domingo, 23 de outubro de 2016

A mesma doença

É natural que os textos criticando a oposição, que aqui se publicam, surpreendam uns e irritem outros. Numa conjuntura pouco animadora e perante um relativa maioria que, 42 anos após Abril, se limita de facto a despachar  os assuntos correntes, atacar a oposição e não quem devia governar parece coisa estranha, a cheirar a questão pessoal.
Pode cheirar, mas não é. Nada tenho de pessoal contra os respeitáveis eleitos que integram a impropriamente chamada oposição. Como de resto também nada de particular me anima contra os respeitáveis eleitos que julgam ir governando, com o sucesso que conhecemos. Como bem sabe quem costuma ler aquilo que escrevo, critico, não com intuitos  de bota abaixo, mas apenas buscando que as coisas possam ir melhorando. O que infelizmente não tem sido o caso. Culpa minha também, pois mostra que não consigo convencer.
No fundo, até nem devia surpreender que assim seja. Não constando que algum dos eleitos que integram o executivo tenha experiência internacional, que tenha vivido e trabalhado no estrangeiro, é lógico que todos tenham mentalidade de confinados. De quem não conhece nem imagina como possa ser a prática política de um executivo autárquico noutras paragens. Por essa Europa fora. Por esse Mundo adiante. Procedem portanto em conformidade com a sua formatação, que no fundamental está longe de ser a melhor, incapazes de ir mais além. Falta-lhes Mundo. E há muito mais Mundo, para além de Carvalhos de Figueiredo, ou mesmo da praia da Manta Rota.

Resultado de imagem para fotos do convento de cristo em tomar


Angkor, Kopf von Lokeshara in der Tempelanlage "Bayon".
Detalhe de um templo em Angkor - Camboja

Limitação que é agravada por outra mazela política tipicamente tomarense: a incapacidade de aprender com os erros, que os condena à repetição dos mesmos. Procurando evitar que este escrito seja demasiado longo e assim enfadonho para os menos habituados à leitura (a esmagadora maioria dos tomarenses) fiquemo-nos pela experiência Paiva.
Homem do norte (com tudo o que isso pode significar), então forasteiro de fresca data, o docente Paiva foi eleito, fez um mandato na oposição e aprendeu rapidamente. Conseguiu maiorias impressionantes, mesmo governando como um ditador  de facto, tal era a diferença entre o seu constante e ousado protagonismo, e a entorpecida actuação da oposição então existente. Que de oposição só tinha o nome. Como desde então e agora.  Foi tão chocante tal carência, que até levou Pedro Marques e alguns dissidentes da CDU a fundarem os IpT, justamente para que as coisas mudassem. Não mudaram, como é bem sabido, mas isso é já outra história local. Com letra pequena.
Vendo agora a aventura Paiva do fim para o princípio, só pode causar preocupação a actual conjuntura política local.
Uma vez que, apesar dos inúmeros e evidentes erros cometidos (Estádio, Mouchão, Campismo, Estrada do Convento, Pavilhão e parque de estacionamento junto ao estádio, ParqT...), todos com o apoio da oposição da época, ainda hoje  o pequeno mundo político nabantino pensa que fez uma grande obra, que aconteceria se voltasse a candidatar-se? Já alguém ouviu os oposicionistas colaborantes da época -os tais da oposição construtiva tão ao gosto do pré-candidato Boavida- admitir as suas culpas no evidente desastre? Claro que não. Todos fizeram o seu melhor. Afinal e no conjunto uma bosta monumental. Que ninguém assume, à boa maneira tomarense.
Tudo isto para dizer que o problema nabantino, que é grave e pode ser mortal a longo prazo, se nada adequado for feito entretanto, não se resolve só com a escolha de cabeças de lista e dos respectivos acompanhantes para o funeral. Há que ter a coragem de encontrar e apoiar quem seja capaz de inovar. Tanto na maioria, como na oposição. Quem tenha outra mentalidade. Quem não seja prisioneiro da infelizmente dominante maneira de ser tomarense.
O evidente contentamento dos Hugos, o peculiar convencimento da candidata Anabela, as escancaradas hesitações do PSD, as óbvias dúvidas existenciais de Pedro Marques, a nefasta errância de Serrano e as inquietantes certezas Bruno/CDU, um modelo já condenado alhures, causam-me sérias preocupações, sobretudo porque não me surpreendem. Afinal, bem vistas as coisas, padecem todos da mesma doença, de forma mais ou menos acentuada: tomarensismo entorpecente. Principal sintoma: "Somos o centro do mundo. Para quê mudar, se nem estamos assim tão mal?!"
Escrevo-o com mágoa. Bem gostaria de estar enganado. Todavia, como bem disse António Gedeão, no seu "Poema da malta das naus", "Não se nasce impunemente nas praias de Portugal". Em Tomar então, ainda é pior!

anfrarebelo@gmail.com

3 comentários:

  1. Concordo com o responso aos bandos políticos tomarenses. Pena estar eivado pela referência algo negativa à Borda da Estrada, localidade onde nasceu muito boa gente - e continua a nascer. Disso não tenho dúvidas. Podia dar exemplos.

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    1. Não era de todo a intenção. Apenas se pretendeu falar de horizontes. De qualquer forma há sempre excepções que confirmam a regra.

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  2. A verdade é só uma, estamos a dias de bater no fundo do poço. A falta de liderança nos destinos de Tomar está a sair bem caro aos tomarenses, a falta de visão estratégica para crescimento e desenvolvimento económico é paradigmática. É preciso não esquecer, que vivemos no verdadeiro mercado global, onde conquistar espaço é só mérito de alguns. Mas qualquer que seja o partido em Tomar, não há um que apresente um projecto de qualidade. Do céu não cai investimento e dinheiro dos investidores é bem preciso na verdade, viajar por esse mundo fora e convencer os ricos a investir em Tomar é um aborrecimento, para os últimos lideres autárquicos em Tomar. Pois não se admirem que vá tudo para Abrantes, serviços públicos e investimentos. Apesar disso ambas as autarquias são liderads por uma mulher, uma é uma verdadeira líder com uma visão estratégica global e uma grande conhecedora dos desafios do mundo global, outra nem saba o que é liderança, governa com uma visão restrita aos limites geográficos do seu município. O resultado em Tomar é apenas este: desemprego galopante, uma grande vaga de emigração, envelhecimento e pouca receita arrecadar nos cofres da autarquia.Já em a Abrantes a situação diferente: próxima pleno emprego, pouca vaga de emigração e de elevadas receitas a arrecadar nos cofres da autarquia, tudo fruto da grande actividade económica. Palavras para quê? Qualquer um vê isto...Será?

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