sábado, 25 de março de 2017

Resposta a um prezado conterrâneo

Tentei não responder-te, mas falhei. As ideias começaram a  bailar-me na cabeça e então disse para comigo: Afinal escreves para despejar o cérebro ou não? Portanto aqui vai a resposta para ti, FRM, que assinas Templário. És conterrâneo e todavia meu amigo há longo anos. Apesar das nossas divergências políticas.
Começo por te dar razão, Fernando. O candidato Bruno Graça  é bom. Sério, bem formado, competente, empenhado, alheado das benesses do cargo. Talvez o melhor de todos os candidatos já conhecidos. E escrevo talvez porque não conheço os outros tão bem como julgo conhecê-lo a ele. Infelizmente, ainda que, por um improvável bambúrrio, conseguisse vencer, penso que seria mais um desastre para Tomar. Simplesmente porque o cidadão é bom, mas o projecto implícito da formação política cuja camisola veste, é mau. Totalmente inadequado aos tempos que correm. Passo a tentar explicar.
Apesar do seu magnífico trabalho de longos anos à frente da Gualdim Pais e de todo o seu brilhante passado político. o candidato da CDU conseguiu em 2013 1827 votos, 9,19% dos votos entrados nas urnas, mas apenas 4,89% dos eleitores inscritos. Está longe de ser o melhor resultado da CDU e antecessoras (FEPU, APU) no concelho de Tomar, conforme podes constatar neste quadro, elaborado a partir das tabelas da CNE e do MAI:        

Resultados eleitorais da coligação PCP - PEV no concelho de Tomar

Ano         Total de votos           %               % de abstenção

1976--------1.325---------------7,45%-----------41,72%
1979--------2.248---------------9,90%-----------30,18%
1982--------2.772-------------12,35%------------39,92%
1985--------2.517-------------11,48%------------38,85%
1989--------2.333-------------10,13%------------37,72%
1993--------2.113--------------8,33%-------------36,32%
1997--------3.329-------------13,29%------------38,75%
2001--------2.125--------------8,80%-------------38,63%
2005--------2.508-------------11,44%-------------38,99%
2009--------1732---------------8,00%-------------41,21%
2013--------1.827--------------9,19%-------------46,70%

Como podes ver, meu prezado amigo, conquanto em 2013 o Bruno tenha recuperado em relação a 2009, os seus 1.827 votos são mesmo assim o 5º pior resultado de sempre, em 11 eleições autárquicas livres e honestas. O pior de todos foi em 1976 e o segundo pior foi justamente em 2009. Curiosamente, os anos em que a coligação liderada pelos comunistas obteve piores resultados (1976, 2009 e 2013), são também aqueles em que houve maior taxa de abstenção.
Chegados aqui, forçoso é concluir que, em termos de resultados práticos, a doutrina não penetra. Mesmo com o excelente quadro político e autarca que é o Bruno, a CDU está agora bem longe dos quase três mil e quatrocentos votos de 1997. Porquê? No meu tosco entendimento, porque o seu projecto político convence cada vez menos eleitores. Só assim se explica que no concelho de Tomar não tenha conseguido congregar em 2013 mais de 4,89% dos eleitores inscritos, apesar de o PCP se proclamar defensor dos trabalhadores e do povo (antes de mais e sobretudo dos funcionários e pensionistas).
Na verdade, num concelho endividado, em recessão económica, com a população a diminuir acentuadamente e com excesso de despesa com funcionários camarários sentados, recusar ou mesmo adiar o aligeiramento da demasiado pesada estrutura municipal, como via para reduzir depois os encargos fiscais, por sua vez condição sine qua non para fixar população e criar emprego (ou vice-versa), é uma posição que convence apenas os já convertidos. Por isso escrevi acima o que escrevi.
Quer queiramos quer não, quer nos agrade ou não, é este o mundo e esta a sociedade em que vivemos. Com crescimento económico muito inferior ao dos anos 70, (menos de metade e sem perspectivas favoráveis) o que torna inviável qualquer política de esquerda sensata, pois não há suficiente criação de riqueza, para depois distribuir. E a esquerda o que sabe é distribuir. Por isso vem sendo condenada nas urnas por essa Europa fora e a geringonça não tardará a ir pelo mesmo caminho. É inevitável. A menos que façam o que na Grécia Tsipras, o bloquista lá do sítio, vai aceitando. Implementar tudo o que os credores lhe exigem, tentando convencer os gregos que está a governar à esquerda. O logro completo, em termos ideológicos e práticos. Vender gato por lebre. Adaptar os valores ao contexto, para citar Rui Ramos, que é de direita. (E daí? A esquerda tem o exclusivo da análise correcta? Desde quando?)
Em conclusão, nesta querida Tomar que ambos amamos, julgo que fazem falta: 
1 - Um projecto mobilizador, eficaz e adequado, capaz de aproveitar os recursos disponíveis, e de aumentar a médio prazo as receitas municipais, sem recorrer a impostos e taxas obrigatórias;
2 - Redução das despesas com pessoal e da tributação a nível local;
3 - Adequação das estruturas municipais às necessidades concelhias;
4 - Criação de empregos produtores de mais valias;
5 - Redução acentuada da burocracia;
6 - Mudança de atitude face aos investidores, que passa pela prévia condenação da arrogância de alguns funcionários superiores.
Uma vez que, por razões ideológicas, a formação que o  Bruno actualmente representa não pode apresentar um programa eleitoral assim, desejo-lhes muito boa sorte, como a todos os outros, mas desde já afirmo que não contarão com o meu voto, do qual também não precisam, bem sei.
Já me disseste, e não foste o único, que apostei sempre nos cavalos errados. É possível. Mas que eu saiba, os vossos cavalos jamais venceram nas urnas, na Europa ocidental. E onde venceram como venceram, os resultados nunca foram brilhantes, para não dizer mais.
A interpretação é livre. Os factos são o que são.

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