Imagem Tomar na rede, com os nossos agradecimentos.
Insegurança e outros problemas nos bairros sociais nabantinos
Simularam confundir droga com tralha e efectuaram uma acção de nítida propaganda para desviar a atenção do essencial
Os leitores recordam decerto a crónica do passado dia 27 de Setembro, na qual se citava a afirmação do socialista Augusto Barros, presidente da Junta urbana: "Há muita droga nos bairros sociais." Duas semanas decorridas, o Tomar na rede publica um "Insólito", cujo título é elucidativo para quem esteja "por dentro destas coisas": "Operação aparatosa para limpar lixo acumulado por morador". No Bairro 1º de Maio, acrescenta-se, para melhor entendimento. Operação aparatosa para limpar lixo acumulado por morador | Tomar na Rede
Que se passou afinal entretanto? Confundiram droga com lixo? É pouco provável, porquanto segundo a notícia estiveram presentes assistentes sociais da autarquia, gente que raramente tem dúvidas e nunca se engana, conquanto neste caso a sua presença tenha sido tão útil como um conjunto de violas a tocar atrás de um enterro. Se fossem varredoras, perdão, engenheiras de salubridade urbana, ainda se entendia, agora assim foi mesmo só para a fotografia.
Nesta matéria, tudo devidamente ponderado, o meu pobre entendimento é o que segue. Quem ler dirá depois se estou a ver bem ou preciso de mudar de lentes.
Recuando um pouco, por necessidade informativa, no tempo do Botas de Santa Comba não havia liberdade nem as farturas de hoje, mas bastante miséria por todo o lado. De tal forma que, sobretudo nas terras pequenas, cada família abastada tinha os seus pobres, a quem mandava distribuir alimentação, algum vestuário já usado e calçado nas mesmas condições. Usei roupa e calçado dado como esmola à minha mãe.
As coisas mudaram muito e ainda bem. De tal forma que, graças aos fundos europeus, meio século mais tarde cada formação partidária tem os seus realojados, tal como antes os ricos tinham os seus pobres, para exercerem a caridade cristã. Agora é mais para comprar votos, mas enfim...
Nestas condições, não tendo coragem para intervir no âmago da questão levantada pelo camarada presidente de junta, mas havendo necessidade de entreter o pagode, foram relativamente rápidos a decidir criar uma manobra de diversão.
Resolveram intervir no caso do realojado José Carlos, filho de um antigo funcionário municipal e traumatizado de guerra porque combateu em Moçambique, de onde regressou perturbado, que não faz mal a ninguém e tem um comportamento pacato, se exceptuarmos a mania de acumular tralha diversa, em casa e cá fora.
Que delito cometeu o José Carlos, para ser o alvo de uma operação tão aparatosa? É um realojado do tempo do PSD/AD, e por isso foi escolhido para tapar uma lacuna. Perante a evidente falta de coragem e de soluções para intervir junto dos realojados PS, muitos dos quais vêm causando problemas crescentes e são violentos, o José Carlos foi usado como bode expiatório, por haver de antemão a certeza de que não provocaria desacatos. Por conseguinte, um excelente expediente para iludir os cidadãos menos atentos, que os serviços sociais da Câmara têm tendência a considerar como lorpas, na sua maioria.
Como tralha não é droga nem material insalubre, a espectacular remoção não resolveu nenhum problema, antes agravou a situação geral, ao reforçar inadvertidamente a sensação de impunidade, cada vez mais nítida entre os realojados PS.
Resta aguardar e ir vendo, para depois tentar contar como foi. Desta vez falharam. Levaram o lixo, mas não foram felizes. Apenas contribuíram para agravar a situação geral. Acontece aos melhores, pois só não comete erros quem nada faz.
Entretanto, coitado do José Carlos! Não há nada que não lhe aconteça! Porque não vão levando a tralha, à medida que ele a vai trazendo? O que ainda lhe vai valendo é a garrafita de vinho branco, sempre escondida dentro de um saco plástico, ali ao fundo da Corredoura, enquanto vai aguardando que nas Estrelas lhe ofereçam o pequeno almoço ou o lanche. Esmolas cristãs dos herdeiros de Henrique das Neves, que é da mesma época...quando ainda não havia realojamentos, nem esquerdistas. Só o PCP na sua corajosa acção clandestina...
ADENDA
A notícia fala de galinhas dentro de casa, o que é verdade mas nada extraordinário, uma vez que a casa tem quintal. Quando lá estive em tempos, a convite do Zé Carlos, constatei que havia mais de uma dezena de galinhas poedeiras e um galo. O Zé Carlos vendia então "ovos de duas gemas". Mais tarde perguntei-lhe se ainda tinha galinhas. -"Tenho. Mas matei o galo que era paneleiro, assei-o e comi-o", disse-me o Zé Carlos, que não tem cães vadios à porta, nem gatos.
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