O que resta da feira acabou
Terminou sem glória mais uma edição do novo martírio da Santa Iria
Segundo os livros, Iria foi apunhalada por Banão, e atirada ao Nabão estando grávida, a mando de Britaldo, nos idos de 634 da nossa era. Foi rio abaixo, levou pontapés na Chamusca ("terra branca, gente fusca", por causa disso, uma vez que além dos pontapés terão murmurado "Que coisa tão negra!", ao verem o cadáver já com vários dias na água) e acabou sepultada em Santarém, junto à ponte, a antiga Scallabis, mais tarde Shanta Irene, origem de Santarém.
Nove séculos mais tarde, quando a reforma da Ordem de Cristo, feita por Frei António de Lisboa (o tomarense António Moniz da Silva), tornou necessária a fundação de um convento para recolher as mancebas dos desaparecidos comendadores com direito de pernada, Pedro Moniz da Silva, irmão do António, tratou disso e escolheu Santa Iria (grávida quando foi martirizada) como protectora da nova casa de recolhimento.
Foi o rei Filipe I de Portugal, igualmente soberano em Espanha, mas neto de D. Manuel I e portanto com indiscutível direito de sucessão, uma vez desaparecido D. Sebastião, quem concedeu foral para a Feira nova de Santa Iria em Tomar, designação agora aproveitada por Ourém.
A edificação do Palácio da Justiça na Várzea Grande, o rossio da vila ou campo da feira, na década de 50, foi a primeira machadada da era moderna na centenária feira tomarense, limitando-lhe o espaço de implantação. Desde então, e sobretudo depois do 25 de Abril, tem sido uma infindável série de insanidades, praticadas por autarcas que, salvo muito raras excepções, só as suas cabecitas cogitaram (?) ter as qualidades mínimas indispensáveis para o desempenho do cargo.
De pontapé em cabeçada, e de soco em joelhada, este ano o antigamente prestigiado certame -sobretudo como feira das passas, que entretanto emigrou para Torres novas- foi o que se viu. Com uma infeliz coincidência. A parte mastigatória da feira funcionou no estacionamento do mercado, um espaço que durante os primeiros anos serviu para parquear carroças e bestas, sobretudo aos sábados dia do mercado semanal, antes da adopção da semana inglesa.. 74 anos anos mais tarde, já ali não estacionam carroças, mas as bestas são cada vez mais.
Grandes filas de trânsito nos principais eixos, devido ao inopinado encerramento da Ponte Nova e da Av. Norton de Matos, uma manifesta ilegalidade cometida pela Câmara, uma vez que se trata de parte da EN 110, e não havia motivo de força maior. As habituais queixas de excesso de ruído dos residentes limitrofes da Várzea grande. O descontentamento dos já raros vendedores de passas, atirados mais uma vez para junto do Palácio da justiça, como que a aguardar julgamento. O protesto de um ou outro comerciante da Rua dos Arcos, forçado a encerrar a loja por falta de condições, devido à montagem de barracas, no local onde funcionou durante séculos a feira das passas. Há gente que não respeita nada nem ninguém!
Perante tudo isto e muito mais, a surdez da maioria PS foi total e até agressiva. Eles nunca erram. Os críticos é que estão de má fé, porque querem roubar-lhes os lugares. Então não se está mesmo a ver?!
Foi por causa dos críticos que resolveram transformar o Flecheiro numa hipótese de parque urbano artificialmente acidentado, quando daria -finalmente!- um excelente campo da feira, em conjunto com o terreno camarário do outro lado do Nabão. Mas quem não sabe é como quem não vê, não havendo pior cego do aquele que não quer ver. Os críticos é que são uns malvados. Sempre a atazanar os miolos de quem trabalha o melhor que sabe e pode em prol do concelho! Sobretudo aquele do Tomar a dianteira 3, que não há maneira de ir parar ao inferno!
Então e a feira? "Estamos muito satisfeitos. Foi um sucesso. Vieram milhares de pessoas". Pobre gente! A assistir aos próprio enterro político, sem disso se darem conta. Incluindo a oposição, que em vez de se preocupar com estas coisas singelas do dia a dia, aproveitou a última sessão do executivo para perguntar a quem pertence a tenda do mercado. Valha-nos Deus! A ex-candidata vencida dos social-democratas, nem sequer sabe afinal que foi o laranja Carrão que primeiro alugou e mais tarde comprou a tenda. Que bela cultura geral! Como diria o VPV, igualmente social-democrata -Isto está a ficar cada vez mais perigoso!
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