Património Imaterial
É PRECISO CUIDAR DA FESTA GRANDE
Acabo de ouvir e ver, na Euronews em português, que vamos ter mais uma candidatura a património imaterial nacional, etapa indispensável para a posterior entrega na UNESCO, em Paris. Desta vez trata-se das Marchas populares de Lisboa. Será a 35ª candidatura portuguesa, só este ano. Por este caminho, um dia destes ainda vamos ter também a candidatura das bifanas do Canal Caveira. Já faltou mais.
Veio-me naturalmente à ideia a candidatura da Festa dos tabuleiros, encalhada algures na DGPC desde 2019, e sem data marcada para a submissão à UNESCO, mas que já custou aos cofres públicos mais de cem mil euros. Sendo a realidade factual aquilo que é, com candidaturas a surgirem de todos os lados e de manifestações que nem sempre as merecem, não seria melhor repensar o assunto, encarando a hipótese de retirar a candidatura tomarense?
Por duas razões essenciais. Em primeiro lugar, se a nossa candidatura não singrou com a DGPC sob a égide do governo socialista, como a Câmara que a submeteu, vai avançar agora com o governo PSD? A que propósito? Porque a secretária de Estado da Cultura é tomarense? Mesmo que se venha a alcançar tal classificação, que ganhará a nossa querida Festa grande com isso? Penacho de fantasia? Cada tabuleiro e cada portadora ou acompanhante, passam a desfilar ostentando uma etiqueta com os dizeres "Património Imaterial da UNESCO"?
Em segundo lugar, colhendo os ensinamentos da Festa de 2023, aquilo de que os tabuleiros tomarenses precisam não é de uma candidatura vulgarizadora, mas de uma nova visão, que dignifique a Festa grande, evitando a repetição das centenas de queixas justificadas que houve na última edição, e apontando desde logo para outro modelo de organização, pois parece-me evidente que a futura Câmara, qualquer que venha a ser a sua composição partidária, não poderá assumir um custo, sem retorno efectivo, da ordem dos 3 milhões de euros, ou mais. Pois não é verdade que a festa de 2023 custou mais do dobro da edição anterior? Assim sendo, em 2027 a Câmara terá de desembolsar perto de 3 milhões de euros à cabeça, se nada for feito entretanto. Quem estará disposto a votar numa câmara tão gastadora? Que partido ou formação partidária vai assumir, durante a campanha eleitoral para as autárquicas 2025, que financiará a Festa grande, sejam quais forem os custos finais? É que entretanto apareceu o Chega, mais realista na questão das festas, subsídios, ajustes directos, corrupção e companhia...
Convém portanto ir pensando nestas coisas, antes da palhaçada da pseudo-escolha do mordomo pela população, alegadamente reunida nos Paços do concelho, que provoca o riso nos concelhos à volta. Porque tal tipo de escolha faz-se nas aldeias das redondezas, não em cidades dignas desse nome, sob pena de descrédito.
Trata-se afinal de começar a tentar salvar um concelho agora de funcionários públicos e reformados, transformando-o pouco a pouco numa área geográfica de cidadãos empreendedores virados para o futuro, sem complexos nem carências patológicas de indústria pesada e operariado. Um plano abrangente, robusto e coerente, em que a nova organização da Festa grande será apenas um capítulo, porque é preciso e urgente cuidar dos Tabuleiros e do resto. Sobretudo do resto, sem o qual a dada altura não haverá mais Festa grande, por falta de recursos e de condições políticas.
(Texto ligeiramente alterado às 15H15 de Lisboa)
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ResponderEliminarApareceu aqui há meia hora um comentário encantador, com o pseudónimo Encantos, que não se publica por manifesto desencanto perante cobardolas que só ousam ferrar o dente a coberto do anonimato. Neste caso, a criatura escreveu que "Tomar merece mais e melhor e acima de tudo quem empurre." Empurrar merda, como acaba de fazer?
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