Trabalhar com estatísticas eleitorais em Portugal é tudo menos fácil. Resultados há, e podem ser facilmente consultados na net. O pior é que alguns detalhes complicam inutilmente. Cabe lá na cabeça de alguém que, por exemplo, não indiquem directamente a percentagem de abstenção? Pois é isso mesmo que acontece. Nos quadros oficiais de resultados, do MAI, aparece unicamente a percentagem de participação. O que força a efectuar a respectiva operação, que era bem escusada. Adiante.
No caso de Tomar, é indispensável consultar resultados anteriores, antes de tentar prever os resultados das próximas autárquicas. Isto porque, além dos problemas do passado, surgiu agora um outro obstáculo de monta. Com o desaparecimento praticamente certo dos IpT, deixa de concorrer a 3ª força política concelhia. O que representa menos 15,56% dos votos entrados nas urnas e 8,29% do universo eleitoral concelhio. Não é pouca coisa, num concelho onde, mesmo com os IpT, o que facultava uma escolha entre três potenciais vencedores, o total de votos brancos e nulos, os tais votos de protesto, chegaram aos 8, 92% em 2013. Em Tomar, vamos portanto retornar, segundo tudo parece indicar, à situação anterior a 2005. Uma disputa PS/PSD, ou vice-versa. Quais as consequências?
O quadro seguinte indica os resultados eleitorais de 2005 e 2013, em todos os 21 concelhos do distrito de Santarém, que contava em 2013 399.173 eleitores inscritos, dos quais 46,32% se abstiveram e 7,38% votaram branco ou nulo. O que dá uma TBA - taxa bruta de abstenção (abstenção + votos brancos + votos nulos) de 53, 7% a nível distrital. Mais de metade do eleitorado.
Concelho TBA em 2005 TBA em 2013 Diferença percentual
Abrantes 44,12% 56,45% + 12,33%
Alcanena 35,14% 47,69% + 12,55%
Almeirim 53,15% 54,76% + 1,65%
Alpiarça 35,70% 45,02% + 9,32%
Benavente 56,14% 68,18% + 12,04%
Cartaxo 46,56% 52,00% + 5,44%
Chamusca 41,98% 44,21% + 2,23%
Constância 28,56% 36,33% + 7,77%
Coruche 45,04% 48,83% + 3,79%
Entroncamento 43,37% 59,51% + 13,14%
F. do Zêzere 33,92% 39.07% + 5,15%
Golegã 36,60% 38,88% + 2,28%
Mação 27,62% 32,98% + 5,36%
Ourém 44,19% 53,95% + 9,76%
Rio Maior 42,44% 48,69% + 6,25%
Salvaterra de Magos 49,15% 61,58% + 12,43%
Santarém 41,15% 55,73% + 14,58%
Sardoal 25,07% 30,77% + 5,70%
Tomar 45,09% 55,62% + 10,53%
Torres Novas 42,25% 56,25% + 14,00%
V. N. da Barquinha 42,84% 50,32% + 7,48%
Face a estes resultados, obtidos a partir das páginas oficiais do MAI, uma primeira constatação se impõe. Entre 2005 e 2013, em oito anos portanto, a TAB, Taxa bruta de abstenção, agravou-se em todos os concelhos do distrito, com especial incidência nos principais centros urbanos, Uma classificação por ordem decrescente da diferença percentual entre 2005 e 2013, permite visualizar melhor essa situação:
Concelho Diferença % 2005 - 2013
1 - Santarém 14,58%
2 -Torres Novas 14,00%
3 - Entroncamento 13,14%
4 - Alcanena 12,55%
5 - Salvaterra 12,43%
6 - Abrantes 12,33%
7 - Benavente 12,04%
8 - Tomar 10,53%
9 - Ourém 9,76%
10 - Alpiarça 9,35%
11 - Constância 7,77%
12 - Rio Maior 6,25%
13 - Sardoal 5,70%
14 - Cartaxo 5,44%
15 - Mação 5,36%
16 - Ferreira do Zêzere 5,15%
17 - V. N. Barquinha 5,05%
18 - Coruche 3,79%
19 - Golegã 2,28%
20 - Chamusca 2,15%
21 - Almeirim 1,65%
Há por conseguinte 8 concelhos, entre os quais Tomar, cuja taxa bruta de abstenção aumentou mais de 10 por cento em oito anos. As alcoviteiras do costume, sobretudo as de esquerda, vão alegar que se trata de uma situação normal, uma vez que há pessoas que morrem ou mudam de residência e os cadernos eleitorais nem sempre são actualizados atempadamente. Trata-se de uma explicação que não colhe. Os defuntos e os ausentes por mudança de residência, abstêm-se. Não votam branco ou nulo. E no distrito o panorama foi este:
Concelho % de brancos + nulos
2005 2013
1 - Benavente 6,38% 9,11%
2 - Entroncamento 3,88% 9, 07%
3 - Tomar 6,10% 8,92%
4 - Torres Novas 5,16% 8,80%
5 - Abrantes 5,01% 8,37%
6 - Ourém 5,92% 8,25%
7 - Santarém 4,83% 7,72%
8 - Barquinha 4,46% 7,12%
9 - Rio Maior 6,25% 6,89%
10 - Alpiarça 2,68% 6,22%
Com estes tristes resultados, sempre a subir, que quanto a mim mostram a crescente desconfiança dos eleitores em relação ao actual sistema, a pergunta que se impõe aos tomarenses é a seguinte: Se em 2013, com a possibilidade de escolher entre três formações potencialmente vencedoras (PS, PSD, IpT), já houve quase nove por cento de eleitores que resolveram protestar ou não escolher; em 2013, ao que tudo indica com a escolha confinada ao duo PS/PSD, cujos programas têm sido sempre praticamente gémeos, como vai ser? Vamos ter outra vez uma ou um presidente eleito por menos de 15% dos inscritos? É um hipótese provável, que seria muito pouco animadora para os tomarenses. Muito depende dos programas e da campanha eleitoral. No estado actual das coisas, quanto menos eleitores votarem numa formação partidária, maior é a possibilidade de o PS vencer de novo. Isto porque, no próximo escrutínio, se o PSD não inovar muito seriamente, onde estará a novidade apelativa?
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