domingo, 18 de junho de 2023


Festa dos tabuleiros e costumes locais

De novo a Santa Inquisição, 

desta vez de pantufas para não fazer barulho

TOMAR – Festa dos Tabuleiros. Comissão Central proíbe uso de telemóvel e de óculos espelhados no Cortejo Principal e também dos Rapazes | Rádio Hertz (radiohertz.pt)

Em 1529, o tomarense António Moniz da Silva, confessor do rei e da raínha, formado nos Jerónimos em Espanha, sob o nome religioso suposto de Frei António de Lisboa, mais cosmopolita que "de Tomar", aplicou a mando de D. João III a reforma da Ordem de Cristo, transformando-a de ordem de cavaleiros em ordem de frades enclausurados. A regra da nova congregação era medonha e os seus primeiros professos, "trinta noviços ignorantes", segundo o próprio reformador Frei António.
Para que dúvidas não restassem sobre a intenção, sete anos mais tarde, o mesmo prior reformador instalava no Convento de Cristo o Tribunal da Santa Inquisição, cujos juízes eclesiásticos tiveram o péssimo hábito de mandar assar na fogueira os crentes que não seguiam, ou eram acusados de não seguir de modo estrito, a doutrina católica. E houve em Portugal autos da fé, as tais fogueiras purificadoras, até ao século XIX. Três séculos é muito tempo e deixa marcas profundas.
Quase cinco séculos volvidos, sem disso nos darmos conta, a Inquisição continua presente no espírito dos tomarenses, grandes adeptos da ortodoxia e do pensamento único. Qualquer crítica está condenada de antemão, por ser considerada simples má-língua. E qualquer desvio às normas sociais é simplesmente intolerável. Eis um exemplo flagrante e fortuito.
A Comissão dos tabuleiros acaba de publicar um folheto com normas de aplicação obrigatória nos cortejos. (Ver link supra). Junto com indicações de elementar bom senso, como por exemplo a proibição de fotógrafos amadores dentro do cortejo, há imposições nitidamente inquisitoriais,  tipo Coreia do Norte. As camisas dos ajudantes, por exemplo, devem ser brancas e de manga comprida, com duas dobras. Se forem brancas, mas de manga curta, ou de manga comprida mas com uma só dobra, ou com três dobras, o cortejo perde a sua dignidade?
Com os sapatos acontece algo parecido. Os das portadoras devem ser de carneira, mas os dos acompanhantes têm de ser pretos e de atacadores. Se forem pretos mas de pala, ou mesmo de carneira, ou castanhos, o par deixa de ter categoria para levar tabuleiro?
E o barrete? Tem de ser preto e levado no ombro esquerdo, com a borla para trás. Se for usado na cabeça, como é próprio, ou no ombro direito, mas com a borla para a frente, é pecado mortal?
Já as fitas das raparigas devem ser da mesma cor que a dominante no tabuleiro e o acompanhante deve levar gravata igual. Se assim não acontecer, o Espírito Santo não aceita o pão do tabuleiro?
Estipulações arbitrárias, tal como a invocação da tradição para justificar que o grande cortejo ou as ruas ornamentadas não tenham entradas pagas, quando custam centenas de milhares de euros provenientes dos nossos impostos. Tipo "Determino e mando publicar, porque quero, posso e mando."
Poderia continuar, mas para quê? A denúncia dos Torquemada locais, que usam a tradição e os bons costumes como argumento para impôr a sua visão das coisas, tal como Frei António usou a doutrina católica para dominar normalizando, está feita. Deixem-se desses exageros, senhores! Respeitem as liberdades alheias! Com limites, naturalmente. Mas sem insistir demasiado. A sociedade é feita de uma infinita variedade e enfraquece sempre que se procuram impôr regulamentos visando a normalização pela uniformidade. A formatação, para usar um vocábulo moderno. O pensamento único é tóxico.

ADENDA
Não sabe ou não se lembra quem foi Torquemada, não é assim? Pois faça favor de digitar o vocábulo na net, seguido de "inquisidor", e consiga paciência para ler. Ajude-se e ajude-nos a sair da cepa torta.


3 comentários:

  1. Afinal a prosápia fáz parte deste pequeno burgo nabantino, somos bons a atacar e a defender para canto, digo eu perante tal atitude de alguêm que disse só comentar depois, afinal pro erudito cosmopolita Nabantino cheio de mundo, tudo está mal, dexem lá os sapatos, vão com uns chinelos á varina, as camisas que se lixem umas para cima outras pra baixo, já as calças essas devem ser para homens, ou tambêm quer á boca de sino? já agora os barretes só os enfia quêm quer, já agora só falta a sua opinão ácerca das cores, pois é amigo, ouve tempos que gostava de o ouvir e de lêr os seus muitos acertados comentários, mas é tempo de fazer uma retrospectiva, e pensar que o que escreve hoje não têm interesse nenhum pro futuro, troque a raiva de apesar de se oferecer a todos os governos, e nenhum aceitar, pela moderação linguistica de que, sem dúvida é figura impare em Tomar, gose a reforma, o mundo hoje pertence a outra gente, e quem boa cama fiser nela se deitará, desculpe o desabafo, mas continuarei sempre a tê-lo com uma das pessoas mais eruditas que con heci em Tomar, antes de rumar a Lisboa. fique bem.

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    1. Adiantaria responder a este seu comentário assanhado? Permitiria pelo menos anular os excessos evidentes da sua prosa? Infelizmente, julgo que não. O que me leva a ficar por aqui. Votos de boa saúde e boa disposição.

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