Numa cidade de conformistas, com apenas uma pequena parte da população capaz de pensar de forma escorreita, é natural que a minha escrita incomode um pouco e uns poucos. Não sou candidato. Não preciso da política para nada. Não busco lugares ou vantagens. Nem para mim, nem para a minha família. Mesmo assim, há quem, em tom acusatório, diga que apoio A ou B. Lamento desiludir. Seria o meu direito mais elementar. Como eleitor no concelho e pontual pagador de impostos, podia dar o meu apoio a quem bem entendesse. Não é porém o caso. Porque não vislumbro qualquer razão para o fazer. Prefiro ficar-me por uma atitude que acho mais humilde mas mais útil. Mostrar as diferenças entre candidatos e indicar caminhos, mencionando onde conduzem, de acordo com a experiência.
É o que venho tentando fazer no caso da escolha do cabeça de lista do PSD. Não por qualquer simpatia particular, pois admiro e considero igualmente Lourenço dos Santos e Luís Boavida. Apenas porque, no meu entendimento, aquele personifica a hipótese de um projecto diferente, mais arriscado mas também bastante mais fecundo, enquanto que Boavida não passa praticamente, em termos políticos, de uma cópia de Anabela Freitas, excepto no facto de se tratar de cavalheiro e dama. No resto, ambos têm a mesma visão das coisas, ambos frequentam os mesmos meios, ambos usam os mesmos métodos, ambos procuram atrair os mesmos eleitores, ambos oferecem a mesma perspectiva de futuro, ambos têm a mesma atitude face Mundo: continuar a decair devagar e alegremente, mas com pouco esforço, como até aqui.
Não se trata de caso único. Se analisarmos com algum detalhe os programas partidários das eleições anteriores, constataremos que, exceptuando a CDU e o BE, todas as outras formações têm avançado com propostas programáticas que normalmente não deveriam fazer parte da sua cartilha, com especial destaque par o PSD e o CDS. No meio dessa baralhação, em que ninguém tem defendido a iniciativa privada, a redução do peso do Estado ou o fim da maré de ajudas e outras facilidades visando comprar votos, muitos eleitores sentem-se perdidos, o que é absolutamente normal. Porque, se o que se pretende é uma política ao arrepio daquilo que propõe a Europa do norte, (produtividade, parcimónia, poupança, privatizações), então mais vale ir votar no original, ou seja na CDU, cuja principal força, o PCP, nunca concordou nem concorda com a nossa adesão à União Europeia ou à NATO. Embora apoie agora a geringonça, cuja principal componente, o PS, defende o exacto oposto. Políticas...
Com meias palavras, meias tintas e meias decisões, procurando agradar em simultâneo a Deus e ao Diabo, a única coisa que temos conseguido é enfraquecer cada vez mais a cidade e o concelho. É por isso tempo, parece-me, de bater o pé e dizer bem alto Basta! Estamos fartos! Desta vez queremos propostas alternativas sem ambiguidades. Porque, bem vistas as coisas, se esquerda e direita já não querem dizer nada na prática, então o pluralismo partidário serve para quê? Para ornamentar?
Conforme escreve J. R Guzzo, na "Veja", comentando a inesperada vitória nas autárquicas do empresário João Dória, em S. Paulo, a maior cidade brasileira, com 9 milhões de eleitores, mais do que em Portugal inteiro, "Os pobres, aparentemente, não querem o que a esquerda quer que eles queiram. Querem coisas diferentes, muitas vezes o oposto. E aí quem faz política precisa resolver de que lado está. Dória no início foi visto como uma "loucura". Como se vê agora, loucos parecem os outros." (Veja, 19/10/2016, página 110)
Assim sendo, que apareçam em Tomar candidatos com projectos alternativos, tão claros quanto possível. Tendo em conta que, nas margens do Nabão, a maior parte dos eleitores pobres são na realidade funcionários, aposentados e pensionistas. Muitos deles infelizmente só pobres de espírito, que nem disso se dão conta. Et pour cause...
Nota posterior
Pronto! Tem razão! Et pour cause é um francesismo, apenas ao alcance de quem domine a língua de Voltaire e de Proust. Coisa cada vez mais rara nos tempos que vão correndo, com o inglês por aqui e o chinês por lá a tudo varrerem na sua frente respectiva. Aqui vai por isso a tradução na língua de Pessoa e Lobo Antunes: Et pour cause + ou - = a (mais ou menos igual a) "E como poderíam dar-se conta? Se o conseguíssem, deixariam de ser pobres de espírito.". Como vê, Et pour cause é bem mais simples. Foi por isso que o usei. Não tenho culpa nenhuma que os meus leitores...
Nota posterior
Pronto! Tem razão! Et pour cause é um francesismo, apenas ao alcance de quem domine a língua de Voltaire e de Proust. Coisa cada vez mais rara nos tempos que vão correndo, com o inglês por aqui e o chinês por lá a tudo varrerem na sua frente respectiva. Aqui vai por isso a tradução na língua de Pessoa e Lobo Antunes: Et pour cause + ou - = a (mais ou menos igual a) "E como poderíam dar-se conta? Se o conseguíssem, deixariam de ser pobres de espírito.". Como vê, Et pour cause é bem mais simples. Foi por isso que o usei. Não tenho culpa nenhuma que os meus leitores...
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