segunda-feira, 7 de outubro de 2024


Templo de Luxor (Egipto) com a mesquita encavalitada.

Capela de S. Lourenço, com a EN 110 à ilharga.

TOMAR – Augusto Barros admite que ficaria «muito magoado» caso a obra de requalificação da envolvente da Nacional 110, em Carvalhos de Figueiredo, não fosse iniciada até final do seu mandato (c/vídeo) - Rádio Hertz 28/09/2024


Aspecto exterior da mesquita de Córdoba (século VIII), com a igreja (século XVI) no meio.

Obras prometidas em Carvalhos de Figueiredo

É bem capaz de vir a ser um processo demorado

Em tempos de IA, parece conveniente começar por explicar como se faz uma análise previsional de um assunto, usando apenas a inteligência natural. Evitam-se assim (na medida do possível) posteriores acusações de má-língua ou processos de intenções. Vamos a isso.
Neste caso, ao princípio não era o verbo, ou apenas o verbo , mas três imagens: O lamento de Augusto Barros, a capela de S. Lourenço e a mesquita encavalitada no templo egípcio de Luxor. (Imagens supra). 
Numa recente entrevista à Rádio Hertz, o presidente da Junta urbana, agora em final de mandato e previsivelmente de carreira política, confessou que ficaria "muito magoado" caso as prometidas obras de requalificação da EN 110, em Carvalhos de Figueiredo, onde mora, não começassem antes do final deste mandato.
Quem escreve estas linhas pensou então ser muito provável que o presidente venha a ficar mesmo muito magoado, por haver poucas hipóteses de se iniciarem as obras a curto ou médio prazo. Falta o projecto, e falta sobretudo o indispensável consenso prévio: projectar o quê? para quando? Surgiu então o receio da reacção tacanha habitual. Se escreves isso vão acusar-te de simples maledicência e calúnia. Lembra-te da frase de Einstein: "Cada qual só sabe aquilo que conhece. O resto não existe para ele". Donde a necessidade de fundamentar a análise previsional.
Parece haver poucas hipóteses de se fazer e aprovar o projecto a curto ou médio prazo, porque existe um estrangulamento evidente no percurso a requalificar, e não se vislumbra coragem para o ultrapassar, no estado actual das coisas. Ninguém quer "fazer ondas"... 
Trata-se do curto troço da EN 110 entre a Fonte de S. Lourenço e a Rotunda do viaduto da CP. A imagem supra mostra bem que a actual localização da Capela de S. Lourenço não permite o alargamento da via, nem a construção de passeios de ambos os lados.
Prova desse estrangulamento que incomoda é o recente passadiço, de quase meio milhão de euros, que ficou sem ligação do lado sul, porque implicaria destruir parte da capela. Ora uma vez que as previstas obras de reabilitação incluem saneamento, gás, electricidade e telecomunicações, seria uma aberração abrir as valas para instalar as indispensáveis infraestruturas, deixando depois a via como está. Sem passeios e com um passadiço exterior só para disfarçar, uma vez que não tem continuidade na situação actual, nem se vê como possa vir a ter sem a prévia deslocação do templo.
Tudo se resolverá quando e se houver coragem para encarar o problema de frente, adoptando uma de duas soluções: Ou fazem uma plataforma de suporte e envolvem a capela, chamando depois uma grua potente, ou desmontam a capela e reedificam-na posteriormente, dois metros afastada do local onde agora está, para o lado do rio.
Não é difícil, pois aquele monumento não é grande nem complexo, Exige porém coragem política e envergadura cultural. Estaleca, como é costume dizer-se, um bem raro no vale nabantino.
Não se trata de caso único por esse mundo fora. Na circunstância, veio à memória uma situação semelhante: o caso da mesquita encavalitada no templo de Luxor. Quando este templo de 15 séculos antes de Cristo estava parcialmente enterrado na areia, em virtude da erosão, edificaram por cima no século VIII da nossa era, portanto 23 séculos mais tarde, uma mesquita. Mais tarde ainda, no século XIX, quando o francês Auguste Mariette fez escavações, reapareceu o velho templo egípcio. Mas num país muçulmano, quem ousa destruir ou mudar de sítio uma mesquita? Só os israelitas, e veja-se o resultado...
Mesmo nos países europeus, aqui ao lado para não irmos mais longe, construiram em pleno século XVI, no meio da mesquita de Córdoba, oito séculos mais antiga, um templo católico. Até hoje ninguém ousou repor a situação anterior. (ver imagem supra)
Nestas condições, caro conterrâneo Augusto Barros, oxalá me engane, mas já o estou a ver esperando sentado e profundamente magoado. Ou então vamos ter a EN 110 com passeios à sua porta, mas mantendo um estrangulamento à entrada da cidade, como actualmente. 
Mas não se aflija demasiado. Há 12 anos, desde o tempo do Paiva, que quem escreve estas linhas aguarda novo saneamento na Rua Aurora Macedo e limítrofes, para acabar com os maus cheiros estivais, as moscas e as ratazanas em veraneio... a 50 metros dos Paços do Concelho. Grande terra! Excelente autarquia! É só festarolas e realojamentos ou quase. Os indígenas que se lixem!

1 comentário:

  1. Entretanto a Câmara anunciou a apresentação pública do projecto para a próxima sexta-feira, dia 11 de Outubro, em Carvalhos de Figueiredo. Se bem percebi a ilustração inclusa, na parte norte o passadiço servirá também de ciclovia e passeio, situando-se entre a capela e o rio. Sinal evidente de que corre tudo serenamente nos Paços do concelho, o texto dos serviços de imprensa da autarquia que chegou a TAD3 menciona "sexta-feira 11 de Setembro". A coisa começa bem.

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