quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Apagar o fogo com gasolina

Segundo O Mirante, na reunião camarária da passada segunda-feira, dia 10, a oposição aprovou uma proposta do vereador Pedro Marques, líder dos Independentes por Tomar, que muda a periodicidade daquelas reuniões, de quinzenais para semanais. Tive de reler várias vezes, para me certificar que não estava com alucinações. Feito isso, lá acabei por me convencer que estava mesmo na real.
Desde o início do actual mandato, que já dura há três anos, a oposição não se tem distinguido muito. A bem dizer, tirando uma ou outra picardia, nem se consegue vislumbrar a sua real utilidade. Quando confrontados com tão triste e condenável estado de coisas, os interpelados costumam dizer que, sendo minoritários, pouco ou nada podem fazer, pois são sempre derrotados. Desculpas de circunstância.
Agora que conseguiram o 4º elemento, que os torna maioritários, não por mérito próprio, mas apenas como resultado de divergências internas no PS, foi-se a dita argumentação. E que resolveram fazer? Informar a ex-relativa maioria que era bom, mas acabou-se a papa doce? Apresentar e aprovar uma moção de censura à actual gestão camarária? Propor e votar medidas de manifesto interesse geral, como por exemplo a limpeza urbana capaz em todas as ruas e não só nas principais, ou a conclusão da renovação da rede de saneamento do centro histórico?

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Nada disso. Tão só uma proposta que de facto aumenta substancialmente a remuneração eventual de cada vereador da oposição, mediante a duplicação das suas senhas de presença, uma vez que são os únicos que não estão a tempo inteiro. Justificação para tal absurdo? De acordo com a declaração de voto de Rui Serrano, que pelos vistos não teme cair no ridículo, "...é uma proposta oportuna tendo em conta a desejada celeridade e eficiência do funcionamento da gestão autárquica e o acompanhamento da dífícil situação financeira em que o município se encontra..." (Juro que copiei fielmente!)
Dado que, nos manuais de economia básica, se ensina que há só três maneiras de resolver uma situação financeira difícil (aumentar as receitas e diminuir as despesas; aumentar as receitas, mantendo as despesas; reduzir as despesas mantendo o nível de receitas.) e tendo em conta que a proposta agora aprovada vai duplicar os gastos usuais com senhas de presença, pode dizer-se, sem exagero, que a oposição tomarense acaba de adoptar a nova habilidade político-económica inaugurada por António Costa e a sua geringonça: Ultrapassar uma situação financeira difícil, como é a do país e a da autarquia tomarense, aumentando a despesa e mantendo as receitas. Assim como quem procura apagar um fogo com gasolina.
Muito vigiado por Bruxelas, Costa lá continua na sua de ilusionista. Diz uma coisa e faz outra. Vai aumentando a despesa, para calar o BE e o PCP, mas pela calada vai também aumentando os impostos. Os seus seguidores tomarenses tencionam aumentar que impostos locais? Vão tornar a água ainda mais cara?
Dirão os visados e pensarão os tomarenses moderados que têm o hábito de pensar, que se trata de um aumento de despesa praticamente insignificante. Pois que seja. Mas dá um sinal errado. E torna mais fáceis, legitimando-os de antemão, outros abusos do género. É afinal um problema de mentalidade.
Para que se possa  fazer uma ideia aproximada da febril actividade do executivo tomarense nos últimos tempos, esclarece-se que, durante todo o ano de 2015, deram entrada na divisão competente 5 pedidos 5 de licenciamento de obras particulares. Uma verdadeira cadência infernal, como se vê. Assim sendo, o executivo tomarense passa a reunir semanalmente para debater e decidir o quê? Ou será afinal para os seus membros aprenderem a tricotar e a fazer croché, em prol da igualdade sexual?
Resta assim aguardar, com a calma possível, como quem espera pelas prendas no sapatinho de Natal, as prometidas melhorias resultantes da duplicação das reuniões camarárias. Vou já comprar uma almofada confortável para pôr no assento...

anfrarebelo@gmail.com

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