Política local e eventos
A angústia da incerteza
Desde 2013 e da inesperada vitória PS em Tomar, que vinha estranhando a intolerância agressiva dos eleitos socialistas, antes cidadãos muito frequentáveis. Só agora, volvidos dez anos no poder, sempre com a mesma acrimónia em relação aos críticos, julgo ter encontrado uma explicação plausível para essa bizarria política local, a qual me foi facultada pelo comportamento homólogo dos que fazem a festa dos tabuleiros.
Manifestação multicentenária, a nossa Festa grande já passou por múltiplos figurinos. O actual, mais coisa menos coisa, data de 1950 e das orientações de João dos Santos Simões, o estrangeirado director da então Fábrica de Fiação de Tomar. Só que entretanto a envolvente sociedade local mudou tanto que tornou anacrónicos os cortejos de oferendas, e os tabuleiros continuam sendo isso mesmo -um desfile de oferendas.
Profundamente entranhada na alma tomarense, "a festa" é uma extraordinária empreitada comunitária, tendo como principal e quase único financiador o município. O que tornou necessário encontrar novas justificações para um cortejo obsoleto quanto ao principal objectivo -as oferendas ao Espírito santo.
Apareceram então, após o 25 de Abril, dois pretensos objectivos susceptíveis de justificar a realização da festa, ambos não mensuráveis - "cumprir a tradição" e "promover Tomar". Trata-se na verdade de argumentação abstrata algo balofa, visando esconder o objectivo real da festa -a angariação de votos que permitam a permanência no poder de quem a financia.
Donde a mesma reacção da maioria autárquica e dos festeiros. Ambos os grupos têm dúvidas sobre a real pertinência das suas apregoadas opções, daí lhes advindo a angústia da incerteza. O que os leva a não tolerar as críticas, e ainda menos as indispensáveis mudanças. Não por opção ideológica ou meditada, mas apenas por medo. São conservadores por necessidade. Incapazes de discernir o que escreveu Lampeduza: "é preciso que algo vá mudando, para que tudo possa continuar na mesma." Acabar com, ou limitar o foguetório, por exemplo, para que a festa possa prosseguir sem entraves de maior.
E o concelho vai definhando, e a cidade vai decaindo, para que palonços com afigurações possam continuar a mandar e a asneirar, com a sua atitude agressiva em relação a quem discorda.
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