quarta-feira, 5 de julho de 2017

Caso das filmagens no Convento de Cristo

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Relatório da Direcção Geral do Património Cultural sustenta que não aconteceu nada de grave

Com algum atraso em relação aos prometidos vinte dias, lá acabou por aparecer o relatório da DGPC sobre os alegados estragos e outras irregularidades no Convento de Cristo, na sequência de graves denúncias feitas no programa Sexta às 9, na RTP 1, em 2 de Junho  passado. Conforme previsto, acaba tudo em águas de bacalhau, como de resto é uso e costume neste abençoado país.
É o Público que noticia e comenta o referido relatório, num bom trabalho de Mário Lopes, na página Cultura e Património, com chamada de primeira página, ilustrada e tudo:


Que diz o relatório? Sustenta que, tudo bem visto e ponderado, não aconteceu nada, ou perto disso. Reconhece apenas a letra da música antes cantada pelo ex-director Álvaro Barbosa: "a quebra de quatro fragmentos pétreos e de seis telhas", tudo no valor, estimado por uma empresa de restauro, de 2.900 euros, após alguém da produção ter garantido ao Público que as telhas partidas eram "convencionais e de fabrico recente". O que não surpreende, sabido como já era que o telhado foi reabilitado há apenas alguns anos, todo com telha lusa nova.
Sobre as árvores que teriam sido queimadas pela alegada fogueira, reconhece o relatório que foram retiradas posteriormente, mas apenas por se tratar de espécies não autóctones, que tinham sido plantadas para a rodagem de um outro filme, há 12 anos. O problema é que conhecedores do claustro da Hospedaria garantem que eram ameixeiras, que ali estavam há mais de 30 anos. Se não lhes queimaram a folhagem, porque as retiraram exactamente a seguir à rodagem do filme? Foram as filmagens que permitiram perceber que se tratava de árvores alógenas?
Outro problema está bem sintetizado no título e na chamada de título do Público: "Nem fogueiras nem árvores queimadas no Convento de Cristo... No entanto, vai ser revisto o Regulamento de Utilização de Espaços patrimoniais e criada uma equipa para avaliar todos os pedidos." Mais precisamente, trata-se de  "uniformizar critérios de utilização e reforçar as exigências às empresas que solicitam o aluguer." Realmente uma decisão estranha, uma vez que praticamente não aconteceu nada que a possa justificar, segundo o próprio relatório. Ou não terá sido bem assim?
O supracitado programa televisivo abordou igualmente, de forma documentada, fraudes na venda dos ingressos, clima de medo entre o pessoal, utilização abusiva e reiterada de funcionários para fins particulares por parte da actual directora, bem como incómodos para os visitantes, causados pelas filmagens. De tudo isso, segundo o Público, o relatório apenas remete o caso das fraudes de bilheteira para posterior auditoria. A qual, está-se mesmo a ver, concluirá não ter existido qualquer irregularidade.
Na mesma linha, os problemas recorrentes que nos envergonham a todos, como portugueses e sobretudo enquanto tomarenses defensores do património, nomeadamente uma entrada mais própria para serviçais, visitantes perdidos, falta de segurança, ausência total de controle anti-explosivos à entrada, sectores importantes encerrados, Coro Manuelino há seta anos à espera de restauro, visitas guiadas só mediante pedido com antecedência de dias, funcionários sem formação adequada, assiduidade muito irregular, falta de vigilância... Ficará tudo para melhor oportunidade. Quando ocorrer uma desgraça. Impossível de prever, garantirão logo a seguir os responsáveis. Como na tragédia de Pedrógão. Como no vergonhoso roubo em Tancos. 
Segundo Duarte Marques, no Expresso online de 04/07/17, "Na tragédia de Pedrógão, como no roubo de Tancos, o que incomoda não é apenas a incompetência e a irresponsabilidade do governo, mas também e sobretudo a leviandade e o despudor com que se procura manipular a informação que chega à opinião pública." Este relatório sobre o "caso Convento de Cristo" é uma perfeita ilustração disso mesmo. Infelizmente continuam a tentar enganar os cidadãos, em vez de assumir responsabilidades e ir corrigindo o que está mal. Até quando?


anfrarebelo@gmail.com

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