Urbanismo e gestão do território
Misericórdia de Tomar forçada a emigrar
Câmara de Tomar deixa fugir investimento de 7 milhões para a Barquinha | Tomar na Rede
A Assembleia Geral da Santa Casa da Misericórdia de Tomar votou por maioria, com apenas uma abstenção e um voto contra, a implantação do futuro centro assistencial daquela instituição, um investimento de sete milhões de euros, na Atalaia, Barquinha, em cooperação com a Santa Casa daquele pequeno concelho. Ao cabo de mais de cinco séculos de trabalho em prol dos mais necessitados, até a Santa Casa tomarense é praticamente forçada a emigrar, como já aconteceu a outras empresas. Prova disso é que estão mesmo a tentar vender o hospital velho e os outros imóveis do quarteirão propriedade da instituição. Porquê? Como foi possível chegar aqui?
Para quem não acompanha com cuidado a marcha caótica da traquitana nabantina, o assunto é simples. Um proprietário local -o eng. Luís Alvellos- doou à Santa Casa um terreno, na Quinta das Avessadas, para construção de um conjunto assistencial, mas exige em troca algumas contrapartidas na futura ocupação do solo. Apoiada na Lei vigente, que é como quem diz num PDM que está longe de ser uma maravilha, a Câmara diz que lamenta, mas não pode satisfazer tal pretensão, pelo que o dito terreno pode considerar-se "uma carta fora do baralho", segundo a expressão da própria presidente da Câmara, que todavia manifestou disponibilidade para encontrar outras soluções.
A Assembleia geral da Misericórdia pode considerar-se portanto como uma decisão definitiva de emigração, mas também como tentativa de pressão sobre a Câmara de Tomar, perante a evidente falta de diálogo produtivo. Isto porque, ironia do destino, o agora provedor era vereador na altura em que foi elaborado e aprovado o PDM de Tomar. Sabe portanto como as coisas se passaram e que o citado documento de gestão do território está longe de ser perfeito, mesmo depois da recente revisão.
Tanto na fase da elaboração, como mais tarde na sua revisão, imperaram outros interesses, que não os da população nabantina no seu conjunto. E são esses interesses espúrios que constituem forte obstáculo ao desenvolvimento da cidade e do concelho, ao erguerem barreiras que alguns dizem intransponíveis, para daí sacarem depois benefícios materiais à margem da legalidade.
Esses interesses são os de um grupinho local identificado, que até já esteve na origem da renúncia do arquitecto Serrano, em 2015, quando este tentou alterar o que estava e continua a estar mal. Por conseguinte, com a saída surpresa de Anabela Freitas para Aveiro, Cristóvão e os seus camaradas têm agora duas hipóteses. Ou afrontam finalmente, e vencem, o dito grupinho, cedendo depois no caso da Misericórdia e noutros, ou consideram que está tudo bem assim, e o futuro Centro de cuidados continuados da Santa Casa vai mesmo para a Atalaia, seguindo-se a venda do hospital velho. O problema é que se optarem pelo confronto, alguns podem vir a perder os lugares, pois conforme diz o provérbio "Quem tem telhados de vidro, pode acordar com um corno partido." q.e.d.
Resta aguardar as cenas dos próximos episódios, tendo em conta o que acaba de ser dito e indiciado. Os estragos começam a ser demasiado importantes, para que tudo possa continuar na mesma, mudando só qualquer coisinha...
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