segunda-feira, 10 de julho de 2017

Sobre a palhaçada templária

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José Gaio acaba de publicar, no seu Tomar na rede, como sempre se impõe, um balanço da colheita 2017 da "Festa Templária", que ontem terminou. Está excelente e tem o meu apoio. Não vou portanto repetir aquilo que ali é dito, muito melhor do que eu o diria. Com essa publicação, o administrador de Tomar na Rede agravou o seu caso. Infelizmente, em Tomar, 43 anos após Abril, quem critica frontalmente, ou noticia mesmo que de forma neutra assuntos desagradáveis, passa à categoria de inimigo declarado. Sei do que falo. Integro esse reduzido grupo de malditos a nível local, há mais de meio século. E queimado há 50 anos é mesmo muito tempo de experiência. Dá para o tal "saber de experiência feito", de que se falava nos idos de quinhentos. Resta-me assim dar as boas vindas ao meu prezado amigo José Gaio. a quem auguro um futuro brilhante, pelas razões adiante implícitas.
No meu entender de velho casmurro, o evidente declínio tomarense resulta da atitude dos eleitos da zona e dos respectivos eleitores, que desde sempre consideram, sem nunca o dizerem explicitamente, que têm razão contra todos os outros, pelo que não precisam de ajuda, nem admitem críticas. Julgam que têm, à imagem do Papa, o privilégio da infalibilidade.
Tal como em todos os outros, neste caso específico da "Festa Templária" houve erros manifestos e perderam-se oportunidades excelentes, porque mais uma vez mais faltou: A - Uma ideia inicial devidamente trabalhada; B - Um planeamento adequado; C - Uma execução realmente profissional.




Indo por partes, não houve uma ideia trabalhada porquanto se tratou, aquando da primeira edição, sobretudo de sacar fundos europeus. Daí resultou  o embarque na lenda segundo a qual no cerco de 1190 terá havido combates ferozes entre os muçulmanos e os templários. Sucede que tal narrativa é falsa. A lápide comemorativa da época, existente do lado direito da escadaria de acesso ao Convento, não permite dúvidas: ... cercou este castelo durante seis dias e destruiu tudo quanto encontrou fora dos muros e ao castelo e ao dito mestre e seus cavaleiros livrou Deus das suas mãos e o mesmo rei tornou para a sua pátria com inumerável detrimento dos homens e das bestas..."
Uma vez que não consta em lado algum, excepto nalgumas cabecitas locais mais dadas a fantasias guerreiras, que os invasores tenham entrado no castelo, ou que os sitiados dele tenham saído para combater, a que atribuir o "inumerável detrimento dos homens e das bestas"? Não terá sido apenas o resultado da desinteria e do paludismo, provocados pelas águas então estagnadas do alagado leito do Nabão?
Aceite-se contudo a versão mais teatral que foi retida. Conforme disse um dia John Ford, o grande realizador de filmes sobre o oeste norte-americano, "quando a lenda se sobrepõe à realidade, filme-se a lenda." Mas nesse caso há que dizer publicamente que se trata de simples teatro, a tal palhaçada de que fala o povo.
Sendo a ideia inicial parcialmente falsa, que planeamento foi feito? Algo tão estranho que até incluiu um "jantar real", a 30 euros por cabeça, quando na época apenas terá havido, na melhor das hipóteses, um "jantar mestral", não se sabe bem onde nem quando, pois dessa época apenas chegaram até nós a Charola e parte das muralhas.
Donde os resultados alcançados. Apesar do evidente e louvável esforço de muitos tomarenses, tanto das freguesias como da cidade, houve uma vez mais erros de palmatória. Sujou-se ainda mais a já tão abalada imagem externa de Tomar e deixou de se ganhar muito dinheiro. Embora tenha vindo bastante gente de fora, provavelmente os lucros conseguidos nem sequer serão suficientes para cobrir os custos e  os prejuízos. Tudo porque, tal como vem sucedendo com a Festa dos tabuleiros, aqueles que têm influência nestas coisas continuam a padecer de duas ideias fixas: 1 - Julgam que estão sempre cheios de razão, pelo que nem sequer encaram a hipótese de mudar seja o que for; 2 - Consideram que o Mundo parou há 50 anos, assim fixando o que temos forçosamente que respeitar.
Pois façam o favor de continuar a bater com a cabeça na parede, mas depois não se queixem que têm cada vez mais "galos". E escribas tomarenses a criticar-vos. Não por maldade, por gosto ou com a intenção de prejudicar. Simplesmente porque as coisas são o que são. Em Tomar, como em toda a parte, os rios correm para a  foz. Nunca para a nascente.

anfrarebelo@gmail.com

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