Peço licença para me repetir. Que eu saiba, nunca ninguém disse tanto, tão acertado e tão bem, em tão poucas linhas, escrevi na apresentação da mensagem anterior. Volto agora ao assunto, para vincar outros detalhes. Um texto simultaneamente tão denso, tão acutilante, tão certeiro e tão sucinto, só pode resultar de um bom conhecimento da realidade local. O qual conhecimento, por sua vez, terá de ter origem numa cuidada observação da preocupante situação nabantina.
A perigosa ascensão da extrema direita, na Polónia, na Hungria ou na Turquia, cujos governos lidera; bem como em França, na Holanda, na Alemanha ou em Itália, passou a ser ainda mais temida a partir da inesperada eleição de Trump. Em todos estes casos, os analistas políticos falam de populismo, mas ainda não chegaram ao âmago da questão: Todos esses sucessos da extrema direita, já confirmados ou ainda por confirmar nas urnas, têm vários pontos comuns.
Os seus líderes, em geral ditos carismáticos (mesmo pela negativa, como Trump), agem apoiados numa prévia observação cuidada da sociedade envolvente, a partir da qual detectam toda uma série de sintomas. Desse conjunto de sintomas (as queixas explícitas ou implícitas dos cidadãos) deduzem um diagnóstico, que anunciam em frases simples, tipo sujeito, predicado, complemento, ou nem tanto. São os agora já célebres tweets de Trump.
Um dos especialistas nessa arte da observação > sintomas > diagnóstico > terapêutica é o actual líder da extrema-direita holandesa, um político infrequentável porque muito perigoso, mas que lidera as sondagens, Geert Wilders de seu nome. Extremamente reservado e avesso a entrevistas, lá vai infelizmente difundindo o seu programa eleitoral que tem só 11 pontos, dos quais ouso revelar apenas 3: Proibição do Corâo, encerramento das mesquitas, expulsão dos marroquinos. É montruoso? Pois é. Mas, tendo em conta o que mostram as sucessivas sondagens, corresponde ao que muitos eleitores holandeses desejam. Numa das sociedades mais avançados e tolerantes da Europa, que no final do século XV acolheu os perseguidos judeus portugueses e espanhóis.
Outro tanto está a acontecer com as sucessivas enormidades de Trump. Por exemplo o projectado muro fronteiriço, que tanto desagrada por esse Mundo fora, vai mesmo avançar e não consta que choque a maioria dos cidadãos estado-unidenses.
Toda esta prosa para realçar que a assustadora subida da extrema direita não é obra do acaso. Resulta de cuidada observação e de um método de trabalho rigoroso, que consiste basicamente em aproveitar as falhas evidentes dos políticos e das formações políticas tradicionais, como se viu nos USA. A sociedade americana bem pensante cuidou que no final acabaria por vencer, como habitualmente, o bom senso e o bom gosto. Que um patusco como Trump nunca chegaria à Casa Branca. Agora aí o têm.
Da mesma forma e com as mesmas consequências, não consta que as agremiações políticas tomarenses, com a notável excepção do PCP, pratiquem o tal método observação >sintomas>diagnóstico>terapêutica. Continuam agarrados às respectivas lenga-lengas usuais, que já enjoam, e têm levado mais de metade dos eleitores a abster-se, votar branco, ou votar nulo. Donde a importância fora do comum do comentário que citei no post anterior. Para ver se finalmente conseguimos ultrapassar a actual pasmaceira, em que os socialistas se entretêm, via Net, a tentar enganar-se procurando enganar também os outros, enquanto os social-democratas já prometeram que para Maio é que é. Vamos ter um programa eleitoral. Antes pode ser perigoso difundir as ideias programáticas que eventualmente existam, não vão os adversários copiá-las ou -suprema catástrofe- os eleitores começar a discuti-las...
Quanto aos IpT, nem candidato, nem programa, nem actividade visível. Estarão em retiro espiritual propiciatório?
Quanto aos IpT, nem candidato, nem programa, nem actividade visível. Estarão em retiro espiritual propiciatório?
Pobre terra!
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