terça-feira, 4 de julho de 2017

Palhaçada templária e Festa dos Tabuleiros

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Afinal a tradição já não é o que era

Começaram hoje os ensaios no terreno para a chamada Festa Templária. Um espécie de teatro urbano, a que o povo chama palhaçada. Com toda a razão. Que se saiba, os templários nunca viveram cá em baixo. A vila era então dentro das muralhas do castelo. No vale, junto ao Nabão, apenas a Igreja de Santa Maria, onde eram sepultados. Na sequência da então já multimilenar tradição egípcia: viver numa margem do rio e ser sepultado na margem oposta.
Mas pronto. Vamos ter outra vez uma encenação mais ou menos histórica. Desta vez organizada por uma entidade privada de Santa Maria da Feira, que cobra quase 100 mil euros pela extravagância. E como não se prevêem receitas, (o que é habitual), lá vão os tomarenses ter de pagar a coisa no recibo da água e por aí fora. Quem quer festa, ou sua-lhe a testa ou paga que nem uma besta.
Para o ano em princípio há mais. Salvo se em Outubro... De qualquer forma, em 2019 é que não poderá ser em Julho. Não haverá eleições em Outubro, mas sobretudo porque aí teremos  a Festa dos Tabuleiros. E tratando-se da Festa Grande, cuidado, muito cuidado. Os guardiões da tradição, também alcunhados por alguns de fundamentalistas serôdios, não estão para alterações. Tabuleiros todos os anos? Nem pensar! Entradas pagas? Você é doido, ou faz-se? Alterar o percurso do cortejo? Está a gozar com a gente ou quê?
Leram mal o Lampeduza. Onde está "é preciso ir mudando qualquer coisinha, para que tudo possa continuar na mesma", leram "nada deve mudar para que tudo possa continuar na mesma". Exagero? De modo algum. Este guia, que é do melhor que já se fez em Portugal, não permite dúvidas:


Na página 455, pode ler-se: "Feiras. De Santa Iria (19 e 20 de Outubro). -Festa dos Tabuleiros em Junho, em que as raparigas das fogaças, vistosamente vestidas e acolitadas cada uma por seu ajudante, levantam no ar com garbo açafates de verga em que se sobrepõem pilhas de pão atravessadas de canas, enfeitadas de flores, fitas e bandeiras, e cobertas por uma alva toalha de rendas. Os tabuleiros aparecem também em outras povoações dos arredores, como por exemplo no Avelar."
Por conseguinte, senhores puristas, há 90 anos, antes de 1927, era assim, conforme acabam de ler. A Festa realizava-se anualmente em Junho, os tabuleiros tinham fitas e bandeiras, além dos açafates, das canas, do pão, das flores e da toalha alva. Mas não consta que tivessem coroa, caso contrário o autor tê-la-ia decerto mencionado.
Dado que, conforme se constata, em matéria de Festa dos Tabuleiros a tradição afinal também já não é o que era, nada obsta a que se introduzam as alterações indispensáveis à nossa sobrevivência enquanto comunidade autónoma, respeitando sempre, bem entendido, o essencial. Que não é tudo aquilo que os fundamentalistas procuram manter inalterado.

Adenda
Não senhor; não há engano nenhum. Em 1927, para os autores do guia, Tomar fazia parte da Estremadura beirã e tinha 7.993 habitantes. Uma fartura para a época. Santarém tinha então 10.024 habitantes e Leiria apenas 4.929.
90 anos mais tarde, em 2016, Tomar contava 36.266 eleitores inscritos, Santarém 52.452 e Leiria 113.189. Há cidades que envelhecem bastante mal...

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