Acicatado como sempre pelo bicho viageiro, lá fui. A13, A23 até Gardete, IP2 até Alpalhão, uma curva do tempo das carroças (Tanta rotunda inútil por esse país fora, e aqui onde faz tanta falta uma, nada) e eis-nos na pitoresca estrada nacional, rumo a Castelo de Vide, Marvão e a fronteira de Galegos. De passagem, na curiosa estrada ladeada por freixos centenários, em S. Salvador de Aramenha, um olhar para as ruínas da aventura Melancia: Na encosta, dezenas de vivendas em banda por acabar e outras tantas devolutas. Cá em baixo, o campo de golfe abandonado. Dinheiro mal ganho, o diabo o dá, o diabo o leva, diz o povo.
Atestado o depósito em Valência de Alcântara, com gasolina 95 a 1,21€, seguimos pela N521, rumo a Cáceres, cem quilómetros mais longe. Travessia laboriosa da grande cidade estremenha, seguindo a boa sinalização para a continuação da N521 e para a A58, ambas em direcção a Trujillo. Optei por esta última, que ainda não conhecia, tendo sido recompensado. Ao longo dos 40 quilómetros, lado a lado, separadas por menos de 10 metros, a N521 e a A58. A estrada nacional e a auto estrada. As duas igualmente impecáveis e praticamente sem trânsito. Apesar de gratuitas...
E cheguei a Trujillo. 13 mil habitantes apenas, mas um passado glorioso. Se Tomar foi o berço dos descobrimentos, graças ao Infante D. Henrique e à Ordem de Cristo, Trujillo foi a terra natal de alguns dos mais famosos conquistadores da América latina (Almagro, Orellana, Pizarro, Paredes). Segundo o guia Michelin verde, "o mais célebre de todos é Francisco Pizarro (1475-1541), o conquistador do Perú. Figura espantosa a deste porqueiro, que morreu [assassinado] fabulosamente rico e casado com uma princesa inca."
Há aqui portanto um balde de água fria nos sonhos heróicos de alguns tomarenses. Alguns grandes conquistadores espanhóis nasceram em Trujillo, mas o Infante D. Henrique era portuense, e não consta que nenhum grande navegador português tenha vindo ao mundo em Tomar. Mais uma razão para ir visitar Trujillo, em busca de outras diferenças.
Duas das mais importantes são visíveis nestas fotos:
As janelas nobres, tipo da nossa Janela do capítulo, em Trujillo são de esquina e sem a ornamentação vegetal, substituída por brasões e figuras humanas, de índios num dos palácios. Residências senhoriais e não conventos.
O outrora porqueiro e depois senhor do Perú, de filho da terra, aí está representado a cavalo, num dos lados da Plaza Mayor. Já o nosso Gualdim Pais, natural de Amares - Braga, e mestre de uma ordem de cavalaria, está a pé na actual Praça da República. A pior afronta que se pode fazer a um cavaleiro: Apeá-lo. Mas quê?! O dinheirito da subscrição pública não deu para mais. Por isso resolveram colocá-lo ao centro da praça. Compensar com a altura a falta do cavalo. Assim uma espécie de phallus enorme. Para não mencionar o perfil. Por isso ainda há muitos que não querem que seja mudado. O que tem dado muito jeito, designadamente durante o recente concerto dos Quinta do Bill. O pessoal que ficou tapado pelo monumento estava encantado, como não podia deixar de ser.
Uma diferença mais:
Não me lembro de já ter visto algo parecido à porta do nosso turismo municipal. Mas nunca é tarde para melhorar.
Adenda
Se por acaso algum dos conterrâneos, defensor da estátua gualdina no meio da praça, está com vontade de argumentar que Gualdim Pais está representado no momento em que vai entregar o foral, desiluda-se. Também nessa vertente, a das normas sociais da época, o monumento é uma asneira monumental.
Na verdade, suzerano da zona enquanto mestre dos Templários, por vontade e doação de D. Afonso Henriques, na cerimónia para entrega do foral D. Gualdim Pais estaria sentado, como era uso, no trono local e o representante do povo curvar-se-ia, ajoelharia, beijar-lhe-ia a mão, para só depois receber o pergaminho. Assim como está, dá a ideia que o mestre templário vai entregar uma carta ao vigário. O que evidentemente nunca aconteceu, até porque na época dele não havia praticamente população nem templos cá em baixo.
Adenda
Se por acaso algum dos conterrâneos, defensor da estátua gualdina no meio da praça, está com vontade de argumentar que Gualdim Pais está representado no momento em que vai entregar o foral, desiluda-se. Também nessa vertente, a das normas sociais da época, o monumento é uma asneira monumental.
Na verdade, suzerano da zona enquanto mestre dos Templários, por vontade e doação de D. Afonso Henriques, na cerimónia para entrega do foral D. Gualdim Pais estaria sentado, como era uso, no trono local e o representante do povo curvar-se-ia, ajoelharia, beijar-lhe-ia a mão, para só depois receber o pergaminho. Assim como está, dá a ideia que o mestre templário vai entregar uma carta ao vigário. O que evidentemente nunca aconteceu, até porque na época dele não havia praticamente população nem templos cá em baixo.
Bela escolha, que me lembrou uma minha participação em 1993, no II Encontro Ibérico de Municípios com Centro Histórico, ai mesmo em Trujillo, com visita também ao Centro Histórico de Cáceres, na companhia do então também Vereador Rosa Dias e do Arquitecto Sebastião, ao tempo do GTL (Gabinete Técnico Local) da CM de Tomar.
ResponderEliminar