"Anda à solta na sociedade portuguesa um pequeno totalitarismo preocupante. Não é uma pessoa, nem um partido. Não é sequer uma ideia coerente. São antes laivos de pequena PIDE ou de pequena STASI, ou resquícios de regimes passados. É triste."
Este comentário de Henrique Monteiro, cronista no EXPRESSO, do qual já foi director, deixou-me por enquanto mais tranquilo. É que andava algo confuso, sem saber bem se estava perante a tradicional deriva totalitária do microcosmo tomarense, enquanto parte integrante do macrocosmo português, ou se, pelo contrário, se tratava apenas de uma errada perspectiva minha. O escrito de Monteiro veio portanto em boa altura e sossegou-me. Estou bem acompanhado. Tanto mais que o excelente comentador do maior semanário português não costuma ler de certeza os comentários anónimos de Tomar na rede. Tão pouco terá lido uns mails que recebi há alguns dias, condenando-me sem contraditório prévio por ter ousado escrever sobre determinado assunto, e que são de causar arrepios na coluna vertebral.. A demonstrar que, mais de quarenta anos após Abril, ainda há em Tomar gente a pensar que em democracia plena podem existir, designadamente na área informativa e do comentário, determinadas reservas de caça. Como se fossem coisas sagradas, em suma, apesar de nitidamente fora da esfera íntima. Santa ignorância. Reles posicionamento cívico.
Apesar de tudo, considero-me com sorte. Nasci em 1941. Se tenho nascido uns séculos antes e aqui em Tomar, o meu fim teria sido decerto numa daquelas fogueiras purificadoras de almas transviadas pelo demónio da liberdade de pensar. Para grande satisfação de alguns dos meus conterrâneos, devotos católicos, apostólicos e romanos.
Além do aspecto totalitário dessas nódoas, elas evidenciam outrossim que, aqui pelas margens nabantinas, alguns agem como agem porque cuidam de facto que continuamos na época da santa inquisição e das suas fogueiras. Porque me considero tolerante, não vou revelar tais escritos, nem a identidade dos seus autores, tanto mais que estamos em ano eleitoral. Mas peço a esses lamentáveis conterrâneos que não abusem da minha já pouca paciência. Com a minha idade e o meu fraco estatuto social, pouco ou nada tenho a perder. E não sou nem serei candidato. Ao contrário de vários intervenientes nessa lúgubre e nojenta correspondência.
O túmulo de Baltazar de Faria, que trouxe para Portugal a bula papal autorizando os tribunais da Santa Inquisição, está no Claustro de Cemitério, no Convento de Cristo. Quatro séculos depois, em 18 de Março de 1974, foi uma coluna militar ida de Tomar que cercou e prendeu os militares revoltosos das Caldas da Rainha, precursores do 25 de Abril. É preciso dizer mais?
Talvez referir que, além dos Tabuleiros e do imobilismo tacanho, o pior obscurantismo ultradireitista continua a ser outra grande tradição tomarense, bem viva e generalizada. Infelizmente.
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