Foto Carlos Piedade Silva, com os nossos agradecimentos.Aspecto do jardim da antiga Horta dos frades, na Mata Nacional dos Sete Montes, quando a água ainda corria nos Pegões, e escorria para a Mata através do laranjal do Castelo e da Encosta da Porta da Almedina. Agora é o que se vê, indo lá.
Autarquia local
Saber gerir o dinheiro do povo
A Câmara vai submeter à Assembleia Municipal, para discussão e eventual aprovação, um pedido de empréstimo de 3 milhões de euros, para arranjos nalgumas ruas e estradas do concelho. Como diria a anterior presidente, "tem de ser aprovado, porque a Câmara já assumiu responsabilidades". E será decerto. Mas não devia ser assim. Vem a propósito um acontecimento local, de finais dos anos 30 do século passado.
Aquando da venda dos "bens nacionais", logo a seguir à nacionalização do património das ordens religiosas, em 1834, Bernardo Costa Cabral, conde de Tomar, comprou por bom preço uma parte do Convento e a Cerca, ou Quinta dos sete montes. Quase um século mais tarde, um seu descendente, cheio de dívidas, viu ser-lhe confiscada a Cerca, para pagamento das mesmas.
Durante a venda em hasta pública, à porta da repartição de finanças de Tomar, juntou-se uma pequena multidão e os lances, de mil escudos cada, foram-se sucedendo. Entre os licitadores avultava um camponês mal lavado, mal vestido e mal encarado, que foi sempre repetindo, a cada incitação do pregoeiro, "dou-lhe mais um conto de réis", os tal mil escudos de lance mínimo.
O leilão foi-se animando, sobretudo a partir dos 500 contos de réis, ou quinhentos mil escudos, com o tal camponês sujo e de barrete a repetir após cada novo lance "dou-lhe mais um conto de réis". Até que, chegados aos 633 contos de réis, o rural falou pela última vez: "Dou-lhe mais um conto de réis."
Não havendo mais lances, visivelmente preocupado, o pregoeiro seguiu as normas. "Está em 634 contos! Ninguém dá mais?" Perante o silêncio concluiu: "634 contos uma, 634 contos duas, 634 contos três. É daquele homem de barrete, se tiver dinheiro para pagar."
Calmamente, o homem mal vestido e de barrete aproximou-se, tirou o barrete e de dentro dele um livro de cheques do Ministério das Finanças, perguntando "Quanto é que me disse?" , antes de começar a preencher um cheque para pagamento dos 634 contos de réis, uma fortuna naquela época. (3.170 euros)
Soube-se depois que era afinal um funcionário de confiança do Ministério da Finanças, mandado a Tomar com o encargo de se disfarçar e licitar, de modo a conseguir arrematar a Cerca para o Estado, pelo melhor preço possível.
Estamos em época de 25 de Abril sempre, cujos arautos vão dizer, como é habitual, que isto é conversa bafienta, porque o então ministro das Finanças era o Salazar, Têm parcialmente razão, porque houve a polícia política, a repressão, a censura à imprensa e a falta de pluralismo político. Mas em termos de poupança do dinheiro do povo e de honestidade na governação, ainda não houve melhor até agora.
Com o habitual fino recorte literário, vão os mesmos fingir indagar, com ar desafiador, "E daí?" E daí, trata-se de estabelecer um paralelo com o pedido de empréstimo bancário referido no início. Para dizer que os tabuleiros mais baratos, os subsídios pela metade, os concertos com entradas pagas, e as transferências para a Tejo ambiente melhor fiscalizadas, era capaz de ser suficiente para evitar o tal empréstimo de 3 milhões de euros, que depois é preciso pagar com juros, e os impostos já são demasiado gravosos. Chama-se a isto saber gerir.
Procurando evitar uma situação algo insólita: No tempo da ditadura, havia muito cuidado com o dinheiro do povo, apesar de não poder haver protestos. Agora em democracia, gasta-se à fartazana, sem conta nem peso nem medida, e o povo continua calado, apesar de já poder protestar há quase 50 anos.
Provavelmente porque o défice cultural é de tal ordem, que ainda não se deram conta da triste realidade objectiva. Antes do 25 de Abril nem tudo era mau, tal como agora nem tudo está bem, nem coisa parecida. Não me venham com tretas, que os votos no Chega aí estão a mostrar que finalmente o povo começou a acordar, para quem saiba e queira ver. Mas não há piores cegos que aqueles que não querem ver, e o fanatismo cega. O problema é que ignorar ou hostilizar o Chega, não resulta, antes pelo contrário, conforme está demonstrado. Conviria por isso tomar nota e mudar de atitude. Ou não? Preferem voltar à repressão? É que houve o 25 de Abril, mas entretanto também a Fonte Luminosa e o 25 de Novembro...
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