sexta-feira, 30 de junho de 2023

 

Imagem copiada do Tomar na rede, com os nossos agradecimentos.

Jornalismo e realidade envolvente

Deixar fugir ou forçar a sair?

Câmara de Tomar deixa fugir investimento de 7 milhões para a Barquinha | Tomar na Rede

A língua portuguesa é muito complicada, e por vezes traiçoeira,  o que obriga, ou devia obrigar, os profissionais da escrita a usá-la com cautela e rigor. Noticia o Tomar na rede, do bom amigo e excelente jornalista José Gaio, que a "Câmara de Tomar deixou fugir investimento de 7 milhões para a Barquinha".
É o ponto de vista -a narrativa se preferirem- do profissional da informação, que certamente lhe foi transmitida pelas suas fontes, e que não sendo de todo descabida, tão pouco corresponde inteiramente ao que aconteceu de facto até agora, sem que pareça haver contudo intencionalidade orientadora. O investimento não fugiu, nem a entidade investidora tem na ideia fugir, parece-me a mim. Apenas deixar de investir em Tomar, por força das circunstâncias adversas. 
O que aconteceu neste triste caso é que a manifesta falta de capacidade negocial da Câmara, obrigou a Santa Casa de Tomar, após mais de três anos de espera em vão, a procurar uma solução alternativa, a qual lhe foi facultada pela autarquia da Barquinha. E o investidor aproveitou, emigrando, como sempre acontece com os empresários sensatos. Migram para onde lhes proporcionam mais vantagens.
Vai tudo dar ao mesmo, dirão alguns mais simplórios. Mas não vai de modo algum. Se a autarquia "deixou fugir", subentende-se que terá havido incompetência, falta de atenção ou de interesse pelo assunto. Negligência, em suma. Que também houve. Todavia, se o investidor foi forçado a partir, a sair de Tomar,  a migrar para concelho mais acolhedor, estamos perante um caso evidente de política deliberada, culposa, que visa servir outros interesses, que não os da comunidade tomarense no seu todo. O que não significa que os autores dessa política sejam os próprios eleitos. Estou até convencido de que são apenas os seus executores involuntários, por manifesta falta de coragem para a denunciar, pois isso implicaria alguma perda de votos, além de outras complicações previsíveis. 
Como todos sabemos, os socialistas vencem eleições graças sobretudo aos votos dos funcionário públicos, que em tempos foram servidores do Estado, mas agora começam a estar mais virados para servidores de quem der mais. Com honrosas excepções, é certo, porém as nódoas sujam o pano todo. 
Muita cautela portanto,  sobretudo quando se escreve para ganhar a vida. Por vezes o que conta mais, não é aquilo que se diz, mas a maneira como se diz. Não o que está escrito, mas aquilo que os leitores são levados a perceber, tendo em conta a sua bagagem prévia. Uma questão de subentendidos. De Understatement, diriam os anglo-saxónicos, mestres na matéria, posto que têm até uma disciplina universitária que não existe em Portugal -a pragmática linguística.

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