Mário Cobra
Rainha da Feira de Santa Iria, coitadinha, é a
delambida sardinha, rei o D. tinto corrente, entremeadas as damas de honor, frangos
os escudeiros, arroz-doce o enleio reinante desta festiva convergência palatal.
Dos mais finos aos mais grossos estratos sociais -a nossa socialitinha- todos
se sentam nos bancos corridos das mesas comprimidas das tasquinhas, vulgo
barracas, alojadas em tenda a lembrar salão campal de corte nómada em campanha.
Mil e uma noites e dias de promessas e ensejos, ali onde já morou a messe dos
oficiais colocados nesta então destacada praça do reino, fazendo esquina com o
espiritual Convento de S. Francisco. Cenário ideal para a nossa elite política
e social patentear a sua presença, alardeando dotes de lideranças aconchegadas
nestas folias assaz populares. Dignos herdeiros do senhor D. Miguel, ao que
consta fadista exímio e boémio quanto baste.
Exemplo disso, na segunda-feira, a comemorar o
terceiro aniversário da actual corte socialista, o estado-maior rosa assentava
arraiais na barraca dos solidários bombeiros, vulgo soldados da paz.
Pontificavam à mesa a senhora presidente da real autarquia, o senhor deputado
da divina Nação, o senhor presidente da assembleia, o senhor presidente da
junta de freguesia urbana, os regedores do condado. Perfeita consonância quando
a suma da hierarquia conjuga o verbo conviver, em jeito de torneios de
preparação para o luta eleitoral que para o ano da feira, se o deus autárquico
quiser, estará ao rubro na batalha final pela conquista de novo reinado templário,
pelejando armas verbais estilo sou melhor a reinar que tu. E digo isto sem
reinação.
Nas
mesas circundantes, travessas de sardinhas cortejando à folgança, dignos
representantes de instituições ostentam galhardias de funções valorosas, arrais
e seus artesãos explanam carpidos do comércio e serviços, amigas de longa data
sinalizam foros de coquetismos, grupos de funcionários públicos aliviam enredos
burocratizantes, reformados do Estado congratulam-se, reconfortados, por ainda
terem recebido a pensão no dia 19, artífices alcoviteiros descascam na vida
alheia, a plebe votante compõe o recheio da Res publica completa.
Os
antagonistas políticos espreitam. Mostram-se às janelas. Nós também cá estamos,
os da aposição. Somos a realíssima alternativa. Percorrem as barracas do
Sporting de Tomar, do União de Tomar, tudo a bem de Tomar, a bem de tomar um
sorriso, açulando perspectivas da campanha está a andar. Assim vão andando. A
actual gestão não passa de cavalo coxo na contenda.
Trina fado na feira:
Abençoadas
sois ó barracas
Celebrando
as boas sardinhas
Como somos exímios autarcas
Até
lhes chupamos as espinhas
Frangos
e entremeadas
Arroz-doce
e coscorões
Olhem
lá ó cambadas
Ano
que vem há eleições
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