sábado, 18 de março de 2017

Afinal parece que é uma síndrome populista

Ponto prévio


Contrariando o que alguns possam pensar, sempre tive e mantenho um relacionamento cordato, tanto com Anabela Freitas como com a senhora presidente da Câmara. Nem sequer me posso queixar de falta de atenção no que concerne a pedidos ao abrigo do direito à informação. Há apenas um caso pendente, em que prometeu por esrito marcar uma data de encontro para a segunda metade de Maio e isso ainda não ocorreu. Mas também ainda não é tarde.
Tudo isto para dizer, em síntese, que o meus diferendos são exclusivamente políticos e com a cidadã presidente da câmara. Nada de confusões. Adversários políticos não são inimigos. Apenas concidadãos com alguns pontos de vista diferentes.

Vista daqui, a paisagem política tomarense está cada vez mais estranha. Crispada, confusa, emaranhada. E com pelo menos uma cambalhota inesperada. Procurando responder ao PSD, no diferendo sobre o ajuste directo de 50 mil euros com uma agência de comunicação, (a qual, por mera curiosidade, até já trabalhou também para uma vereação PSD da Câmara de Lisboa), a senhora presidente esclareceu, em termos menos adequados, que se trata afinal de melhorar a comunicação da cidade/autarquia a nível nacional. Não de fazer a promoção da actual presidente.
Em declarações à Rádio Hertz sobre essa mesma matéria, referindo-se à promoção da Festa Templária de 2015, na TVI, Anabela Freitas foi directa: "Só quem lá esteve sabe as vergonhas que passei." Acicatado por tal confissão, fui ver o vídeo, mas nada, nos 12 minutos que dura, indicia essas vergonhas. E ainda bem. Notei, isso sim, o amadorismo do costume, com gente cheia de boa vontade, mas manifestamente nada profissional. À antiga portuguesa. À tomarense.

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Situação que resulta da falta de meios humanos e  materiais do Município de Tomar. Que, ao contrário de outros, não pode contar com uma boa equipa de profissionais de comunicação e eventos, porque isso custa muito dinheiro e a Câmara, por razões que a razão desconhece, nunca procurou arranjar um confortável fundo de maneio, à margem do orçamento municipal. Assim tipo "Comissariado das feiras", no tempo do vereador Bento Baptista, antes do 25 de Abril, que deixou os Pavilhões da FAI, acrónimo de Feira da Avicultura Industrial.
É claro que essa espécie de saco azul só poderia existir graças às receitas legais obtidas com iniciativas igualmente legais do Município. Nunca percebi por isso o que impede que se rentabilize a vinda a Tomar de dezenas de milhares de forasteiros, para assistir aos nossos eventos. Porque, quer nos agrade ou não, vivemos numa sociedade capitalista, na qual o que conta  são as receitas, os lucros líquidos. O resto não passa de conversa fiada. Nestas condições, não se entende de todo, eu pelo menos não entendo, o que leva a autarquia a subsidiar generosamente vários eventos, ao mesmo tempo que proíbe que os respectivos organizadores cobrem entradas. Com uma notável excepção, reconheço. O Festival Bons sons, cuja idoneidade e fama a nível nacional não estão aqui em causa, recebe subsídios autárquicos superiores a 50 mil euros anuais e depois ainda cobra as entradas no recinto, que não são propriamente baratas. A demonstrar na prática que há um vasto e muito rentável filão a explorar.
Não estou a atacar tal prática, mas antes a louvá-la, excepto no que concerne aos subsídios, que naturalmente devem ser modulados em função das receitas globais do Festival. Procedo assim para melhor destacar a ultrapassada prática de quem organiza os Tabuleiros, a Festa templária, as Estátuas vivas, ou o Festival de Teatro. No Templário desta semana, o mentor e motor do Fatias de cá, Carlos Carvalheiro, cujo currículo em prol do teatro é impressionante, titula a sua habitual colaboração "Pode ser que tudo acabe ainda em bem...", para logo mais abaixo acrescentar "...descontando a "imposição" da Câmara da entrada ser à borla, coisa que considero um erro e um populismo..."
Pois é. No actual contexto nacional e internacional, o que conta em matéria de turismo e eventos são as receitas que os visitantes deixam. O resto é só blabláblá para entreter e enganar.. Que me interessa a mim, ou a qualquer outro cidadão, causticado com impostos e taxas de toda a ordem, que os Tabuleiros, a Festa Templária, as Estátuas vivas e tutti quanti, tragam cá muita gente? Para fazer promoção? Mas promoção de quê? De uma terra de patuscos que não sabem e não querem ganhar dinheiro?
Interessante e muito favorável ao desenvolvimento local seria conseguir, com o turismo e os mais variados eventos, receitas que permitissem rechear o tal saco azul, para depois aliviar a carga fiscal das empresas e dos cidadãos. Mas a atitude da Câmara, denunciada agora também pelo Fatias de Cá, mostra que a recusa de entradas pagas é afinal uma síndrome populista, sem cura nos tempos mais próximos, conforme se pode ver por essa Europa fora. Pelo menos enquanto houver políticos-bigorna e cidadãos para explorar, mediante taxas e impostos cada vez mais exorbitantes. Mesmo que não assistam aos variados eventos, subsidiados com o seu dinheiro, que depois faz tanta falta noutros sectores.
Parafraseando a senhora presidente, na sua recente resposta ao PSD: Em termos políticos, quem nasceu para lagartixa, nunca chega a jacaré. Ou, noutra arquitectura frásica e vocabular, a peixe que não sabe nadar, até as barbatanas atrapalham.
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