sábado, 1 de julho de 2017

Mobilar até vir o esquecimento

Já votou aqui ao lado ???

Clémenceau terá dito um dia algo que se veio a tornar muito conhecido e praticado: "Se podem resolver o problema, façam-no. Caso contrário nomeiem uma comissão." Ocorrências recentes com fogo, uma deles infelizmente bem trágica, vieram demonstrar que também os políticos portugueses gostam de seguir a sugestão de Clémenceau. Vejamos.
No início de Junho, causou justificado alarme a nível nacional o programa Sexta às 9, da RTP 1, sobre desmandos no Convento de Cristo, em que fizeram uma fogueira no Claustro da Hospedaria  durante umas filmagens. Acossado, o senhor ministro da cultura, que é também um ilustre diplomata e intelectual, foi lesto na resposta. Prometeu um rigoroso inquérito, com relatório final no prazo máximo de 20 dias. Já passaram entretanto 25 dias e do prometido relatório nem ditos nem modos. Ao que parece nem a senhora presidente da Câmara, que entretanto solicitou uma audiência, chegou ainda a ser recebida.
Dado que uma desgraça nunca vem só, aconteceu depois, a 17 de Junho, a imensa tragédia de Pedrógão Grande, que causou 64 mortos. Reacção do governo? Vai ser empossada uma comissão, com 6 peritos nomeados pela Assembleia da República e outros tantos pelo conselho de reitores. Terão 60 dias para apresentar o relatório final, com um eventual prolongamento de mais 30. Prometido e jurado. Agora é só aguardar.
Tanto num caso como no outro, embora infelizmente de proporções e consequência bem diferentes, salta à vista uma preocupação comum: Sacudir a água do capote e mobilar a narrativa até que venha o inevitável esquecimento.
Outros comentarão o caso dos incêndios, que não é de todo a área de competência de Tomar a dianteira 3. Quanto ao Convento de Cristo, com o tempo acontecerão mais desmandos de toda a ordem, enquanto se mantiver a actual situação de gestão a partir de Lisboa, quando os representantes eleitos dos tomarenses reúnem nos Paços do Concelho, a 100 metros em linha recta da antiga casa grande da Ordem dos Templários e de Cristo. Uma evidente situação colonial. Tutela em Lisboa, indígenas em Tomar.


É inevitável que assim venha a acontecer, porque uma tutela que tolera há anos e anos uma entrada ridícula, pessoal sem formação prévia para as funções que desempenha, horários inadequados, ausência de visitas guiadas sistemáticas, inexistência de dispositivos de detecção de explosivos, bem como a impossibilidade, salvo pedido expresso, de visitar locais emblemáticos do Convento de Cristo, como a Sala dos Cavaleiros, as Salas das Cortes, a cisterna do Claustro da Micha, o 1º piso das Necessárias, o Refeitório do pessoal menor ou o prisão subterrânea da Inquisição, também consente tudo o resto que venha a ocorrer. Não é a partir do Palácio da Ajuda que se pode controlar o que ocorre na antiga sede da Ordem de Cristo, distante 130 quilómetros, mas realmente dão muito jeito os mais de um milhão e duzentos mil euros anuais, que rendem as entradas, apesar das asneiras antes citadas. E uma vez que os tomarenses em geral se mantêm sossegados, Viva a República! Viva o centralismo democrático!
Onde é que há-de ser a próxima  sessão de filmagens, de preferência com uns efeitos especiais? Talvez na velha Charola templária, que fica sempre muito original nas fotos e nos videos... (ver imagem)

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