segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Inquérito no âmago da Feira de Santa Iria

Mário Cobra

Nota prévia  
Esta reportagem é totalmente ficcionada, por isso muita próxima da realidade.

Face aos últimos e profundos desenvolvimentos relativos ao funcionamento do senhor executivo da autarquia, nomeadamente a proposta aprovada pelos quatro vereadores da oposição, contra três da posição, no sentido do órgão reunir de forma tesa todas as semanas em vez de amorfos quinze em quinze dias, fomos ouvir os munícipes em plena Feira de Santa Iria, comendo uma fartura bem no âmago da tradicional e característica chinfrineira. Já dizia um folgazão “Feira sem música estridente, é como um esfomeado sem poder dar ao dente”.


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Começámos por ouvir o munícipe José Espiga, mulher ao lado, que nos aclarou “Eu e a minha santa gostámos muito dessa decisão que muito vai fazer o concelho progredir. Tanto assim que quando soube (disse sube)  da notícia fui logo beber um copo de água-pé. A minha mulher bebeu dois. Ela é sempre assim. Não gosta de ficar coxa. Eu é que às vezes já não posso. A idade, sabe... Como ia dizendo, esta decisão vai ser tão boa para o concelho que já decidimos. Para o ano não vamos semear nada. Já temos uma trabalheira a regar os tomates e chega assim, não é mulher?" (Risos, sem que o repórter percebesse a razão).  
O munícipe António Alpercata, mulher atrás, assumiu “Eu há c´anos que vinha dizendo à minha espingarda (a esposa) que o concelho só ia prá frente se o executivo reunisse todos os dias. À segunda a tratar do lixo, à terça dos pastéis de cão, à quarta dos saldos dos parquímetros, à quinta do mercado da sexta, à sexta para preparar as saídas de sábado, ao sábado à noite pra fazer o balanço das idas às festas, ao domingo pra preparar a reunião de segunda-feira,  e assim por aí fora. Só deixava de reunir quando os assuntos estivessem todos resolvidos, em especial os mais necessitados, não é mulher?" (A esposa não respondeu, porque se encontrava entretida a comer um bolo, mas visivelmente a pensar noutra coisa).
O munícipe Manuel Esponja, sozinho que nem um eremita, assumiu: “Olhe, os que discordam das  reuniões semanais têm é inveja dos 69… Sessenta e nove euros que cada um destes vereadores da oposição recebe, quando a intenção destes senhores é apenas resolver os problemas do concelho. Escreva isto, tenha a coragem de escrever isto. O pessoal tem é inveja dos 69…sessenta e nove euros pró bolso.
O munícipe João Destempero foi directo: “Quero lá saber das reuniões da câmara pra alguma coisa! Dão dinheiro a alguém? Só pra eles, não é?. Vou mas é ali às tasquinhas comer umas entremeadas e molhar a goela. Estou-me cagando prá política. Vou andando. Quer vir? Não pode? Então passe bem!”
Assim se manifesta a nata da nossa gente… comendo, cagando e andando. Tal como os nossos  queridos autarcas. Apenas um pouco mais ostensivamente.

1 comentário:

  1. Uma bela peça de escárnio e zombaria inspirada na sarrabulhada política nabantina.
    O sr. Destempero é um grande reacionário.
    O que nos vai valendo é a nossa querida Geringonça.

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