Aspecto de parte do terreno privado no Flecheiro, que a Câmara pretende adquirir, para poder concluir as obras em curso.
Arranjo urbanístico do Flecheiro
Mais um berbicacho camarário
Nas obras municipais em Tomar, é como diz o povo -"Cada cavadela uma minhoca." Há sempre qualquer coisa que falha, porque não estava prevista ou foi mal planeada. É agora a vez do Flecheiro. Zona industrial no plano de urbanização de Carlos Ramos, nos anos 60 do século passado, foi mais tarde considerado inadequado para essa função, por estar à ilharga da área urbana habitada, com os inconvenientes daí resultantes, designadamente o ruído.
Entretanto tinham-se ali instalado dezenas de empresas. Houve serração de madeira, fábrica de mosaicos, confecções em pele, serralharias, oficinas de mecânica automóvel, etc. e edificaram-se prédios de habitação, com comércio ou indústria no piso térreo, tanto ao longo da avenida Nun'Álvares como nas travessas e na paralela António Joaquim Araújo. Tudo legalmente, tendo ficado livres alguns lotes de ambos os lados da avenida.
Entre a avenida e o rio ficou, no antigo "milheiral da Marchanta", um grande terreno livre, onde chegou a haver um campo de treinos de futebol, com iluminação e tudo. A certa altura, nos idos de 70 do século passado, o então presidente Luís Bonet (PS) autorizou a instalação de ciganos nómadas, expulsos pelo novo proprietário dos terrenos da quinta de Santa André, junto à praça de toiros. Foi o início do acampamento precário do Flecheiro, que veio a durar mais de 40 anos.
Realojados pela Câmara, igualmente PS, todos os ocupantes do acampamento ilegal, pensou-se que já fora devidamente planeada a futura afectação da vasta área entretanto desocupada. Pura ilusão. Na Câmara de Tomar não parece haver gente capaz de planear ou mandar planear capazmente. Quem pensou que íamos ter finalmente no Flecheiro um novo campo da feira digno desse nome, enganou-se. As grandes sumidades locais em desenvolvimento urbano, sem ouvir previamente a população, optaram por um arranjo urbanístico sem pés nem cabeça, que só virá a servir para levar os cães a mijar, pelo menos enquanto não houver árvores de grande porte que dêem alguma sombra.
E foi mais um espalhanço de todo o tamanho. Mesmo sem o incómodo da opinião da população, os senhores eleitos, urbanistas e engenheiros não se informaram devidamente sobre as servidões existentes, donde resulta que as obras em curso não podem prosseguir normalmente no extremo sul, porque há um lote de terreno privado, onde em tempos funcionou a Serração do Perna, cujos herdeiros não querem vender, nas condições propostas pela Câmara.
Ou seja, quando se pensava que estava tudo preparado e desembaraçado para começarem as obras, apareceu um berbicacho, como aliás vem sendo habitual nos empreendimentos da autarquia. Basta pensar nas ciclovias sem continuidade, ou terminando contra uma árvore, como na Estrada da Serra.
O problema não é grave, dirão os competentíssimos técnicos superiores do costume. Basta "expropriar por utilidade pública", acrescentarão. Pois basta. Mas como convencer o poder judicial, em caso de recurso, de que aquilo tem alguma utilidade pública?
Uma estrada, uma escola, um quartel de bombeiros por exemplo, são coisas com evidente utilidade pública, agora um vasto terreno plano, à ilharga do centro histórico e urbanizado à pressa... Como demonstrar a utilidade pública do lote a expropriar? É indispensável para quê? Para ampliar o mijadouro canino?
Sem comentários:
Enviar um comentário