sexta-feira, 21 de outubro de 2016

A cortezã sardinha da feira da socialitinha



Mário Cobra

Rainha da Feira de Santa Iria, coitadinha, é a delambida sardinha, rei o D. tinto corrente, entremeadas as damas de honor, frangos os escudeiros, arroz-doce o enleio reinante desta festiva convergência palatal. Dos mais finos aos mais grossos estratos sociais -a nossa socialitinha- todos se sentam nos bancos corridos das mesas comprimidas das tasquinhas, vulgo barracas, alojadas em tenda a lembrar salão campal de corte nómada em campanha. Mil e uma noites e dias de promessas e ensejos, ali onde já morou a messe dos oficiais colocados nesta então destacada praça do reino, fazendo esquina com o espiritual Convento de S. Francisco. Cenário ideal para a nossa elite política e social patentear a sua presença, alardeando dotes de lideranças aconchegadas nestas folias assaz populares. Dignos herdeiros do senhor D. Miguel, ao que consta fadista exímio e boémio quanto baste.


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Exemplo disso, na segunda-feira, a comemorar o terceiro aniversário da actual corte socialista, o estado-maior rosa assentava arraiais na barraca dos solidários bombeiros, vulgo soldados da paz. Pontificavam à mesa a senhora presidente da real autarquia, o senhor deputado da divina Nação, o senhor presidente da assembleia, o senhor presidente da junta de freguesia urbana, os regedores do condado. Perfeita consonância quando a suma da hierarquia conjuga o verbo conviver, em jeito de torneios de preparação para o luta eleitoral que para o ano da feira, se o deus autárquico quiser, estará ao rubro na batalha final pela conquista de novo reinado templário, pelejando armas verbais estilo sou melhor a reinar que tu. E digo isto sem reinação. 
Nas mesas circundantes, travessas de sardinhas cortejando à folgança, dignos representantes de instituições ostentam galhardias de funções valorosas, arrais e seus artesãos explanam carpidos do comércio e serviços, amigas de longa data sinalizam foros de coquetismos, grupos de funcionários públicos aliviam enredos burocratizantes, reformados do Estado congratulam-se, reconfortados, por ainda terem recebido a pensão no dia 19, artífices alcoviteiros descascam na vida alheia, a plebe votante compõe o recheio da Res publica completa.
Os antagonistas políticos espreitam. Mostram-se às janelas. Nós também cá estamos, os da aposição. Somos a realíssima alternativa. Percorrem as barracas do Sporting de Tomar, do União de Tomar, tudo a bem de Tomar, a bem de tomar um sorriso, açulando perspectivas da campanha está a andar. Assim vão andando. A actual gestão não passa de cavalo coxo na contenda.
Trina fado na feira:
               
                Abençoadas sois ó barracas
                Celebrando as boas sardinhas
                Como somos exímios autarcas
                Até lhes chupamos as espinhas

                Frangos e entremeadas
                Arroz-doce e coscorões
                Olhem lá ó cambadas 
                Ano que vem há eleições 

                

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