sexta-feira, 16 de junho de 2023


 Tabuleiros e ruas ornamentadas, tudo à borla

E a segurança nos eventos multitudinários?

É evidente, desde a sua entrada em funções, já lá vão dez anos, que a maioria PS local procede de forma pródiga. Tudo o que organiza ou apoia é à borla. Sem entradas pagas. Excepto o Congresso da sopa, o cine-teatro e os Bons sons. Compreende-se. Além de lhes evitar muito trabalho, vai no sentido da doutrina política que defendem: "De cada um segundo as suas possibilidades, a cada um segundo as suas necessidades." E permite angariar votos, (julgam eles), o mais importante para quem quer manter-se no poder, não por vocação, mas por aí ganhar mais que na sua profissão de origem. 
Não se estranha portanto que a Comissão central da Festa dos tabuleiros, estritamente controlada pela autarquia, se oponha com unhas e dentes a qualquer mudança, no sentido de melhorar e rentabilizar um evento que, tudo bem somado, vai custar este ano aos cofres municipais, aos contribuintes, já se vê, a bagatela de um milhão de euros. É como se queixou em tempos o holandês, agora da Comissão europeia: "Nos países do sul da Europa, gastam tudo em festas, putas e vinho verde." Em sentido figurado, bem entendido. Já não há putas, só profissionais do sexo assumidas ou disfarçadas, e o vinho também pode ser tinto.
Tal é a firmeza na defesa do "tudo à borla", que qualquer sugestão no sentido de alterar o figurino da festa, esbarra logo no "cumprir a tradição" (qual delas?), sendo que quem ousa discordar é logo considerado e tratado como inimigo, e por conseguinte anti-tabuleiros. 
Já antes do 25 de Abril assim era. Havia os "da situação" que defendiam o governo do senhor presidente do concelho, o senhor dr. Salazar, e a "oposição ou reviralho" -os do contra. O habitual nos regimes autoritários. "Quem não é por mim, é contra mim." Como se fosse assim tão simples. Quase cinquenta anos depois, se houve mudança de mentalidade, não se nota muito.
Esta crónica pretende apenas alertar para um detalhe importante, que não tem sido considerado pelos dirigentes locais que realmente estão habituados a pensar um bocadinho. Para que mais tarde, se houver alguma infelicidade, que de todo se não deseja, não possam dizer, respeitando a verdade, que "era imprevisível e ninguém avisou".
Além de ser uma prática capitalista, visando o lucro, que em Tomar não tem boa imprensa, a cobrança de entradas tem outra função, igualmente importante. Permite controlar a assistência, limitando-a à capacidade do recinto ou da povoação. Esgotada a lotação anteriormente calculada, não há mais entradas para ninguém. Só um ou outro borlista.
Assim, no caso da Festa grande de Tomar, havendo entrada franca para todos, quem pode garantir que não haverá excesso de afluência? Que a dada altura a multidão seja de tal forma densa, que não permita sequer o próprio desfile dos tabuleiros, por falta de espaço livre? Sem bilhetes de acesso, nem qualquer outro controle nas entradas da cidade, como vão os responsáveis calcular a assistência, e conter o eventual excesso? O mordomo falou em milhão e meio de pessoas durante toda a festa. E se forem mais? Caberá tanta gente na cidade? Em segurança? E em caso de acidente ou incidente? Há planos de acção? Viva o desenrasca?
Dirão os habituais optimistas, especialistas em "achismo" e adeptos do facilitismo, que não há qualquer perigo de excesso de afluência. Já terão decerto esquecido que, no trágico incêndio de Pedrógão, aqui há uns anos, também não havia,  e afinal morreram dezenas de mirones, porque ninguém lhes impediu o trânsito numa zona de grande perigo, onde acabaram por ser pasto das chamas, em plena estrada nacional. Mas era imprevisível, pois nunca antes acontecera e ninguém avisara...
Este ano, a Direcção Geral de Saúde ainda chegou a publicar uma norma de segurança para eventos, de tal forma exigente que teria tornado, senão impossível, pelo menos muito mais cara e segura a Festa dos Tabuleiros. Previa enfermeiros, médicos, ambulâncias, bombeiros, hospitais de campanha e todo um planeamento, mas a sua entrada em vigor foi oportunamente adiada para o próximo ano. E o seu autor, o próprio subdirector geral de saúde, demitiu-se. Como eu o compreendo!


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