contrário do que antes defenderam os seus companheiros.
Mas ousou ir bem mais longe o moderado e influente militante Boavida: " O eng. Bruno Graça tem um percurso de vida que fala por si. Como se costuma dizer, é daquelas pessoas que já não precisa de provar nada a ninguém. É seguramente um aliado de peso, na difícil tarefa da governação do município." (Luís Boavida, na mesma entrevista ao Templário). Tentativa prematura e canhestra de recuperar a perdida chefia da divisão financeira? Indicação clara de que poderá haver coligação, se antes houver eleição ganha para a chefia do executivo? Em qualquer caso, uma evidente passadeira vermelha para Bruno Graça, que não tardou em aproveitar a ocasião. E um camuflado atestado de incompetência aos seus companheiros partidários.
Após uma recente salva de artilharia do seu representante na Assembleia Municipal, que julgou oportuno proclamar, no meio da actual bagunça, que a CDU é única força política capaz de governar o concelho, tendo forçado Anabela Freitas a declarar publicamente que compreendia tal posição do seu aliado, apesar de antes ter dito que não falava com o seu ex-vice-presidente e parceiro de lista, Bruno Graça terá obtido o acordo tácito do PCP para dar mais umas marteladas no mesmo prego, na conferência de imprensa de ontem. Que aproveitou para atacar fortemente Serrano, Marques e Tenreiro. Com três objectivos bem claros: 1 - Tornar evidente que é ele de facto o actual líder da coligação; 2 - Mostrar ao atarantado PS local que, caso queiram ganhar em 2017, terão de ir coligados com a CDU; 3 - Caso falhe esse acordo pré-eleitoral, tentar uma campanha política forte, visando conseguir o segundo vereador, que afinal está a escassos 2 mil votos, e permitiria arredar de vez o incómodo Pedro Marques e os seus protagonismos serôdios.
Não está nada mal imaginado, não senhor. E parece-me alcançável.
Não está nada mal imaginado, não senhor. E parece-me alcançável.
Resta aguardar os próximos capítulos, que prometem. Sobretudo ali para as bandas da Rua da Fábrica de Fiação. Porque são eles os maioritários relativos da paupérrima oposição, que Bruno Graça, com extrema habilidade, acaba de colocar no meio do rio, a situação mais incómoda em política. Saberão sair de lá em tempo oportuno?
anfrarebelo@gmail.com
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